Sob a luz da lua

A carruagem avançava pelas ruas escuras e silenciosas em direção à mansão, o barulho das rodas ecoando suavemente. Dentro, Celeste observava a noite pela janela, as luzes das poucas lanternas ao longo do caminho iluminando o rosto dela de forma intermitente. Ao seu lado, Noctis parecia relaxado, embora seus olhos seguissem atentos cada detalhe ao redor.

— A noite tem estado mais agitada do que o normal — comentou Celeste, em um tom casual, como se falasse sobre o clima.

— De fato. Rumores do príncipe e nobres conspirando, e você no centro de tudo — respondeu Noctis com uma leve ironia. — Embora eu prefira a paz, me sinto honrado em acompanhá-la, minha senhora.

Celeste esboçou um sorriso quase imperceptível, mas antes que pudesse responder, um tranco abrupto interrompeu a viagem, fazendo ambos se segurarem.

— Parece que a carruagem está com problemas — murmurou Noctis, se inclinando para olhar pela janela.

Do lado de fora, o cocheiro tentava controlar os cavalos, que se moviam inquietos enquanto o veículo tremia. Celeste suspirou, pronta para descer e entender o problema, mas antes que pudesse agir, ouviu o som de cascos ao longe.

Em meio à escuridão, figuras a cavalo se aproximavam, lideradas por um jovem de aparência marcante. Ele tinha cabelos negros que caíam levemente sobre os olhos azuis intensos, como se refletissem o céu noturno. Vestido em uma armadura leve, ele carregava uma postura nobre, embora sua expressão fosse amistosa. Com um gesto rápido, ele parou seu cavalo próximo à carruagem.

— Parece que estão com dificuldades — disse ele, o tom de voz suave, mas cheio de segurança. — Posso oferecer ajuda?

Celeste e Noctis se entreolharam rapidamente antes que ela decidisse responder, descendo da carruagem com calma. Ela manteve o capuz baixo, ocultando parte de seu rosto enquanto examinava o estranho.

— Agradecemos pela oferta, senhor…? — disse ela, deixando a pergunta no ar.

O jovem sorriu, inclinando levemente a cabeça em uma reverência cortês.

— Lucien. Capitão Lucien Leclair, à disposição de minha senhora — respondeu ele, sua voz carregando um toque de charme, mas sem exagero. — Estou a serviço na região e vi sua carruagem parada. Por sorte, minha cavalaria está comigo. Podemos levá-los até um local seguro, caso desejem.

Celeste avaliou a situação rapidamente, notando a postura firme, mas respeitosa de Lucien. Havia algo intrigante na forma como ele a observava, um olhar que indicava uma percepção além do comum.

— Lucien Leclair... — repetiu ela, com um leve sorriso. — Será um prazer aceitar sua ajuda, estou indo para a mansão do Duque Ceyfor.

Noctis desceu da carruagem com um olhar discreto para o capitão, embora estivesse em alerta. Ele seguiu ao lado de Celeste enquanto Lucien organizava sua cavalaria para escoltá-los. Com uma destreza ágil, o capitão estendeu a mão para ajudar Celeste a subir em um de seus cavalos.

Ela aceitou o gesto com uma leve inclinação de cabeça, e em pouco tempo, a pequena comitiva seguia caminho, Lucien galopando ao lado de Celeste, trocando com ela um ou outro olhar curioso.

— Não é comum ver nobres viajando por essas partes durante a noite — comentou ele casualmente. — Espero que não tenham encontrado nenhum problema… além, é claro, da carruagem.

Celeste manteve o olhar no caminho à frente, mas um leve sorriso surgiu no canto de seus lábios.

— Podemos dizer que a noite nos reservou algumas surpresas. — A resposta era vaga, mas o tom deixava claro que ela preferia não entrar em detalhes.

Lucien assentiu, respeitando a resposta, mas não sem uma centelha de curiosidade em seus olhos.

A lua iluminava a estrada e, por um instante, Lucien olhou para Celeste, a luz revelando brevemente seu rosto sob o capuz. Algo em seu olhar parecia reconhecer um traço de mistério nela, mas ele nada disse, apenas manteve sua postura amigável.

[•••]

A comitiva avançava pela estrada, o grupo de cavaleiros mantendo-se organizado e discreto. Celeste, com destreza natural, assumiu o controle das rédeas do cavalo como se já fosse algo familiar para ela. Lucien a observava com surpresa, não esperando que uma dama nobre e reservada montasse com tamanha confiança. Ele mantinha o olhar atento, intrigado e admirado pela postura firme e a maneira como ela se adaptava ao cavalo com tamanha facilidade.

Celeste que apenas acompanhava calmamente, estava com a mente vaga e algo veio em mente, Celeste se lembrou como costumava a andar a cavalo em sua vida passada; Então com um movimento ágil, Celeste incitou o cavalo a trotar mais rápido, e foi então que o capuz de seu manto caiu, revelando seus longos cabelos vermelhos que, soltos, caíam em cascata ao vento. A luz da lua realçava a intensidade daquela cor flamejante, e a expressão suave e nostálgica em seu rosto destacava ainda mais sua beleza, um contraste entre o poder e a serenidade que emanavam dela.

