9 - Julia

Meu pai conseguiu uma vaga para mim no hospital da cidade.

Eu iria trabalhar na clínica obstétrica. Estava ansiosa para meu primeiro dia.

E saber como de fato estavam as coisas na cidade.

Peguei o carro e segui para o hospital. Ele estava

exatamente da forma que eu me lembrava. Mas me entristeci quando vi que o

prédio precisava de algumas manutenções. Ele nunca tinha ficado dessa forma. As

paredes estavam descascando, havia alguns sinais de infiltrações e algumas

janelas estavam com os vidros trincados.

Entrei e me apresentei. E fui recebida com muito entusiasmo

pela equipe médica.

Claudia era enfermeira chefe desde que me lembro e ficou

muito feliz em me receber.

- Julia! Que alegria ver você! Que mulher linda se tornou! E

graças a Deusa que decidiu se tornar enfermeira! Selene sabe que sempre

precisamos de mais gente nesse trabalho! Seja muito bem-vinda!

- Obrigada Claudia! É bom estar de volta.

Fui apresentada as pessoas que ainda não conhecia e segui

para a clínica. Fui designada para acompanhar um novo médico. Ele havia chegado

a pouco mais de um ano. Seu nome era Guilherme. Era loiro, tinha olhos azuis e porte

de deus grego.

- Você deve ser a Julia!

- Sim\, muito prazer.

- O prazer é meu! Vamos ao trabalho?

Eu o segui pelo corredor. Ele era muito bonito e chamava a atenção de todas as mulheres que estavam no caminho. Algumas enfermeiras davam risinhos bobos enquanto ele passava.

Entramos na área do hospital destinada ao atendimento para gestantes. O doutor entrou no consultório e percebi que a cada minuto ele mandava mensagens no celular.

Um sorriso malicioso aparecia toda vez que ele estava digitando.

"Ora, ora, o doutor galã tem uma namorada!"

"É Ceci... parece que terão algumas moças decepcionadas por aqui!"

A manhã passou rápida, com o número de pessoas que atendemos. Muitas gravidas. Era período de Lua Crescente, época em que os acasalamentos geralmente resultavam em novos filhotes.

Eu comecei a reparar que as instalações da maternidade do hospital também estavam precisando de manutenções. Enquanto eu tirava minha hora de almoço, mandei uma mensagem para meu pai, falando de tudo que eu estava vendo e de como era triste a situação do hospital. Ele informou que levaria essas informações para o alfa, e que faria tudo o que pudesse.

Enquanto eu lia a mensagem dele, vi Gustavo passando perto da mesa onde eu estava, falando baixo ao telefone, mas não tão baixo a ponto de eu não consegui ouvir.

- Eu sei\, docinho... Ninguém vai saber. Pode ficar tranquila... Eu tenho certeza que logo mais você também estará grávida!

"Pelo jeito, esse namoro está mais para casamento com família criada!"

"Pois é, Ceci... Acho que o doutor já está amarrado com alguém há muito tempo."

Esperei que ele saísse para me levantar e não dar na cara que eu estava escutando a conversa de outras pessoas. Fui até o banheiro e fiz minha higiene, e voltei para assumir meu posto.

Enquanto auxiliava as consultas do médico, percebei que uma das enfermeiras estava sempre perto dele, passando a mão no rosto, cabelo e ombros.

"É Ceci, não tem jeito. O cara tem família e dá bola para outras mulheres!"

"Ainda bem que você não é a companheira dele!"

"Obrigada Selene!"

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