Capítulo 20 - Julia

Cheguei em casa e tomei um longo banho. Ainda estava na casa dos meus pais, mas já tinha uma pequena casinha alugada, e nesse final de semana terminaria a minha mudança.

Fui para meu quarto, cheio de caixas e terminei de empacotar mais algumas coisas.

Minha mãe bateu na porta e me encontrou debaixo de uma pilha de roupas.

- Por Selene\, o que é isso\, Julia? Que montanha!

- Ah mãe\, acho que tenho muito mais coisas do que eu pensei!

Minha mãe se sentou ao meu lado e começou a dobrar as roupas e passá-las para mim. Eu divida em duas pilhas, as que eu ficaria e as que eu doaria.

- Filha\, você sabe que pode ficar aqui o tempo que precisar\, né?

- Sim\, mãe\, eu sei. Mas gostei de morar sozinha. É bom ter meu espaço. E você não vai ficar o tempo todo se preocupando em fazer as coisas para mim\, precisa de um descanso também.

- Mesmo com você em outra casa\, vou fazer meus doces e te levar... E antes que você proteste\, vou sim. É meu direito de mãe! – Rimos juntas\, antes que minha mãe terminasse – Ah... eu vi que você saiu mais cedo. Você foi até a cachoeira\, né?

- Como você sabe?

- Você sempre gostou de lá. E imaginei que depois de tantos anos longe\, ia querer matar a saudade.

- Acertou\, mãe. Estava precisando ir para meu santuário.

- Aquele lugar é realmente um santuário... Sabe\, eu e seu pai nos encontramos lá pela primeira vez...

- Sério? Conta\, como foi?

- Você sabe que eu nasci nessa cidade. Já seu pai veio de uma alcateia na cidade grande. Ele era um beta lá. Eu sempre ia na cachoeira por causa da lenda que minha avó contava...

- Lenda? Você nunca me disse isso!

- Ah\, seu pai sempre me disse que não fazia sentido contar isso pra você. Ele é bem prático na maioria das vezes e não dá muita atenção para essas coisas. Mas agora\, acho que você pode decidir se acredita ou não... Minha avó falava que as águas da cachoeira eram poderosas\, e criavam os laços de companheiros mais fortes que existem. Bastava que os dois se beijassem ali\, naquele lugar...

- E você e o papai?

- Sim. A gente se encontrou lá pela primeira vez. Eu tinha descoberto minha loba a pouco tempo e seu pai veio em uma visita oficial. Ele se perdeu na mata e encontrou a cachoeira por acaso. Mas eu acho que foi Selene que o levou até lá... Então\, quando o vi\, senti na hora que éramos companheiros. E ele também\, é claro. Então foi isso... Depois ele falou com o Alfa da alcateia dele\, e com o nosso\, que era o pai do Alfa Alexandre. Ele permitiu que seu pai ficasse aqui e trabalhasse junto com ele\, pois era alguém de extrema confiança...