Do lado de fora da imponente mansão, Lívia aguardava. Seus óculos de sol enormes tentavam ocultar o cansaço visível nas olheiras que ela não conseguia disfarçar. Eu a havia chamado para me buscar; íamos juntos à delegacia. O plano? Fazer Leoni passar mais alguns dias preso. Não seria fácil, claro, especialmente se Bernardo resolvesse entrar com um advogado.
— Aqui estão as informações que você pediu sobre o caso. Pelo que vi, você pode soltá-lo na mesma hora, bastando pagar a fiança. Mas... o que você está tramando? — Lívia sabia que meus planos iam muito além de apenas uma noite na cadeia.
— Quero atrasar a saída dele o máximo possível. E quando finalmente sair, será com uma tornozeleira e ordens para prestar serviço comunitário. Isso vai destruir a campanha de Bernardo, mas eu já sei como ele vai contornar isso. Vai parecer apenas um pai permitindo que o filho arque com as consequências de seus erros. Afinal, ele é o homem justo, não é? — sorri enquanto trocava de roupa no carro, com as peças que Lívia havia trazido.
— Adoro esse seu lado cruel. Que Deus preserve nossa amizade! — brincou, lançando-me um olhar cúmplice. — Aliás, sua mãe me ligou, perguntando se você estava comigo, já que não atende o celular. Parece que sua irmã também desapareceu ontem. — A preocupação na voz de Lívia não passou despercebida.
Se Leoni não estivesse preso, eu até pensaria que estavam juntos. Mas onde Gardênia poderia estar?
— Consegue rastrear a placa do carro dela ou o celular? Quero saber onde ela está. Talvez minha irmã tenha mais segredos do que podemos imaginar. — A ideia de Gardênia me traindo não era agradável, mas, no momento, confiar nela era um luxo que eu não podia me permitir.
Nunca fomos aquelas irmãs gêmeas inseparáveis, como tantas por aí. Sempre fomos diferentes, tanto em temperamento quanto em aspirações. Nossa relação era superficial, distante, mas nunca tivemos um conflito grave. Agora, algo parecia estar fora do lugar. Talvez eu estivesse tentando achar uma desculpa para tudo... Porque, no fundo, a traição dela doía muito mais que a de Leoni.
— Vou tentar rastrear. Talvez as câmeras da cidade nos mostrem para onde ela foi. Sua mãe mencionou mais ou menos o horário que ela saiu. Pode ser um ponto de partida. — Lívia concluiu, estacionando em frente à delegacia. — Agora vai lá e faça o que sabe fazer. O delegado já está esperando.
Agradeci por ela ter agilizado tudo para mim. Eu estava com sorte. O delegado com quem eu falaria era alguém que Leoni havia desrespeitado no passado. Ele estava com raiva e, no fundo, até satisfeito com a prisão. Era a oportunidade perfeita. Não poderia deixar passar. Precisava usar o delegado ao meu favor.
Entrei na sala do delegado um pouco nervosa. Minha última experiência com o colega dele de profissão não tinha sido das melhores. Assim que abri a porta, a primeira coisa que vi foi ele, estava sentado na cadeira de metal da delegacia, suas costas relaxadas, mostrando que o desconforto do ambiente não o abalava. Seus braços cruzados destacavam músculos esculpidos, evidenciados pela camisa polo preta justa. Sua pele morena, de um tom bronzeado profundo, brilhava levemente sob a luz fria do local, contrastando com o ambiente austero. O rosto de traços fortes, marcado por uma barba rala bem aparada, refletia autoconfiança, enquanto seus olhos escuros lançavam um olhar de desdém, como se quem o observasse não fosse digno de sua atenção. Seu cabelo curto, meticulosamente cortado, complementava sua aparência impecável. Os lábios, curvados em um sorriso sutil e irônico, revelavam seu desprezo silencioso, como se ele se sentisse intocável, mesmo ali, naquele cenário que deveria causar desconforto.
— Veio libertar seu cliente? — O delegado Arthur me encarou com desdém assim que entrei na sala. Eu não sabia como ele já havia deduzido quem eu era. A sua atitude irritante merecia uma resposta, mas deixei passar não é sempre que nos deparamos com um deus grego, não é?
— Não tenho a menor intenção de soltá-lo. Na verdade, adoraria vê-lo mofando aqui por uns dias, mas vou precisar da sua ajuda para isso. — Falei, trancando a porta. — Não acha que ele merece uma boa lição, esse playboyzinho mimado?
— Você está querendo me colocar em apuros? É a noiva dele, não é? Isso é algum tipo de plano para libertá-lo? Não vou fazer nada ilegal. — O delegado parecia desconfiado, os olhos procurando por algum tipo de gravador.
— Sim, sou a noiva dele. Mas descobri, no dia do nosso noivado, que ele estava me traindo com minha própria irmã, e agora ela está grávida. Não quero vê-lo tão cedo. Ele ainda não sabe que descobri tudo. Então, preciso da sua ajuda para prolongar isso. — Falei calmamente, me aproximando da mesa e deixando que meu decote chamasse sua atenção. Lívia havia me dito que o delegado tinha uma fraqueza...
— E o que exatamente quer que eu faça? — Ele se aproximou, os olhos já fixos onde eu queria.
Sorri. Ele era bem mais fácil de manipular que Bernardo, felizmente. Depois de lhe explicar meus planos, fui liberada para ver Leoni. Esperei em uma sala pequena enquanto o traziam até mim.
— Noemi? — Leoni entrou surpreso. Eu era a última pessoa que ele esperava ver ali. Sem dúvida, ele contava que o pai já teria enviado um exército de advogados para salvá-lo, mas Bernardo jamais faria isso.
— Não parece feliz em me ver. — Comentei, percebendo, mais uma vez, o quão indiferente ele era. Como fui cega por tanto tempo, achando que havia algo real entre nós?
— Não é isso. Pensei que meu pai estaria aqui com seus advogados para me tirar dessa confusão. Ainda mais por conta da campanha. Isso pode ser um desastre para ele. — Leoni tentava manter a calma, fingindo que minha presença não o incomodava.
— Quando Lívia me contou o que aconteceu, corri para a casa do seu pai, implorando para que ele te ajudasse. Mas, para minha surpresa, ele disse que você era uma vergonha. Que não perderia mais seu tempo com você. Eu tentei argumentar, dizer que você havia mudado, mas ele sequer me ouviu. No fim, ele disse que essa era a oportunidade perfeita para cortar os laços com você. Eu fiquei devastada... Então vim até aqui para te tirar dessa. Afinal, sou uma advogada renomada, não é? Quem melhor do que eu para garantir que a justiça seja feita? Não vou permitir nenhuma injustiça... Não com meu querido noivo. — Sorri, lutando para conter a vontade de rir da mentira que acabara de contar.
— Com você cuidando do meu caso, não há o que temer. Mesmo sem o apoio do meu pai, eu tenho você. — Leoni passou a mão suavemente pelo meu rosto, sem perceber a ironia.
— Sim. Você tem a mim. — Respondi com um sorriso. — Agora, preciso que assine esses documentos. — Coloquei os papéis na mesa e entreguei-lhe a caneta, ansiosa pela assinatura. — Assim, poderei garantir que a justiça será feita.
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Atualizado até capítulo 166
Comments
Flor De Liz Soares Souza
eu passava o rodo nesse delegato tbm,não dá nada.
2025-01-06
2
elenice ferreira
uma onça, como o Bernardo falou🤣🤣🤣🤣
2024-12-15
1
Janete Neves
Mulher vingativo é o bicho.
2024-12-04
2