Por um momento, Viana estava imersa em um estado de semiconsciência. Os limites entre os sonhos e a realidade começavam a se desfocar, e, lentamente, uma voz distante se infiltrou em sua mente, chamando por ela. Era uma súplica que parecia vir de muito longe, mas com uma urgência crescente, como se a voz de alguém precisasse ser ouvida a qualquer custo.
"Por favor... Por favor..." O pedido ecoava, suave, mas desesperado.
"Me deixe dormir, eu tô cansada..." Viana diz, voz se arrastava, carregada de exaustão.
Mas havia algo mais, algo que não podia ser ignorado. "POR FAVOR, ME ESCUTA!!!" Agora, a súplica era clara e direta, uma demanda que cortava a névoa que envolvia sua mente. Seus olhos se abriram lentamente, e o ambiente ao redor dela começou a tomar forma. A visão, ainda turva, focou em uma figura misteriosa à sua frente.
Ela não era humana. Ou, ao menos, não parecia. Seus cabelos e olhos eram vermelhos como fogo, a luz que emanava dela estava quase hipnotizante. Era como se ela fosse uma visão, algo fugaz e efêmero, mas ao mesmo tempo real. O reflexo de sua própria aparência, apenas distorcido, quase como um espelho quebrado. Algo familiar, mas diferente.
Viana sentiu seu corpo se mover automaticamente em resposta à figura. Suas palavras saíram quase sem querer, um murmúrio de confusão:
— "Eu...?"
A mulher diante dela parecia ansiosa, desesperada. Ela se aproximou de Viana, e, ao tocar suas mãos com firmeza, o calor daquela presença parecia incendiar a própria essência de Viana, fazendo com que suas palavras escapassem de sua garganta sem qualquer controle. A mulher chorava, lágrimas vermelhas, como se o próprio sangue se convertesse em lamento.
— "Por favor... Não viva como eu," ela implorou, sua voz quebrada por uma dor que transcendia o tempo. "Mostre a eles que não sou uma inútil... Ao menos faça isso por mim, pois eu não consegui."
Viana sentiu uma onda de memórias, de imagens, de sensações que não eram suas, mas que começaram a invadir sua mente. As memórias da verdadeira Celeste, a mulher cujo corpo ela agora habitava, começavam a se infiltrar, e o turbilhão de informações a sobrecarregava. Cada fragmento de vida, de dor, de frustração, de limitações que Celeste havia vivido estava agora se tornando uma parte de Viana também.
— "O segundo príncipe... Ele não deve ser Imperador... Jamais! Não deixe eles casarem você com ele!" a figura continuou, sua voz um grito desesperado.
Foi como se uma avalanche de informações tivesse explodido na mente de Viana, e, com um suspiro assustado, ela acordou do transe, ainda assustada com a intensidade da experiência. Seu coração batia forte, e ela levou alguns segundos para se recompor.
— "A-ah... O que foi isso...?" Ela sussurrou, mais para si mesma, tentando entender o que havia acabado de acontecer.
Durante todos os séculos em que havia mudado de corpo e identidade, nunca antes havia ocorrido algo assim. Nenhuma alma havia se comunicado com ela enquanto estava em um novo corpo. Nunca uma alma tinha reclamado da posse de seu corpo de forma tão intensa e clara. Era como se algo dentro dela estivesse prestes a quebrar um ciclo que durava milênios.
Ela se sentou na cama e olhou ao redor. A comida estava ali, ao lado dela. Com um gesto automático, Viana pegou a água e bebeu, depois começou a comer, mas seus olhos estavam distantes, seu corpo ainda se recuperando do turbilhão de emoções e informações. O relógio nas paredes do quarto dizia que já estava escuro. Não sabia quantas horas haviam se passado, nem mesmo quanto tempo se dera ao descanso. Apenas sabia que algo havia mudado.
Por fim, decidiu chamar Noctis, seu confidente e protetor, que sempre estivera ao seu lado em todas as suas vidas, em todas as reencarnações.
— "Noctis..." sussurrou, e sua voz reverberou no silêncio do quarto. Assim que o nome escapou de seus lábios, as sombras se moveram, e, do canto mais escuro do quarto, uma figura alta e imponente apareceu. Noctis.
Ele era uma presença poderosa, e, embora seus olhos dourados brilhavam mesmo na escuridão, ele não era apenas uma sombra. Ele tinha uma aura de força, sua altura era impressionante, e seus cabelos negros, como a escuridão, caíam levemente sobre seu rosto. Sua voz profunda ecoou com suavidade.
— "Minha senhora... Pensei que não iria me chamar."
