1Capítulo 2: Segredos na Areia

Layla não conseguiu parar de pensar no príncipe humano. O encontro inesperado ainda a assombrava enquanto nadava pelas águas cristalinas de seu reino, muito abaixo da superfície. Sabia que deveria deixar aquele episódio para trás, mas a lembrança dos olhos verdes de Henrique a puxava como a força de uma maré.

Nas profundezas do oceano, onde o brilho do sol se transformava em uma penumbra mágica, Layla tentava seguir sua rotina. O reino submarino era um lugar de esplendor, repleto de corais cintilantes e peixes que nadavam em padrões harmoniosos. O castelo de conchas onde vivia com sua mãe, a Rainha do Mar, era uma estrutura grandiosa, cujas paredes ondulavam com a energia do oceano.

Mas, mesmo com toda aquela beleza ao seu redor, Layla sentia que faltava algo. Estava inquieta. Uma parte de si queria voltar à superfície, onde os humanos viviam suas vidas em um mundo que ela só podia imaginar. E havia Henrique. O príncipe que ela salvou parecia assombrá-la, mesmo quando estava cercada pela tranquilidade do oceano.

— Layla, você está me ouvindo? — A voz da rainha interrompeu seus pensamentos.

Layla piscou, voltando sua atenção para a mãe, que a observava com uma expressão preocupada. A Rainha do Mar, uma figura imponente com longos cabelos azul-escuros e olhos que refletiam a sabedoria de séculos, sabia que algo havia mudado em sua filha. Ela podia sentir.

— Sim, mãe. Desculpe, estava distraída — Layla respondeu, tentando sorrir.

A rainha franziu o cenho. — Você tem estado distante ultimamente. Onde esteve na noite passada? Eu senti sua ausência.

Layla engoliu em seco. Era difícil mentir para a mãe, mas sabia que não podia contar a verdade. O mundo humano era proibido. Aproximar-se deles era perigoso e poderia trazer desgraça ao reino submarino.

— Eu... fui nadar perto dos recifes do norte — respondeu, desviando o olhar.

A rainha estudou o rosto da filha, seus olhos perspicazes avaliando cada expressão. Após um momento de silêncio, ela suspirou.

— Tenha cuidado, Layla. A superfície pode ser atraente, mas os humanos são criaturas imprevisíveis e perigosas. Não se aproxime deles, por mais tentador que seja.

Layla assentiu, mas no fundo, sabia que não conseguia tirar Henrique da cabeça. Assim que a rainha se afastou, ela tomou uma decisão: voltaria à costa. Só mais uma vez, para garantir que o príncipe estava bem. Precisava disso para encontrar paz e seguir em frente.

Naquela mesma tarde, Layla emergiu das águas próximo ao lugar onde havia salvo Henrique. Na forma humana, seus cabelos ruivos transformavam-se em um loiro suave, e sua cauda de escamas brilhantes dava lugar a longas pernas. Sentiu a brisa fria da tarde e caminhou lentamente pela praia deserta, suas pegadas se apagando na areia molhada a cada passo.

A curiosidade a levou para mais perto do vilarejo. Cautelosa, Layla manteve-se escondida entre as pedras, observando de longe. As pessoas se moviam com energia e propósito, falando e rindo em um idioma que ela entendia, mas que parecia tão diferente no ritmo da voz humana. Estava prestes a se virar e voltar ao mar quando uma voz conhecida ecoou pelo ar.

— Olá! — O chamado era suave, mas carregava um tom de surpresa. — Você é... a garota da noite passada, não é?

Layla prendeu a respiração e virou-se lentamente. Henrique estava ali, a poucos metros de distância. Ele parecia melhor, embora ainda houvesse um ar de exaustão em seu rosto. Vestia roupas simples, longe dos trajes reais que um príncipe normalmente usaria, mas mesmo assim, sua presença era imponente. Ele deu alguns passos hesitantes em sua direção, como se temesse que ela fosse desaparecer de novo.

— Como... como você me encontrou? — Layla perguntou, mais para si mesma do que para ele.

Henrique sorriu, um brilho de alívio nos olhos. — Eu não encontrei. Estava caminhando por aqui na esperança de que você aparecesse. Queria agradecer por ter me salvado. — Ele fez uma pausa, procurando as palavras certas. — E queria saber quem você é.

Layla mordeu o lábio, olhando para o mar. Sabia que deveria inventar alguma desculpa, uma história que o afastasse, mas não conseguia. A sinceridade no olhar de Henrique a desarmava.

— Eu... me chamo Layla — disse finalmente, mantendo o nome verdadeiro. — Eu moro em um vilarejo não muito longe daqui.

Henrique deu mais um passo, parecendo relaxar com a resposta. — Layla. É um nome bonito. — Ele a observou por um momento, como se tentasse decifrar um enigma. — Mas você apareceu tão misteriosamente e foi embora tão rápido... Eu achei que fosse um sonho.

Layla soltou uma risada nervosa, tentando disfarçar o nervosismo. — Talvez eu seja apenas alguém que gosta de aparecer e desaparecer, como as marés.

Henrique sorriu, mas seus olhos ainda carregavam curiosidade. — Bem, agradeço por ser uma maré que trouxe algo de bom. Eu estava certo de que não sairia daquele mar vivo. — Ele estendeu a mão, hesitante. — Posso acompanhar você de volta ao seu vilarejo? Gostaria de conhecer mais sobre você... se me permitir.

Layla congelou. A oferta a pegou de surpresa. Se ele a acompanhasse, certamente descobriria que não havia vilarejo algum. Precisava encontrar uma maneira de recusar sem parecer rude. Mas, enquanto pensava, notou a sinceridade no rosto dele. Não era só curiosidade – era gratidão e talvez algo mais. Uma faísca de interesse que poderia levar a algo perigoso, mas tentador.

— Eu... preciso voltar logo — disse ela, olhando para o horizonte. — Minha família deve estar preocupada. Mas podemos nos encontrar aqui, talvez, amanhã?

Henrique assentiu, um sorriso suave no rosto. — Claro. Amanhã, então. — Ele se inclinou ligeiramente, como se quisesse se despedir de forma mais formal, mas acabou apenas acenando de leve.

Layla retribuiu o gesto, sentindo uma estranha sensação de expectativa no ar. À medida que se afastava, podia sentir o olhar de Henrique seguindo cada um de seus passos.

Assim que chegou à beira da água, mergulhou de volta no mar, onde podia finalmente respirar aliviada. Não deveria ter concordado em vê-lo novamente. Era uma má ideia. Mas, mesmo sabendo disso, seu coração acelerou ao pensar no reencontro.

Algo havia mudado. E o que começou como um encontro acidental começava a se transformar em algo muito mais profundo – um segredo compartilhado entre a sereia e o príncipe, envolto nas ondas de um amor que não deveria existir.

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Comments

Ezanira Rodrigues

Ezanira Rodrigues

Como ela era um ser que podia ficar sem a cauda, enquanto estivesse na terra, acredito que ela tinha meios de ter algo para se cobrir quando não estivesse na água.

2025-02-26

0

Enaicaj.

Enaicaj.

só uma curiosidade ela estava vestida de que ou estava pelada? pois geralmente sereia saí do mar pelada segundo as histórias q eu já li. se tava pelada porque ele não estranhou?

2024-10-13

2

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