Um jantar bem quente

A sala estava carregada de tensão. Todos os olhares da mesa estavam sobre mim, cheios de expectativa, sem qualquer tentativa de disfarçar suas intenções. Os jornalistas, como abutres à espreita, quase vibravam com a possibilidade de uma rejeição pública, ávidos por um escândalo que pudesse render manchetes. A mãe de Leoni, tão tensa quanto ele, demonstrava saber algo que a perturbava. Talvez conhecesse os planos do filho. Já seu pai, nem sequer apareceu, o que não me surpreendeu; os dois sempre tiveram uma relação amarga e distante. E então, havia Gardenia, com aquele sorriso vitorioso estampado no rosto, como se já soubesse o final desse teatro.

— Vocês estão sentindo cheiro de fumaça? Parece que algo está pegando fogo! — Me levantei lentamente, aproveitando o momento de surpresa para sair de cena. Não era agora que daria a resposta que todos esperavam. Não, eu jogaria o jogo deles com ainda mais maestria, saboreando cada passo da minha vingança.

— Todos precisam sair agora! — O segurança gritou da porta, como se o destino, irônico, estivesse do meu lado. Era quase poético. Talvez o universo simpatizasse com aqueles que foram traídos por seus amores. — O primeiro andar inteiro está em chamas. Os bombeiros já estão a caminho, mas todos precisam evacuar o local imediatamente.

O que antes era um jantar sofisticado, em segundos se transformou em caos e pânico. Gritos preenchiam o ambiente, e a multidão corria desordenadamente. Eu, no entanto, me mantive serena. Aquela confusão era a oportunidade perfeita para desaparecer sem ser notada. Enquanto os outros se debatiam, escorreguei pelas sombras e saí por uma porta dos fundos, onde ninguém me notaria.

Enviei uma mensagem rápida para minha mãe, pedindo que mantivesse silêncio sobre meu paradeiro. "Estou bem, depois explico tudo," escrevi. Lá fora, minhas amigas já me aguardavam, cúmplices do plano que estava apenas começando.

— Então, você realmente colocou fogo na casa? — Giselle perguntou, descrente, enquanto olhava as chamas que consumiam o lugar. — Isso vai sair caro.

— A mãe de Leoni é esposa do presidente, certo? Ele tem dinheiro para construir outra mansão se quiser. — Lívia falou, sem tirar os olhos do celular. — Paulo está vindo, mas só chega amanhã de manhã.

— Não, eles não são casados. O pai de Leoni nunca assumiu a mãe dele porque amava outra mulher. O relacionamento com a mãe de Leoni foi um erro, um descuido que resultou numa gravidez. Mas o grande amor da vida do presidente morreu no parto dos seus gêmeos, e isso mudou tudo. A mãe de Leoni deixou todos acreditarem que era a esposa legítima, mas a verdade é que o pai dele a despreza e sempre odiou o próprio filho.

— Isso explica muita coisa... — Giselle comentou, pensativa. — Mas deixa o sogrão de lado por enquanto. O que aconteceu aqui? E por que seu namorado está me mandando mensagens desesperadas perguntando por você?

Respirei fundo, sentindo o sabor amargo da traição antes de falar.

— Descobri que Gardênia está grávida de Leoni. Ele queria me usar para conseguir dinheiro e apoio político através da minha família. Quando ele me pediu em casamento hoje, eu não respondi. Coloquei fogo na casa da mãe dele e esperei a confusão começar antes de sumir.

— O quê? Sua própria irmã e seu noivo? E ele ainda queria te usar para os interesses da família dele? — Giselle me olhou, incrédula.

— Eu avisei que esse cara não prestava. Ninguém me escutou. Ele cheira a golpe! — Lívia balançou a cabeça, fechando o celular e me encarando. — E agora? Você não vai continuar com isso, né? Por favor, me diz que não vai se casar com esse babaca.

Sorri, aquele tipo de sorriso que surge quando você está prestes a virar o jogo.

— Não, claro que não. Mas não vou terminar agora. Vou manter o noivado, fingir que não sei de nada, e planejar minha vingança. Quero vê-los cair, os dois. E para isso, vou organizar todo o casamento.

Lívia ficou boquiaberta, sem entender de imediato.

— Você vai mesmo seguir com isso? Como isso é vingança? Ele vai ter exatamente o que quer!

— Não, ele não vai. Eu vou tirar tudo o que ele deseja. E, de quebra, destruir os sonhos da minha irmã. Esse casamento é apenas o começo. A segunda parte envolve o meu querido sogro. Mas essa história, eu só conto depois de uma bebida. E aí, para onde vamos brindar o meu retorno?

— Acho melhor irmos para minha casa. Tenho a sensação de que não deveríamos ficar bêbadas em público depois de tudo isso. Lembra da última vez? Sua mãe teve que vir da Califórnia nos tirar da cadeia. — Giselle brincou, ligando o carro. — E no caminho, você me conta o plano inteiro!