Viana o observou com um olhar de curiosidade e cansaço. Ela sentia o peso de tudo o que havia acontecido de forma diferente de suas outras reencarnações.
Noctis se aproximou, seus passos silenciosos e firmes, e pegou sua mão com uma leveza que, mesmo em sua força, era cheia de carinho e devoção.
— "Estava com saudade por acaso?" perguntou Viana, com um tom de brincadeira.
Ele olhou-a com um sorriso leve, mas seu olhar se manteve firme, como se quisesse mostrar que o cuidado que tinha por ela nunca se desfez.
—"Tsk! Não fale bobagens..." Ela se afasta se sentando sobre a penteadeira enquanto olhava para noctis através do espelho espelho
— "Sabe que vivo por você, minha mestre." Ele disse com a seriedade de sempre, deixando claro o vínculo que os unia.
Noctis, como sempre, se aproximou dela e pegou uma escova. Com movimentos experientes e gentis, começou a pentear seus cabelos vermelhos. Aquelas mãos que haviam estado com ela por séculos, através de várias encarnações, pareciam confortá-la de uma maneira que nenhum outro poderia.
— "Sempre esse vermelho fascinante", ele murmurou. "É uma pena que agora você pareça tão frágil. Prefere ficar nessa aparência?"
De repente, a imagem de Viana no espelho, refletindo sua forma antiga, apareceu diante dela. Aquela mulher poderosa e temível que havia sido tantas vezes no passado, com seus cabelos vermelhos e olhos flamejantes. Uma força indomável.
A sua eu, cujo tudo que almejava era caos e destruição no entanto, agora, ela não se sentia assim. Ela se sentia… fraca, como o corpo que agora habitava.
— "Pare com isso", ela disse, desviando o olhar do espelho. "Quer que eu destrua o mundo como antigamente também? Minha destruição corroeu você completamente?"
Noctis deu um sorriso contido e se deu por vencido. Ele sabia que ela estava lidando com mais do que apenas o corpo atual. Havia algo novo, algo que ela não poderia prever.
— "Vai dizer que assim eu não o encanto?" ela provocou, um sorriso quase imperceptível brincando em seus lábios. "No fim, eu sempre estou com cabelos vermelhos, não é?"
Ele suspirou, rindo baixo, e, por um momento, a seriedade se dissolveu. Noctis terminou de prender seus cabelos de forma simples, e o silêncio entre os dois se fez mais confortável.
— "São por volta de cinco da manhã", ele comentou, já começando a pensar em seus próximos passos. "Logo pela manhã, entrarei na mansão e trabalharei como seu empregado pessoal. Já planejei tudo."
Ela arqueou uma sobrancelha, olhando-o com um misto de ceticismo e divertimento.
— "Que inapropriado, trabalhando para uma donzela, um homem?" Ela suspirou, quase como se a ideia de depender de alguém a incomodasse. "Acho difícil que deixem."
Noctis sorriu, não se deixando abalar pela sua atitude.
— "Não se preocupe. Apenas relaxe e eu cuidarei de tudo. Enfim eu não acredito que tenha morrido por aquilo. Vai se vingar? Pelo que senti, avançamos uns trezentos anos depois." Ele disse, seu tom se tornando mais sério. As palavras de Noctis não passavam despercebidas. Ele sentia o peso da história, as memórias se entrelaçando com as de Viana.
Ela olhou para ele, suas palavras se tornando mais sombrias, como se uma nuvem de incerteza pairasse sobre seu coração. O que havia mudado? Ela sentia que algo estava prestes a acontecer, algo que talvez quebraria o ciclo eterno em que havia estado por tanto tempo, mas não sabia se era isso que queria.
— "Você viu? A alma desse corpo... Ela se comunicou comigo", Viana disse, sua voz mais baixa, como se ainda estivesse processando tudo o que acontecera. "Isso nunca havia acontecido... As almas geralmente perdem a memória de quem foram...
Noctis permaneceu em silêncio por um momento, absorvendo as palavras dela e o peso das implicações. Algo maior estava em jogo, algo que os envolvia a ambos. Ele sabia que a resposta a essa questão seria mais difícil do que qualquer desafio que haviam enfrentado antes.
— "Eu não sei porque isso aconteceu... Mas ou é algo que tinha nela ou tem algum propósito...", respondeu ele finalmente, sua voz suave, mas cheia de convicção. "Mas se você está prestes a quebrar o ciclo... Precisa rever seus passos..."
"Me deixe um pouco só por favor" Ela fala seguido de um suspiro e logo Noctis assente desaparecendo sobre o escuro daqueles madrugada.
imagem extra de como era a Viana
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Atualizado até capítulo 57
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