O Reflexo do Destino

Celeste estava imersa na água quente, sentindo a tensão do corpo se desfazer lentamente. O vapor preenchia o ambiente, criando uma atmosfera abafada e quase onírica, enquanto gotas se acumulavam nas bordas da banheira esculpida em mármore branco. Ela fechou os olhos, permitindo-se um raro momento de tranquilidade em meio à turbulência que era sua mente. O calor da água parecia uma barreira entre ela e o mundo exterior, um pequeno refúgio que há muito não experimentava.

Noctis, como sempre, estava ao seu lado, uma presença constante e confiável. Suas mãos ágeis trabalhavam com a precisão de quem tinha desempenhado aquela tarefa inúmeras vezes. Ele lavava os longos cabelos vermelhos de Celeste, os fios escarlates brilhando como se tivessem absorvido a luz do ambiente. A água quente fazia com que os cabelos parecessem ainda mais vibrantes, como um rio de sangue que fluía para longe. O som suave da água misturava-se ao toque constante dos dedos de Noctis, que massageavam o couro cabeludo de Celeste com uma delicadeza quase reverente.

Ela deixou escapar um suspiro, sua voz suave preenchendo o espaço entre eles. — Como sempre, sua paciência parece infinita. — As palavras foram ditas quase como um murmúrio, carregadas de cansaço e algo mais que ela não conseguia definir. Celeste sabia que Noctis jamais se afastaria. Ele era como uma sombra que a seguia, não importava onde ela estivesse ou quem fosse.

Ele respondeu com a calma de alguém que carregava séculos de experiências compartilhadas. — Não é paciência, minha senhorita, é fidelidade. Uma alma não se cansa de seguir seu destino, desde que o pacto seja cumprido. — Sua voz era serena, mas havia um peso subjacente nela, como se ele estivesse reafirmando algo que já fora dito inúmeras vezes.

Celeste abriu os olhos lentamente, mirando o reflexo distorcido de seu rosto na superfície ondulante da água. A familiaridade daquele momento — o banho, a presença de Noctis — fazia com que a sensação de ser "Celeste" não fosse tão estranha, apesar da constante presença de Viana sob a superfície. Ela sorriu para si mesma, um sorriso tênue, misturando melancolia e a certeza de quem, por séculos, aprendeu a se manter à parte.

— Sim, o destino… Sempre nos leva a ele, não importa onde ou quem sejamos. — Sua voz soou mais firme desta vez, como se estivesse reafirmando uma verdade que ambos conheciam bem.

Noctis permaneceu em silêncio por um momento, seus dedos deslizando suavemente pelos cabelos de Celeste. O gesto era tão simples, mas carregado de uma intimidade que transcendia palavras. A conexão entre eles era quase palpável, um vínculo forjado por um pacto que ultrapassava vidas e reencarnações. Ele era seu guardião, seu confidente e, de certa forma, o único elo constante em uma existência marcada por mudanças.

Após alguns minutos, Noctis retirou as toalhas preparadas e começou a secar os cabelos de Celeste. Os fios, ainda úmidos, caíam como cascatas sobre seus ombros, e ele os secava com a precisão de quem já fizera aquilo centenas de vezes. Cada movimento era cuidadoso, quase ritualístico, como se ele estivesse honrando um compromisso silencioso.

— A senhora já se decidiu? — perguntou ele, interrompendo o silêncio com sua voz calma. Ele se afastou ligeiramente, guardando a toalha enquanto seus olhos dourados refletiam uma leve preocupação. — O almoço será na sala principal ou prefere no quarto?

Celeste inclinou a cabeça, pensativa. Ela gostava de seus momentos de isolamento, onde poderia planejar sem interrupções. — Eu vou almoçar aqui. Há muitas coisas em minha mente hoje, e preciso anotá-las. — Sua resposta foi direta, mas havia uma suavidade na forma como ela falava com Noctis, um resquício de confiança construída ao longo de tantas vidas.

Com um aceno de cabeça, Noctis foi até o guarda-roupa e começou a selecionar um vestido. Ele o trouxe com cuidado, uma peça delicada que exalava elegância sem esforço. O vestido era de um tom profundo de esmeralda, com detalhes dourados elaborados nos punhos e no decote em "V", que refletiam suavemente à luz. O tecido parecia elegante e fluido, ajustando-se ao corpo com drapeados que acentuavam a silhueta. O caimento harmonioso permitia movimentos graciosos, sem perder a imponência aristocrática.

