Reencontro

O som dos passos de Celeste ecoava suavemente pelos corredores de mármore da mansão Voss. Havia uma inquietação em seu andar, uma energia que parecia contradizer a serenidade calculada que ela exalava. Noctis seguia logo atrás, sua presença silenciosa e constante como a sombra de um guardião. A luz matinal que atravessava as janelas altas pintava padrões no chão, mas nem a beleza daquele cenário era suficiente para distrair Celeste de seus pensamentos, havia muito o que fazer e agora que haveria o baile teria ainda mais coisas do que fazer.

Enquanto se dirigia aos estábulos, começando pelo primeiro passo de seus planos para a Grande Caça, ela foi forçada a parar abruptamente ao virar um dos corredores principais.

Ali, encostado de forma casual contra a parede, estava Elys Voss, o irmão mais velho de Celeste. Ele parecia estar esperando por alguém, mas o leve erguer de sua sobrancelha dourada ao vê-la deixou claro que não esperava encontrar sua irmã ali.

Seus olhos vermelhos, intensos e penetrantes, a estudaram com a mesma surpresa que ela sentia, embora Celeste mantivesse a compostura. Elys parecia sempre exalar uma aura de poder e liberdade, algo que fazia jus à sua reputação como um aventureiro independente.

Por um instante, ambos ficaram parados, um confronto silencioso de emoções conflitantes. Para Celeste , aquele era um lembrete breve de que ela habitava o corpo de uma jovem que já não existia mais. A verdadeira Celeste e Elys compartilhavam um laço único, um vínculo que ia além das formalidades da nobreza ou do sangue. Era uma amizade genuína, construída com confiança e companheirismo — algo que ela jamais poderia replicar.

— Celeste? — A voz de Elys quebrou o silêncio, carregada com uma mistura de surpresa e alívio.

Celeste ergueu o queixo, escondendo qualquer traço de hesitação.

— Elys — respondeu, sua voz firme e controlada.

Ele descruzou os braços e se afastou da parede, caminhando em direção a ela com passos largos e confiantes. A luz que atravessava o corredor parecia iluminar cada detalhe de sua presença imponente — os cabelos loiros emoldurando um rosto marcado pela experiência e o porte atlético de um homem acostumado à ação.

— Não me diga que estou sonhando. Você realmente saiu do quarto? — Ele abriu um sorriso descontraído, mas o tom em sua voz indicava que a surpresa era genuína.

Celeste o encarou com um semblante neutro, mas por dentro sentiu o peso das expectativas que ele carregava. Logo então abriu um sorriso, falso.

— Surpreso?

— Para dizer o mínimo. — Ele cruzou os braços, parando a poucos passos dela. Seus olhos continuavam a analisá-la com atenção, como se tentasse decifrar algo que não fazia sentido. — Você passou tanto tempo reclusa que eu estava começando a achar que nunca mais a veríamos fora daqueles muros.

— As coisas mudam, irmão Elys — respondeu ela, mantendo um tom controlado.

Ele soltou uma risada breve, mas havia algo de sério por trás dela.

— Mudam, sim. Mas essa mudança foi repentina, para dizer o mínimo. — Ele inclinou a cabeça, a expressão avaliativa. — Fiquei sabendo que você vai participar da Grande Caça.

O assunto foi jogado sobre ela como uma lâmina que Celeste já esperava. Celeste permaneceu inabalável, segurando o olhar de Elys com firmeza.

— É verdade.

Elys balançou a cabeça levemente, claramente insatisfeito com a confirmação.

— Celeste, você tem ideia do que está dizendo? A Grande Caça não é um passeio pelo bosque. É uma competição brutal, cheia de intrigas e perigos.

— Estou ciente dos riscos.

Ele riu, incrédulo, mas o som estava longe de ser divertido.

— Você? Ciente dos riscos? — Ele deu um passo à frente, sua altura tornando sua presença ainda mais intimidante. — Celeste, você nunca demonstrou interesse em algo assim. Passou anos evitando confrontos, até mesmo sociais. Agora, de repente, quer se expor a uma das ocasiões mais perigosas do ducado?

