Era claro como o dia, que eu não sabia nada sobre Bernardo, nem mesmo seu próprio filho parecia conhecer os segredos do pai. Como um homem de tamanha influência, presidente e figura pública, conseguia manter a existência de dois filhos fora do casamento em total sigilo? Ele tinha escondido sua vida privada por tanto tempo, com tamanha habilidade? Quanto mais eu refletia, mais compreendia que tirar o que eu queria de Bernardo seria uma batalha árdua.
— E quem é a mãe dos gêmeos? — perguntei, tentando decifrar se fora um grande amor ou apenas uma aventura que resultara em algo inesperado.
— Somos proibidos de falar sobre a vida pessoal do nosso chefe. Todos nós assinamos contratos rigorosos. Se violarmos qualquer cláusula, perderemos o emprego. Talvez seja melhor você perguntar diretamente a ele. Vou ajudar com o café da manhã e deixar vocês a sós — disse uma das empregadas, assumindo a liderança. Pela sua postura e pela idade que aparentava, percebi que era a chefe do grupo, alguém com muita experiência naquela casa.
Aceitei a ajuda. O último que eu queria era cometer algum erro, sobretudo sabendo o quão delicada era minha situação. Não insisti mais em descobrir segredos sobre Bernardo. Era evidente que ele havia amarrado todos ao seu redor com contratos de confidencialidade, a única maneira de manter sua vida tão bem guardada.
Com o café da manhã quase pronto, a empregada me deixou sozinha para finalizar os últimos detalhes. Eu aprendi a cozinhar nos anos que morei sozinha. Embora nem sempre meus pratos saíssem perfeitos, gostava do processo. Estava cortando os sanduíches quando ouvi passos atrás de mim.
— Pode me explicar o que você está fazendo na minha cozinha? E onde estão todos os meus funcionários? — Bernardo apareceu de repente, me olhando com incredulidade. — E o que é isso que você está vestindo?
— A camisa do meu noivo — respondi com um sorriso malicioso, aproximando-me devagar. — Minhas roupas ainda não chegaram... Mas estou sem calcinha.
— Você é completamente louca — ele disse, passando a mão pelos cabelos, claramente atordoado. — Está andando assim pela casa?
— Sim. Está com ciúmes? — provoquei, enquanto colocava os pratos na mesa com tranquilidade. — Preparei o café da manhã. Deu muito trabalho. Que tal deixarmos as discussões para depois? Quero renegociar alguns pontos do nosso contrato de casamento. Tenho certeza de que vai concordar.
— Como se eu tivesse outra escolha — ele suspirou, sentando-se em um banco ao lado da bancada. — Vamos comer aqui mesmo. Não gosto da mesa de jantar. Ela é grande demais, e sempre vazia.
— Então prefere uma casa cheia? — perguntei, sentando ao lado dele. — E onde estão seus gêmeos? Descobri que vou ter dois enteados adolescentes.
— Você é louca e perigosa — ele disse, evitando responder diretamente.
— Prove — insisti, cortando um pedaço de panqueca e levando à boca dele com o garfo. — Fui eu que fiz.
— Eu me sirvo sozinho, obrigado. Você também deveria comer. Não parece ter dormido bem. Vai acabar desmaiando.
Bernardo era perspicaz. Nada passava despercebido por ele.
— Você sempre fala que as mulheres de hoje não aceitam a gentileza dos homens, mas, pelo visto, os homens também não aceitam a gentileza das mulheres — repliquei, provocando uma gargalhada inesperada.
— Você é uma criatura estranha — ele comentou, pegando um morango e oferecendo-me na boca. — Obrigado por preparar tudo. Está surpreendentemente bom, especialmente considerando de onde você veio.
— Morei fora do país por alguns anos. Me formei em Harvard. Tive que aprender a me virar sozinha — expliquei, percebendo que ele estava mais aberto. — Queria provar a mim mesma que poderia viver por minhas próprias forças, mas não vou mentir: me meti em muitas confusões na universidade. Universitários, álcool e liberdade recém-adquirida são uma combinação perigosa. Quase deixei minha mãe careca de preocupação.
A conversa fluiu de forma inesperada. Bernardo parecia genuinamente interessado no que eu tinha a dizer, o que me surpreendia, pois eu raramente falava de mim. Mas, com ele, havia uma estranha e desconcertante sensação de conforto.
Quando terminamos, comecei a limpar a bancada onde comemos e colocar os pratos na lava-louças. Ele não disse nada, apenas me observou em silêncio, o olhar indecifrável. Eu daria tudo para saber o que passava pela sua mente, mas, como não podia ler seus pensamentos, tinha que me contentar em ganhar sua atenção.
— O que foi? — Bernardo perguntou com a voz baixa, preocupado com a proximidade inesperada.
Ao invés de responder, subi na bancada, ficando à sua altura, nossos olhos se encontrando com intensidade.
— Vamos discutir nosso noivado — murmurei, envolvendo seu pescoço com meus braços. O contato próximo fez meu corpo arrepiar, mas eu mantive o controle, encarando-o firmemente.
— Eu não me lembro de ter concordado com isso em momento algum. Não tenho a menor intenção de casar de novo — ele disse, deslizando a mão suavemente por minha bochecha. — Você precisa de um homem que te respeite e te valorize como o tesouro que você é. Meu filho não te merece. Tenho certeza disso. Você é especial demais para ele.
— E é exatamente por isso que está decidido: vamos nos casar. Vou te dar o dinheiro que precisa para sua campanha, usar toda a minha influência para garantir sua reeleição. Em troca, você vai salvar meu pai e me ajudar a destruir o seu filho — afirmei, aproximando meus lábios dos dele, mas ele se esquivou, claramente perturbado.
— Podemos encontrar outra maneira de negociar isso. Não precisamos de um casamento — ele tentou se afastar, mas enrolei minhas pernas ao redor de sua cintura, mantendo-o preso a mim.
— Precisamos, sim. Não quero arriscar a vida do meu pai. Se eu estiver casada com você, nenhum escândalo sobre ele virá à tona, porque afetaria a sua imagem, que você manteve impecável por tantos anos — continuei, o olhar afiado e determinado. Eu sabia que não podia confiar totalmente em Bernardo. Assim que ele tivesse o que queria, poderia me trair sem hesitar. Mas eu não estava disposta a correr esse risco. — Então, tem alguma exigência a adicionar ao nosso acordo? Estou aberta a negociações, mas o casamento não é discutível. Em um mês, estaremos casados. Se tem algo a dizer, fale agora... ou cale-se para sempre.
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Atualizado até capítulo 166
Comments
Adiji Abdallah
🤔🤔🤔🤔
2025-01-27
1
elenice ferreira
amo essas sequeladas e sem noção do real perigo /Grin//Tongue//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm/
2024-12-15
1
Vanildo Campos
🤣🤣🤣🤣
2024-10-18
1