Tenho uma chance de me livrar dessa prisão

Cheguei na sala e o vestido está pendurado numa arara, ficou lindo, a mulher nos cumprimenta e me leva provar.

— Não demora muito Camila, eu sinto sua falta.

— So o tempo necessário, para colocar o vestido, querido.

A modista toda derretida por nossa conversa fala:

- A nossa, você tem muita sorte, ele está tão apaixonado que não consegue ficar longe de você um minuto. Ele é muito lindo como você conseguiu conquista-lo?

— Você viu que amor? Eu não o conquistei, ele se sentiu conquistado e me arrastou para esse casamento.

-Como assim? Não entendi.

Coloquei a cabeça para fora do quarto e Meide está ao telefone, é minha chance. Deus me ajude a convencê-la que o galã das novelas que ela assiste me sequestrou.

— Senhora, me ajuda, ele me mantém como prisioneira aqui, não quero me casar com ele, sou brasileira e estou sendo mantida aqui contra a minha vontade.

— Você está de brincadeira? Meide nunca faria isso, todas as mulheres do país querem casar com ele.

— Mas eu não quero, ele pegou o meu passaporte e não me deixou ir embora. Ameaçou me levar para o interior do país e não me deixar falar mais com a minha família se eu tentar fugir. Me ajuda, a senhora é minha última esperança.

— Verei como te ajudo, fique calma e vamos trocar de assunto que ele está voltando. Você vai colocar o véu? O senhor quer seu cabelo solto, me lembrei.

— Pois é, não dá para contrariar o senhor Meide, ele é meu amo e senhor.

Ele entra e ouve só o pedaço da conversa.

-O que minha noiva falou de mim? A senhora não acredita em tudo o que ela falou, porque ela está com stress pré-casamento e mente falando que a sequestrei e que está presa aqui, ela está acostumada em outra cultura mas logo vai se adaptar a nossa.

A modista poderia ter me delatado, mas não fez, penso que realmente tenho uma oportunidade.

— Ela não me falou nada disso, acho que se for estresse, então já está passando, senhor Meide.

Ele olhou para mim com aquele vestido e vi nos olhos dele, que ficou excitado.

— Você ficou linda de noiva, não vejo a hora de ter você nos meus braços, minha morena.

— Senhor Meide preciso que o senhor saia, para que a sua noiva tire o vestido.

Ele me deu um beijo na testa e saiu.

— Menina, você não está mentindo para mim, está? Ele parece tão apaixonado.

— Claro que não, sou brasileira e ele está me mantendo aqui contra minha vontade, a paixão dele só está na cabeça dele.

-Vou te ajudar, vou à polícia e denunciarei Meide, mas você tem que dar um jeito de estar trancada no quarto, senão ele dirá que você está só nervosa com o casamento e os policiais vão acreditar nele, lembre-se de que ele é o homem e aqui a palavra dele sempre vai valer mais que a sua. Mas se tudo der errado e você não conseguir fugir diga "não".

— Pode deixar, vou fazê-lo me prender, assim que a senhora sair? Como assim dizer "não".

-Tchau! menina e boa sorte. Diga para o juiz que estiver realizando a cerimônia do seu casamento, "eu não quero me casar" e o juiz não vai casar vocês.

Me deu um abraço e se foi, eu roubarei o celular dele e, quando ele ver, vai me prender no quarto. Fui à sala e sentei perto do Meide, ele passou as mãos nos meus ombros e me beijou, não reagi, preciso que ele ache que estou conformada.

-Sabia que quando você visse o vestido ia entender que somos feitos um para o outro e tudo o que fiz foi por amor a você.

Me controlei para não transparecer minha raiva dele, abri um sorriso e perguntei:

— Meide, tem sorvete?

— Tem, sim, morena. Sei que gosta comprei vários sabores, quer brincar um pouco?

— Traz um pouco para mim? Se tiver sorvete de abacaxi eu quero, e só vamos brincar após o casamento.

-Acho que tem, eu já volto. Lógico tem razão, depois do casamento poderemos fazer o que quisermos.

Fiquei olhando esse turco convencido e pensando onde mando ele socar o sorvete dele, se fosse em outra situação até que chupar sorvete nas dobras do abdômen dele ia ser excitante, mas desse jeito nem quero graça.

Ele me deu um selinho e foi buscar o sorvete. Eu esperei ele entrar na cozinha, peguei o celular que ele largou em cima da mesa e comecei mexer.