— Acho que este será adequado. — disse ele, estendendo o vestido para Celeste.

Ela olhou para ele com um sorriso enigmático, como se avaliasse não apenas o vestido, mas as intenções por trás da escolha. Com um movimento fluido, ela se levantou da banheira, secou-se e permitiu que ele a ajudasse a vestir o traje. Noctis cuidou de cada detalhe, ajustando o vestido com precisão enquanto ela permanecia imóvel, observando-o com uma atenção distante.

Quando terminou, Noctis pegou uma escova e começou a arrumar seus cabelos, suas mãos habilidosas criando ondas suaves que caíam de forma natural sobre seus ombros. Era um trabalho minucioso, feito com o cuidado de quem já conhecia cada fio daqueles cabelos. Ele sabia que a aparência de Celeste era uma arma poderosa, um reflexo da imponência que ela precisava projetar para o mundo.

Ao final, ele se afastou, permitindo que Celeste se observasse no espelho. Sua figura era impecável, uma visão de graça e autoridade. Noctis fez uma reverência, sua voz impregnada de respeito. — Perfeita, como sempre.

Celeste encarou seu reflexo por um momento, os olhos vermelhos brilhando com uma chama de satisfação. Por fora, ela era a imagem da perfeição, mas sabia que o verdadeiro poder residia nos pensamentos que fervilhavam em sua mente. Com um leve aceno, ela se dirigiu à mesa, onde um pequeno caderno já a esperava.

— Obrigada, Noctis. Pode trazer o almoço e, logo após, me deixe sozinha por um momento. Tenho que me concentrar.

Noctis fez uma reverência e, com a discrição que lhe era característica, retirou-se para buscar a comida. Celeste se sentou à mesa, pegando a pena com dedos delicados. A tinta negra formava palavras precisas no papel enquanto ela começava a anotar seus pensamentos, organizando suas ideias para o que estava por vir.

Enquanto escrevia, seus olhos se erguiam ocasionalmente, como se vissem algo além das palavras no papel. Ela sabia que a Grande Caça estava se aproximando, um evento repleto de perigos e intrigas que poderiam ser tanto uma oportunidade quanto um risco. Sua mente analisava as possibilidades com a frieza de alguém que há muito deixara de temer o imprevisível.

— Seria isso mais uma peça do destino? — murmurou para si mesma, uma leve curva em seus lábios indicando diversão. Ela sabia que a diversão era escassa em sua vida, mas ainda assim, precisava de algo para prender sua atenção. Se fosse algo grandioso, poderia ser interessante participar. Caso contrário, não hesitaria em acelerar seus planos de vingança e desaparecer para um lugar onde pudesse finalmente experimentar a monotonia da paz.

Noctis retornou pouco tempo depois, trazendo uma bandeja com pratos meticulosamente preparados. Ele colocou a comida sobre a mesa com a mesma elegância de sempre, seus movimentos quase coreografados. Celeste agradeceu com um aceno, mas não iniciou a refeição imediatamente. Sua mente ainda estava imersa em pensamentos, planejando suas próximas ações.

Depois que Noctis saiu, ela continuou a escrever, suas anotações se tornando cada vez mais detalhadas. A pena movia-se rapidamente sobre o papel, deixando um rastro de ideias que poderiam moldar os eventos vindouros. Ela sabia que o tempo era tanto seu aliado quanto seu inimigo, e cada decisão precisava ser cuidadosamente calculada.

O silêncio no quarto era absoluto, interrompido apenas pelo som suave da pena contra o papel. Celeste levantou os olhos mais uma vez, olhando pela janela que dava para os jardins do castelo. A luz do sol filtrava-se pelas cortinas, criando padrões dançantes no chão de pedra. Era um momento de calma antes da tempestade, e ela sabia que precisava aproveitar ao máximo.

— O destino pode ser uma faca de dois gumes, mas sou eu quem decide onde ele corta. — Suas palavras foram ditas em voz baixa, mas carregadas de determinação.

Celeste sabia que o dia seria longo e agitadamente chato, mas estava preparada. Ela era mais do que uma simples reencarnação, mais do que uma figura de beleza e graça. Ela era Viana Scarlett e muitos outros nomes, cujo já havia feito história, e independentemente das peças que o destino tentasse lhe impor, ela quem o ditaria.

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Atualizado até capítulo 56

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