17 - Julia

Percebi que muito mais coisas haviam mudado.  O que me deixava mais triste era o modo como

as pessoas pareciam com medo e preocupadas o tempo todo.

Então, após toda a loucura com Emily no hospital, finalizei

meu dia e me arrumei para ir para minha casa e descansar um pouco.

Estava parada esperando um táxi quando vi Emily entrando em

um carro grande, preto com vidros escuros.

Havia um motorista, que saiu do carro para abrir a porta de

trás para ela entrar. Acabei me distraindo olhando a pequena movimentação e

percebi tarde demais, que alguém no banco do passageiro me observava através da

janela com o vidro aberto. Era Alexandre. Ele me olhava hipnotizado. Me senti desconsertada,

e apenas dei um pequeno sorriso para ele, abaixando minha cabeça em sinal de

respeito. Ele retribuiu o meu sinal. O carro partiu e eu pude ver o reflexo

dele pelo retrovisor ainda olhando para mim.

Não esperava encontrar o Alfa tão cedo. Na realidade, estava

torcendo muito para que eu não o encontrasse de jeito nenhum. Não sentia mais

nada, ou achava que não. Mas eu havia decidido não me torturar com sentimentos

que eu não poderia viver. Não queria alimentar nenhuma esperança de algo que não

poderia viver. E ainda tinha esperanças de encontrar o meu companheiro.

O táxi chegou e minha viagem foi muito rápida. Por mais que

eu quisesse evitar, não pude deixar de perceber o quanto Alexandre estava

bonito. Ele estava com um ar mais maduro, que era muito atraente. Mas percebi

também que tinha olheiras. Provavelmente pelo excesso de trabalho. Ou, pensando

de forma um pouco maldosa, pelo excesso de Emily na vida dele.

“Acho que ele deve ter se arrependido...”

“Será, Ceci? Eles são companheiros. Provavelmente ele faz

tudo o que ela quer. Deve ser um bobão!”

“Provavelmente!” – Ceci riu com gosto na minha cabeça.

Quando recebi minha loba, ela me disse que seria como uma

amiga com vantagens. E realmente era verdade. Nosso laço era forte. E nossa

forma de pensar era muito parecida. Ríamos muito juntas, pois ela não deixava

passar nada.

Entrei em casa e estava sozinha. Meus pais haviam saído para

algum compromisso. Eu tirei meus sapatos, tomei um longo banho e pedi uma pizza

para jantar.

A campainha tocou e eu fiquei surpresa ao ver Miriam parada

na frente da minha porta.

“Cuidado, Julia. Lembre do que seus pais falaram.”

“Sim, Ceci, me ajude a ficar alerta também, por favor!”

Abri a porta, simulando um sorriso.

- Miriam! Como vai? Que surpresa!

A mulher entrou mostrando um sorriso amarelo. Ela observava

cada canto da minha casa, e nem fazia questão de disfarçar.

- Olá Julia\, querida. Vim saber como está sua adaptação de

volta. Fiquei sabendo que você atendeu sua Luna hoje...

“Ela não chama a filha pelo nome. Que estranho!”

“Também acho, Ceci.”

- Ah\, sim! Ela estava mal... Eu colhi os exames dela. Mas

depois não tive muito tempo de ver como estava. Espero que esteja melhor...

- Está sim. Ela disse que você foi bem mal educada\, entrando

na sala sem se anunciar...

“Bingo! Elas querem saber se você viu os dois se pegando!”

- Ah\, eu pedi desculpas para ela... Estava tão distraída que

nem percebi que já estava na sala. Inclusive disse para ela que tem uma marca muito

melhor para os materiais de coleta... Espero que ela leve em consideração minha

sugestão...

Se elas iam fazer esse jogo de me pressionar, vou fazer o

meu de fingir que não sei de nada.

“Você tem uma carta na manga, Julia! Cuide bem dessa

informação!”.

- Entendi... Bem\, espero que você seja esperta e não se meta

onde não é chamada.

- Não entendi\, dona Miriam... Existe algo em que eu não

deveria me meter?

Miriam simplesmente ignorou o que eu disse e saiu pela porta

da frente.

“Mulherzinha petulante!”

“Insuportável também é uma boa característica, Ceci!”.

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