Lucien ficou surpreso, quase se esquecendo de onde estava enquanto a observava. Havia algo fascinante e cativante nela, uma beleza que não era apenas externa, mas parecia envolver uma história profunda e complexa. Ele não conseguia desviar o olhar, impressionado pela intensidade da imagem à sua frente, a dama misteriosa cavalgando sob a noite.

Celeste, por sua vez, mal notava os olhares. Ela se perdia nas lembranças, sentindo a nostalgia daquela sensação familiar. A liberdade do vento, o ritmo das passadas do cavalo sob si... Aquilo a fazia lembrar de uma época distante, quando andar a cavalo era uma extensão de si mesma e do poder que exercia sobre as terras de Aethoria. Sentiu-se, por um breve instante, como a antiga Viana, mas agora carregando a serenidade e os aprendizados que vinham com os séculos passados.

Lucien, ainda impressionado, cavalgou mais próximo dela, os olhos atentos e uma leve expressão de fascínio.

— Parece que a senhora tem mais habilidades do que deixa transparecer — comentou ele, tentando manter o tom leve, mas com um toque de admiração evidente.

Celeste desviou o olhar da estrada e lançou um sorriso sutil em sua direção.

— Algumas coisas não se esquecem, capitão. — Havia uma profundidade em sua voz, como se cada palavra carregasse uma lembrança oculta.

Eles seguiram juntos, com Lucien cada vez mais intrigado com a misteriosa mulher ao seu lado e Celeste envolta na sensação de liberdade, perdida nas lembranças que aquele momento simples a trouxera de volta.

Enquanto cavalgaram, a estrada começou a desaparecer entre as sombras da floresta, e o som dos cascos dos cavalos ecoava suavemente no ar noturno. Lucien mantinha-se próximo a Celeste, sua expressão alternando entre curiosidade e fascínio. Já Noctis, que acompanhava um pouco mais atrás, observava o jovem capitão com um olhar ligeiramente avaliador.

Aquela sensação de liberdade ainda estava presente em Celeste, mas sua mente logo começou a voltar à realidade, especialmente ao notar a expressão impressionada de Lucien, que continuava observando-a discretamente.

— Capitão Lucien — ela chamou, quebrando o breve silêncio entre eles. — Imagino que não esperava encontrar uma dama com um gosto por cavalgar, correto?

Lucien sorriu, tentando disfarçar o leve embaraço que sentia ao ser pego admirando-a. Ele assentiu, mantendo a compostura.

— Confesso que não, milady. É raro encontrar alguém de… — Ele hesitou, escolhendo as palavras com cuidado. — Sua posição, que monte com tamanha habilidade e naturalidade. Parece até que o cavalo a reconhece.

Celeste esboçou um sorriso breve, mas seus olhos guardavam um toque de nostalgia.

— Talvez montar era uma de minhas obrigações… Em outra vida e também um dos meus prazeres. Sinto como se eu tivesse feito isso a muito tempo...

Lucien a ouviu em silêncio, absorvendo suas palavras como quem ouve confidências raras. Havia algo nela que era ao mesmo tempo enigmático e atraente, algo que parecia desafiar todas as convenções e despertar um misto de respeito e curiosidade.

Eles continuaram em um trote leve por alguns minutos até que Noctis se aproximou mais, com um sorriso discreto no rosto.

— Milady, com o devido respeito, foi uma surpresa para mim também vê-la montando tão bem. Eu quase senti que estávamos voltando no tempo — comentou ele com um toque de brincadeira, mas com uma percepção aguçada do humor de Celeste.

Ela lançou um olhar significativo para Noctis, reconhecendo a alusão. Mesmo após séculos, Noctis parecia compreender cada gesto, cada nuance dela, como se fossem aliados silenciosos e eternos.

— Alguns hábitos não desaparecem facilmente, Noctis. Você devia saber disso melhor do que ninguém — respondeu Celeste, um brilho levemente desafiador em seu olhar.

Lucien observava a interação com interesse, sem saber ao certo o que aquilo significava. Ele sentiu-se, de certa forma, um intruso em uma conversa entre pessoas que compartilhavam um passado complexo, um passado que ele mal poderia imaginar.

Enquanto continuavam o trajeto, Lucien finalmente quebrou o silêncio, querendo entender um pouco mais da mulher ao seu lado.

Ele estava a ponto de continuar a conversa quando a mansão do Grão-Duque surgiu ao longe, seus contornos iluminados pelas luzes dos postes e pelo brilho suave da lua.

— Parece que chegamos, milady — anunciou ele, levemente desapontado por terem alcançado o destino tão rápido.

Celeste lançou um último olhar ao capitão, com um meio sorriso que parecia guardar segredos profundos.

— Agradeço a gentileza, capitão. Nossa jornada foi mais… interessante do que eu esperava, obrigado por nos trazer até aqui — disse ela, antes de descer do cavalo com a leveza e a elegância de quem há muito estava habituada àquilo.

Enquanto ela e Noctis seguiam para a entrada da mansão, Lucien observou-a partir, sentindo-se cativado e, ao mesmo tempo, desafiado.

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Atualizado até capítulo 56

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