Qual será a senha? Ele me chama de morena, será? Bati e bingo, o celular liberou. Comecei a procurar o número da embaixada brasileira, sei que não vai dar tempo de fazer a ligação, mas vou discar. Ele voltou e me viu com o celular na mão, veio, tirou da minha mão e viu que eu tinha discado para a embaixada, desligou e me encarou.

-Achei que você tinha me entendido, e que estava aceitando esse casamento.

-Nunca! Já te avisei que não vou casar com você, continuarei gritando" não" até alguém me escutar.

Me pegou pelo braço, me arrastou para o andar de cima, me fechou no quarto, isso…… Meide fez exatamente o que eu queria.

Fiquei escutando para ouvir a campainha, quando escutei e ouvi ele falando com o policial, comecei a gritar no quarto para me ouvirem, não demorou muito eles abriram a porta e eu comecei a chorar, logo o policial se compadeceu e me tirou do quarto.

-Senhorita, você está aqui contra sua vontade? Recebemos uma denuncia e estamos averiguando.

-Sim, ele me sequestrou, sou brasileira, se vocês puderem me levar na embaixada do Brasil, eu só quero voltar para casa.

 -A senhorita vai ter que nos acompanhar até a delegacia para dar queixa deste homem.

 -Por favor, pede para ele devolver meu passaporte?

 O policial olhou para Meide e esperou ele resolver o problema. Meide ainda tentou conversar.

-Seu policial, isso foi só uma briga de namorados, ela só está nervosa comigo.

Meide tentou pegar o meu braço, eu me afastei e me aproximei do policial. Meide deu sorte que preciso bancar a mulher frágil, senão ele ia ver onde ia enfiar aquela mão.

-O senhor dará explicações na delegacia, por favor, me dê o passaporte da senhorita.

Vi Meide ir até o quarto dele e trazer meu passaporte, entregar para o policial quase chorei de emoção.

Quando já estava no carro da polícia, me deixei relaxar e comecei a chorar. Consegui, agora voltarei para meu país e esse episódio vai ficar no passado.

Cheguei na delegacia, os policiais me levaram para prestar queixa, e me explicaram que se realmente eu der queixa ele ficará preso para esclarecimentos, confirmei que darei queixa e vi ele surtando do lado e querendo vir falar comigo, eu me encolhi como se estivesse com medo e o guarda entrou entre nós dois, me defendendo dele.

-O senhor se acalme, está assustando a moça, levem-no para a cela. Senhorita, pegarei seu depoimento e já avisamos sua embaixada que virá buscá-la e levará para um hotel, onde a senhorita ficará até voltar a seu país.

Me levou até uma cadeira, me mandou sentar e esperar.

Fiquei esperando quase uma hora, veio um homem bem-apessoado, mais alto que o Meide falar comigo.

-Senhorita Camila Rios, certo?

-Sim, sou eu, quem é o senhor?

-Sou Yaman, sou agente do Meide, vim te pedir para não dar queixa dele, ele não fez por mal, ele só queria ficar com você. Meide é um bom homem a senhorita poderia relevar, foi só uma loucura de amor.

-Já acabou? Porque, se já, é melhor sair daqui antes que diga para a polícia que você foi cúmplice e sabia de tudo, aí você provará sua amizade lá na cela com ele.

-Eu só estou tentando ajudar um amigo.

-Pague um advogado para ele, porque quero vê-lo pegando fogo, para que da próxima vez ele conquiste a mulher e não a obrigue a ficar com ele. Ou então case com uma turca que obedecerá às exigências turcas. 

-Bem que ele disse que você é brava.

-Sou brasileira e gosto da minha liberdade, e estou lembrando de uma vez ele ter me dito que tinha um amigo casado com uma brasileira, é você?

-Sim, sou eu. Mas minha esposa é diferente.

-Então, você deveria ter aconselhado seu amigo a me conquistar, não querer me obrigar a ficar com ele. Sua esposa é diferente porque? Você modificou a modificou? Transformou ela em uma turca? Então não sabe o que é ser casado com uma brasileira de verdade.

-Eu tentei, mas ele não me ouviu. E não modifiquei minha esposa, só nos adaptamos para podermos viver aqui no país.

-Então, agora vou embora e ele que se vire com minha acusação. Porque só assim ele entenderá que controle demais pode dar problemas. Eu sei que minha convivência com ele foi pouca para ele me conhecer o suficiente para saber que isso não ia dar certo, mas me sequestrar e me prender em um quarto como se eu fosse um bicho a ser domado, eu não consigo perdoar.

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