— Talvez eu tenha mudado mais do que você imagina.

O silêncio que se seguiu era pesado, carregado de dúvidas e frustrações não ditas. Para Elys, aquela mudança parecia inexplicável. Para Celeste , era uma escolha inevitável.

— Celeste — disse ele, mais baixo, seu tom agora mais suave. — Nós sempre fomos próximos. Se há algo que você não está me dizendo, algo que a está forçando a fazer isso, eu quero saber.

O coração de Celeste apertou com o peso de suas palavras. Elys estava tentando entender, tentando alcançar a irmã que ele conhecia tão bem, mas a verdade estava fora de seu alcance.

Ela desviou o olhar, incapaz de encará-lo enquanto respondia.

— Não há nada que você precise saber, Elys. Esta é minha decisão...— Celeste então apela para o emocional, não queria manipular ele dessa forma em respeito as memórias da verdadeira Celeste, porém havia tal necessidade.

— Elys eu...— Celeste abaixa sua cabeça e coloca sua mão no meio de seu peito, seu olhar se exprime e soa voz sai doce e melancólica, nada menos do que se esperar de uma pessoa vil como ela.— Eu não estava mais aguentando... Eu... Queria mudar eu ia morrer...

Ele suspirou profundamente, esfregando a nuca com uma mão enquanto balançava a cabeça, frustrado, porém saber que a sua irmã finalmente decidiu de sair, iria se contentar e não pressiona-la pondo em risco dela se isolar novamente.

— Eu suponho que não há nada que eu possa dizer para fazê-la mudar de ideia.

— Não.

Elys permaneceu em silêncio por alguns segundos, o olhar vermelho fixo nela. Finalmente, ele falou, sua voz carregada de resignação.

— Muito bem. Se você está determinada, eu não vou tentar impedi-la.

Celeste ergueu as sobrancelhas, surpresa com a resposta inesperada.

— Você... não vai?

— Não. — Ele deu um meio sorriso, mas havia algo de sombrio em sua expressão. — Porque eu vou acompanhá-la.

— Elys, isso não é necessário.

— Ah, mas é. Se você vai insistir em fazer algo tão perigoso, o mínimo que posso fazer é garantir que volte inteira.

— Não preciso de um protetor.

— Não estou oferecendo proteção. Estou garantindo que não faça nada estúpido.

O tom provocativo dele arrancou um suspiro de Celeste, mas ela sabia que argumentar com Elys seria inútil.

— Muito bem. Faça o que quiser.

Ele deu um sorriso satisfeito.

— Sempre faço.

Com isso, Elys começou a andar ao lado dela, Noctis se mantinha atrás deles, o silêncio se instalando novamente enquanto seguiam juntos pelo corredor. A presença dele era tanto um alívio quanto um lembrete das coisas que ela jamais poderia recuperar.

— Você mudou, Celeste — comentou ele de repente, quebrando o silêncio.

Ela olhou para ele de relance, sem responder imediatamente.

— Talvez seja hora de você aceitar isso — respondeu, finalmente.

Elys não respondeu. Em vez disso, ele apenas assentiu levemente, como se estivesse processando suas palavras.

Quando chegaram aos estábulos, Elys observou os cavalos com um olhar crítico, claramente avaliando cada detalhe.

— Já escolheu qual vai montar?

— Aquele. — Celeste apontou para um corcel negro, que relinchava com uma energia quase selvagem.

Elys assobiou baixinho, impressionado.

— Boa escolha. Mas ele parece tão teimoso quanto você.

— Perfeito, então.

Ele riu, mas havia algo de pensativo em sua expressão enquanto a observava preparar o cavalo.

— Seja lá o que esteja acontecendo, espero que saiba que sempre poderá contar comigo.

Celeste parou por um momento, as palavras dele ecoando em sua mente.

— Obrigada, Elys...

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Atualizado até capítulo 56

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