O jogador conhece o jogo pelas regras

Engoli meus sentimentos como se fossem veneno, queimando por dentro. Eu sabia que precisava agir com cuidado. A vingança, fria como a noite, era um jogo perigoso, mas eu estava pronta. Cada movimento tinha que ser calculado. Desci para o jantar como se o caos dentro de mim não existisse, com a expressão tranquila de quem não tem nada a esconder. Lá estavam todos, já acomodados, esperando pela minha entrada triunfal.

— Querida! Onde estava? Procurei por você. Todos os convidados já chegaram, e sua irmã e Leoni receberam a todos. — Minha mãe, Adriana, se aproximou apressada assim que me viu. — Não se esqueça de agradecer a eles. Agora, vá para o lado do seu futuro marido.

— Sim, eu tenho muito a agradecer... — respondi, forçando um sorriso que não alcançava meus olhos. O brilho no rosto da minha mãe vacilou, como uma chama prestes a apagar. Ela sabia. Sabia quem eu era de verdade, a pessoa que ela mesma ajudou a moldar, a fachada perfeita de uma filha submissa, que ocultava o furacão por trás dos olhos. Sua mão apertou a minha.

— O que está acontecendo? O que você vai fazer? — Ela sussurrou, o medo visível em sua voz. Entre todos, ela era a única que conhecia o monstro que havia crescido enquanto eu estive fora.

— Desculpa, mamãe... — murmurei, soltando sua mão suavemente. — Tentei ser a flor delicada que você queria, mas você se esqueceu dos espinhos. E agora... eles vão ter que aprender a lidar com isso.

Afastei-me e me sentei ao lado de Leoni, que me olhou com aquele sorriso despreocupado, como se o mundo fosse perfeito.

— Você está linda, meu amor. — Ele disse, sua voz tão doce que ninguém imaginaria que se tratrava de puro veneno.

— Sim, irmã, está deslumbrante. O vestido é um sonho. Depois quero usá-lo. — Gardênia, com sua inocência calculada, lançou um sorriso, mas tudo que eu via era falsidade escorrendo dos seus lábios.

Meu coração apertou, a raiva borbulhando sob a superfície. Meu estômago Se revirou. Eu queria vomitar toda aquela falsidade. Se todos soubesse a verdade... Pensei, lutando contra o impulso de arrancar aquela máscara dela ali mesmo, diante de todos.

— Você parece gostar muito das coisas que eu uso, irmã. Fique com o vestido. Pensando bem, ele combina muito mais com você do que comigo. Não tinha reparado até hoje isso. — Minha voz saiu mais afiada do que eu pretendia. — Depois de hoje, ele não me será mais útil de qualquer forma. Você sabe como eu sou... Descarto o que já não me serve. Faça bom proveito dele.

Gardênia riu nervosa, mas seus olhos brilharam com algo que me fez sentir náuseas.

— Mas é seu vestido de noivado, Noemi! Você deveria guardá-lo com carinho. Tenho certeza de que hoje será inesquecível para você. — Sua voz doce era um veneno disfarçado. Ela estava aprontando, mas infelizmente, os planos não sairiam como ela desejava.

— Ah, isso eu não duvido. Hoje é o dia que vai mudar a minha vida. — Retruquei, erguendo uma taça de champanhe. — Por que não começamos com um brinde? Afinal, a noite está apenas começando, não é? Vamos beber e comemorar esse dia glorioso.

Os olhos de Gardênia perderam o brilho, e Leoni quase se engasgou com o vinho. O salão inteiro parecia ter se calado, todos os olhares fixos em nós.

— Eu... não estou me sentindo bem... Talvez seja melhor eu beber água. — Gardênia balbuciou, tentando fugir do momento.

— Sério? Acho que deveríamos ir ao médico então. Sua saúde sempre foi impecável. Se não consegue brindar com sua própria irmã, deve ser algo grave... ou talvez... — Me inclinei e sussurrei em seu ouvido. — Talvez esteja grávida? Caso contrário, será que não concorda com meu casamento?

Ela arregalou os olhos, levantando-se abruptamente.

— Que absurdo! Claro que estou feliz com seu casamento! Leoni é um homem maravilhoso! — gritou, tentando disfarçar o nervosismo, mudando completamente de assunto, enquanto o salão todo nos observava. — Será que devo começar com o discurso?

Leoni tentou manter a compostura, mas era visível o desconforto em sua expressão.

— Que bobagem, sua irmã me adora. — Ele segurou minha mão, tentando esconder a tensão em sua voz.

— Sim, você está certo. Ela gosta muito de você. Muito mais do que eu imaginava. — Sorri, mas por dentro, minha mente já traçava a queda daqueles dois. Eles não faziam ideia do inferno que tornaria a vida deles.

Leoni se levantou, erguendo sua taça com uma confiança forçada.

— Noemi, este é um dia muito especial para mim. Nunca imaginei que encontraria tudo o que sempre busquei em uma mulher. E agora, na frente de todos, quero reafirmar meu pedido. Você aceita passar o resto da sua vida ao meu lado?

O silêncio que se seguiu foi tão denso quanto o ar antes de uma tempestade. Leoni esperava, o nervosismo crescendo em seu rosto. Gardênia, ao meu lado, sorria, esperando minha hesitação.

— Noemi, por favor... você sabe que precisa responder. — Ele insistiu, sua voz trêmula.

— Irmã, você desistiu de se casar com Leoni? O que aconteceu? Quer que eu peça para todos saírem? — Gardênia, triunfante, mal disfarçava sua satisfação.

Leoni, visivelmente preocupado, sussurrou: — Noemi, tem jornalistas aqui. Responda logo. Ou acabaremos nos tornando a fofoca de amanhã. Não seja tímida agora.

Minha mente vagava. O jogo estava prestes a começar, e eu tinha todas as cartas. E eu, tinha decidido que em vez de vítima, eu me tornaria a vilã sem hesitar.