Capítulo 4: O Segredo do Coração

Os encontros secretos entre Layla e Henrique tornaram-se a razão de seus dias. A cada nova reunião, o laço entre eles se fortalecia, criando uma conexão que transcendeu as barreiras de seus mundos. Layla frequentemente se perguntava como poderia ser possível que duas criaturas tão diferentes pudessem se entender tão bem, mas a resposta estava nas conversas, nas risadas e nas promessas não ditas que trocavam sob o céu estrelado.

Enquanto Henrique contava histórias sobre seu reino e seus desafios como príncipe, Layla revelava pequenas partes de sua vida no oceano. Falava sobre as belezas do mar, os corais dançantes e as criaturas fascinantes que habitavam suas profundezas. Contudo, sempre que o assunto se aproximava de sua verdadeira identidade, ela hesitava, temendo a reação dele.

Uma noite, enquanto observavam o reflexo da lua nas ondas, Layla percebeu que o silêncio que havia se instalado entre eles era pesado, como se algo estivesse prestes a ser revelado.

— Layla, — começou Henrique, quebrando o silêncio. — Você sempre fala sobre o mar, mas nunca sobre como é ser uma sereia. Você não precisa me contar tudo, mas quero entender melhor quem você é.

O coração de Layla disparou. Era o momento que ela temia, mas sabia que não poderia continuar escondendo partes de si mesma. — Ser uma sereia é... — ela parou, buscando as palavras certas. — É uma bênção e uma maldição. Temos liberdade no mar, mas também muitas regras. E a principal é nunca nos aproximar dos humanos.

Henrique a observava, a expressão dele era de curiosidade e preocupação. — O que mais? Como é viver no fundo do oceano? Você tem amigos? Uma família?

Layla sorriu ao pensar em sua família e nos amigos que fazia longas jornadas pelo mar. — Sim, tenho amigos. Minha melhor amiga é a Mira. Ela é muito divertida e sempre me incentiva a explorar. E minha mãe, a rainha, é muito protetora. Ela sempre me ensinou a evitar os humanos.

— E você acredita nisso? Que devemos evitá-los? — perguntou Henrique, seu olhar intenso fixo em Layla.

Ela hesitou novamente. — É complicado. Acredito que existem humanos bons e ruins, assim como em qualquer lugar. Mas eu não posso ignorar as histórias que ouvimos sobre os humanos. A maioria delas fala sobre como somos vulneráveis e como eles podem nos ferir.

— E você acredita que eu sou um desses humanos? — Henrique questionou, seu tom revelando uma mistura de dor e desafio.

Layla balançou a cabeça. — Não, não é isso. Você é diferente, Henrique. Desde o primeiro momento que te conheci, eu soube que havia algo especial em você. Mas não posso evitar o que fui ensinada. E tenho medo do que isso significa.

A expressão de Henrique tornou-se sombria. — Então você não confia em mim? — ele perguntou, a mágoa clara em sua voz.

— Não é que eu não confie em você. Eu confio em você mais do que deveria. Mas minha vida e meu mundo são muito diferentes dos seus. E há riscos envolvidos.

— Riscos? — Henrique repetiu, sua voz se elevando levemente. — Eu não estou aqui para te machucar. Você sabe disso.

Layla olhou para o chão, angustiada. Não queria que essa conversa criasse uma barreira entre eles. — Eu sei. Mas a vida no mar não é como a vida na terra. Minha mãe nunca permitiria que eu me aproximasse de você. Eu estaria desafiando as tradições, e isso teria consequências terríveis para mim e para o nosso povo.

Henrique se aproximou, tomando a mão dela. O calor de seu toque fez com que Layla se sentisse viva e segura. — Então, vamos encontrar uma maneira de lidar com isso. Se seu mundo é diferente, podemos aprender um com o outro. Podemos encontrar um jeito de ficarmos juntos, mesmo que seja difícil.

Layla queria acreditar nele, mas as vozes de sua mãe ecoavam em sua mente, advertindo-a sobre os perigos de se envolver com um humano. — Eu não sei se isso é possível, Henrique. O que nós temos é especial, mas não posso ignorar o que está em jogo.

