Aethoria

Viana seguiu seu caminho até a biblioteca da casa, um espaço amplo e silencioso, repleto de prateleiras repletas de livros antigos e volumes empoeirados. Por sorte, o lugar parecia vazio, o que proporcionava a ela a privacidade que precisava para se concentrar.

— Noctis, confere se o lugar está vazio mesmo — pediu Viana, enquanto observava as estantes.

Noctis, que parecia fundir-se com as sombras, percorreu o espaço em um piscar de olhos e retornou com um aceno de cabeça.

— Completamente vazio... Deveria haver pelo menos um empregado aqui, não? — comentou, um tanto intrigado.

— Bem, talvez não haja tanta necessidade... Enfim, ajude-me a encontrar livros sobre leis políticas e etiqueta imperial — disse Viana, decidida.

Logo, os dois começaram a explorar as prateleiras. Viana rapidamente se deparou com vários títulos relevantes, enquanto Noctis, por sua vez, parecia mais preocupado em carregar os livros que ela escolhia do que procurar por conta própria.

— Pelo visto, temos uma abundância de livros sobre a história do império — observou ela, olhando os títulos.

Caminhando até um canto da biblioteca, Viana encontrou uma pequena mesa e uma almofada que lembrava um futon. Sentou-se, organizou alguns livros ao seu lado e se virou para Noctis.

— Coloque esses livros aqui. Agora, irei demorar um pouco, então, se puder trazer uma água, eu agradeço. E quanto ao almoço, avise ao mordomo que comerei à mesa com os outros.

Noctis sorriu de canto, a familiaridade entre eles evidente.

— Como desejar, minha senhora — respondeu, antes de se afastar para atender ao pedido.

Viana então começou a ler. Pegou um livro sobre a história do império e ficou surpresa ao notar que seu nome era frequentemente mencionado. Era um reconhecimento que, embora merecido, carregava um peso diferente. Sua ajuda na formação do império fora fundamental, mas suas motivações pessoais eram complexas e multifacetadas.

Enquanto lia, as palavras começaram a desenhar uma imagem vívida de sua trajetória:

A história do Império de Aethoria, que se consolidou como uma das potências mais influentes do mundo, não pode ser contada sem mencionar Viana, a Feiticeira Vermelha. Sua ascensão não se deu apenas por meio de habilidades mágicas, mas também através de astutas manobras políticas que moldaram os alicerces do império atual.

No início do século passado, Aethoria estava em um estado de fragmentação. Diversos clãs lutavam pelo controle territorial, e a falta de um governo centralizado resultava em conflitos constantes. A ineficácia dos líderes da época criou um vácuo de poder, permitindo que indivíduos ambiciosos se destacassem. Foi nesse contexto que Viana começou a traçar seu caminho.

Desde sua juventude, Viana se destacou por sua inteligência e habilidades mágicas. Ela compreendia que a magia poderia ser uma ferramenta poderosa para unir os povos, mas também reconhecia a importância da política. Com o intuito de criar alianças, iniciou um diálogo com líderes de clãs rivais, oferecendo proteção mágica em troca de apoio político. Esse movimento inicial foi fundamental para estabelecer um clima de confiança e colaboração.

Um dos feitos mais notáveis de Viana foi sua intervenção durante a Crise das Fronteiras, um conflito que ameaçava a integridade do império. Clãs vizinhos entraram em guerra por recursos escassos, e a possibilidade de uma guerra total era iminente. Viana, ao perceber a gravidade da situação, organizou uma cúpula entre os líderes em sua Torre de Magos. Essa reunião, marcada por debates acalorados, resultou em um tratado de paz histórico que não apenas pôs fim ao conflito, mas também estabeleceu normas de cooperação entre os clãs.

O sucesso dessa cúpula consolidou a reputação de Viana como uma mediadora eficaz e estratégica. Sua influência cresceu, e com ela, a ideia de um império unificado começou a ganhar força. A partir desse momento, sua imagem se entrelaçou com a narrativa do império, tornando-se uma figura central na formação de sua identidade.

Viana não se limitou a negociações diplomáticas; ela também compreendeu a importância de fortalecer as estruturas de governo. Com sua ascensão ao controle da Torre de Magos, começou a implementar reformas que integravam a magia nas instituições do império. A criação de um corpo de magos conselheiros foi um passo crucial, garantindo que a magia não fosse apenas uma ferramenta de poder, mas também um recurso para o bem-estar do povo.

O legado de Viana perdurou mesmo após sua morte. Seu legado de união e diplomacia ainda ressoa nas práticas políticas atuais do império. Os líderes contemporâneos frequentemente se referem a ela como um modelo de governança, utilizando suas táticas de negociação e mediação como referência.

“Que estranho ler sobre mim mesma em um livro...” pensou Viana, um sorriso leve surgindo em seu rosto. Embora a narrativa fosse lisonjeira, ela não pôde deixar de se questionar sobre a verdadeira essência de suas ações. Mas logo voltou a se concentrar na leitura, absorvendo cada detalhe.

Depois de algum tempo, Noctis apareceu novamente, trazendo uma água, papel e caneta. Ele cuidadosamente colocou os itens sobre a mesa e encheu o copo de Viana.

— Sei que logo vai querer anotar alguma coisa, aqui está sua água, mestre — disse ele, sempre atento.

Viana apenas agradeceu, mantendo o foco no livro. Pegou o copo, deu um gole longo e o colocou de volta sobre a mesa, sua mente ainda mergulhada nas páginas.

Noctis permaneceu ao seu lado, respeitando seu silêncio, mas atento a qualquer necessidade. O ambiente estava calmo, a única interrupção sendo o suave farfalhar das páginas viradas.

Certa hora, batidas firmes ecoaram na grande porta da biblioteca. Noctis se levantou e foi até a entrada, abrindo-a com um gesto discreto.

— Sim? — perguntou ele, mantendo a formalidade.

— Senhorita Anna, o almoço será servido em cinco minutos — informou o mordomo, inclinando-se levemente.

— Certo, obrigada pelo aviso — respondeu Noctis, observando o mordomo sair antes de retornar à mesa.

Ele se aproximou de Viana, que continuava absorta na leitura.

— O almoço está quase pronto — disse Noctis, com um tom suave.

Viana olhou para cima, os olhos brilhando com uma combinação de concentração e gratidão.

— Ótimo. Assim que eu terminar este capítulo, irei. Quero garantir que estou bem preparada para a mesa — respondeu ela, já pensando nas discussões que poderiam surgir durante o almoço.

— Estou aqui para ajudá-la com o que precisar, sempre — disse Noctis, antes de se afastar um pouco para dar espaço, mas mantendo-se próximo, atento a qualquer chamado.

Viana voltou a mergulhar em sua leitura, a mente fervilhando com ideias e reflexões. O império era um lugar complexo, e sua própria posição nele era, sem dúvida, repleta de nuances. Ela sabia que a sabedoria e a estratégia eram essenciais para navegar pelas águas turbulentas da política.

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