Henrique soltou sua mão, sua expressão se tornando sombria. — Então, você vai desistir de nós? — Ele perguntou, a dor evidente em seu tom.

Layla não sabia como responder. O que mais queria era estar com ele, mas a pressão de suas responsabilidades e o medo de desagradar sua mãe a mantinham em dúvida. — Eu... eu só preciso de tempo para pensar.

Henrique respirou fundo, tentando esconder a frustração. — Eu entendo. Mas espero que você não me faça esperar para sempre.

Ele se afastou lentamente, e Layla assistiu seu olhar se afastar, seu coração partido. O peso da decisão que tinha em mãos a fez sentir-se cada vez mais sobrecarregada. Por um lado, havia a oportunidade de um amor que nunca soubera que poderia existir. Por outro, a realidade de sua vida e as consequências de suas escolhas.

Nos dias que se seguiram, Layla estava em um constante turbilhão de emoções. À noite, nadava em direção à superfície, mas sua mente a levava de volta às advertências de sua mãe e à imagem de Henrique, que parecia cada vez mais distante. Ele estava esperando por uma resposta, mas ela não sabia se estava pronta para dar essa resposta.

Uma noite, decidiu que precisava desabafar com Mira. Sua melhor amiga sempre a apoiara e entendia os dilemas do coração. Elas se encontraram em uma enseada escondida, onde a luz do luar dançava nas águas calmas.

— Layla, o que aconteceu? — Mira perguntou, percebendo que algo estava errado. — Você não parece bem.

— É Henrique — respondeu Layla, a angústia visível em seu rosto. — Ele... ele quer que eu escolha entre nosso amor e minha vida no mar. E eu não sei o que fazer.

Mira franziu a testa. — Você realmente ama ele, não é?

Layla assentiu. — Eu nunca senti isso antes. É como se ele fosse parte de mim, mas ao mesmo tempo, tudo isso é tão perigoso. Minha mãe não me deixaria estar com ele, e eu teria que me afastar de tudo o que conheço.

— Mas você tem que pensar em si mesma. O que você quer? — Mira insistiu, pegando as mãos da amiga. — Se você ama Henrique, então deve lutar por isso. Não deixe que o medo a impeça de seguir seu coração.

Layla mordeu o lábio, ponderando sobre as palavras de Mira. A jovem sereia olhou para a superfície da água, onde a lua refletia a luz prateada. — E se eu arruinar tudo? E se minha mãe estiver certa? O amor pode não ser suficiente para nos manter juntos.

— Amor é o que move as pessoas, Layla. Você deve dar uma chance. Se Henrique realmente a ama, ele fará o que for preciso para estar com você — respondeu Mira, sua voz firme. — Não deixe que o medo decida por você.

A ideia de se afastar de Henrique era dolorosa, mas a sugestão de Mira acendeu uma nova chama dentro de Layla. Ela percebeu que não poderia viver com a incerteza. O que tinha com Henrique era único e valioso, e não deveria ser descartado por causa do medo.

Com essa nova determinação, Layla decidiu que precisava conversar com Henrique novamente. O destino que havia traçado para si mesma não poderia ser decidido por outros. Era hora de fazer sua própria escolha, independente das vozes do passado. Se o amor deles era forte o suficiente, eles poderiam encontrar uma maneira de superá-lo.

Assim, Layla começou a planejar o próximo encontro com Henrique. Esperava que, desta vez, as palavras que trocassem não fossem apenas promessas, mas planos concretos para um futuro juntos, não importando quão difícil fosse o caminho à frente.

A expectativa e o nervosismo a acompanharam enquanto ela nadava em direção à praia, o coração pulsando com uma nova esperança. Estava pronta para lutar por Henrique e por seu amor, não importando os desafios que teriam que enfrentar juntos. E assim, a maré mudava, levando Layla em direção ao seu destino, um amor que poderia ser a luz em meio à escuridão que a cercava.

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Ezanira Rodrigues

Ezanira Rodrigues

Ela tem uma escolha difícil nas mãos.

2025-02-26

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