Em questão de segundos, já estávamos no Uber, a caminho da delegacia. Gisele ficou no apartamento, aguardando Paulo, que poderia chegar a qualquer momento. Lívia me acompanhou, afinal, foram seus colegas que levaram Leoni. No meio do caminho, soubemos que ele havia feito exatamente o que esperávamos: usou o nome do pai para tentar se safar.
— Como você acabou com esse idiota? Ele não só tentou escapar se valendo do fato de ser filho do presidente, ameaçando os agentes caso seu pai descobrisse, mas, como se isso não bastasse, quando não deram ouvidos, achou que seria uma ótima ideia oferecer um "trocado para o lanchinho" — Lívia comentou, lendo as mensagens de seus amigos. Leoni havia conseguido o inimaginável: irritar toda uma delegacia ao desmerecer a todos, até o delegado.
— O pior é que eu sabia desse lado dele... sempre procurando o caminho mais fácil. Isso me incomodava em qualquer pessoa, mas, com ele, eu tentava fechar os olhos. Não vou inventar desculpas, nem tenho como. Eu realmente o amo, apesar de ele ser desprezível. Talvez eu tenha me apaixonado por uma ideia, uma versão dele que criei na minha cabeça. Pela forma como ele me fazia sentir. Não sei. Não sei explicar. Mesmo agora, ferida e traída, ainda há algo dentro de mim por ele. Sou uma idiota, não sou? — Confessei, a voz entrecortada pela dor de um sentimento que já não cabia mais em mim. Nunca imaginei que me sentiria culpada por amar alguém.
Eu costumava achar estranho quando conhecia mulheres que, mesmo traídas, continuavam com o parceiro. Como alguém pode continuar amando quem a apunhalou pelas costas? Mas, agora, vivendo essa situação, eu entendo. O amor que eu sentia por ele era real. A traição não faz com que esse amor se apague de um dia para o outro. Mas faz com que eu não consiga mais ver Leoni como o homem por quem me apaixonei. Algo, porém, era claro: eu podia continuar amando, mas já não me via ao seu lado.
— Acho que a maioria das pessoas que se apaixonam são, de certa forma, idiotas. Não que o sentimento seja ridículo ou ruim. Longe de mim criticar o amor. Existe algo mais transformador ou poderoso? Talvez só o ódio rivalize. O amor nos faz esquecer alguns limites, às vezes nos coloca em perigo, porque a única coisa que podemos controlar é o que sentimos. Nunca sabemos com certeza se é recíproco. E você não deveria se sentir culpada por amar alguém. O único erro foi dele. — Lívia comentou com um tom amargo. Ela desistira do amor anos atrás, ainda quando moramos juntas fora do país. Alguém a despedaçou por completo. — De qualquer forma, fico feliz que, mesmo sentindo tudo isso, você não tenha se deixado abalar. Você sempre foi a mais forte de todas nós, mas eu nunca imaginei que teria coragem de bolar um plano tão...
— Eu o amo, mas também quero que ele sinta a mesma dor que eu senti ao descobrir a traição. Talvez isso não afete minha irmã, ainda não sei como lidar com ela. Mas, por enquanto, vou garantir que Leoni sofra o pão que a madrasta dele amassou. — Brinquei, tentando aliviar o peso que sentia. Havia outra razão por trás desse plano. Eu precisava negociar o acordo que minha mãe e o presidente fizeram para salvar meu pai.
— Estamos chegando. E, veja, aquele carro rodeado por jornalistas é do presidente. Ele ainda não saiu. Deve estar esperando o advogado ou a liberação do filho. Talvez não entre para não manchar ainda mais o próprio nome. Afinal, só hoje houve um incêndio, uma crise conjugal e agora a prisão do filho por posse de drogas. Eu também não sairia. Ainda mais por Leoni. Deixava ele apodrecer ali. — Lívia disse ao sair do carro. — Vou chamar a atenção de todos, enquanto você aproveita e entra no carro. Talvez seja melhor conversar com ele lá. Vou manter Leoni preso e os abutres dos jornalistas longe. Esconda-se. Se te virem, vai ser pior.
Concordei com um aceno, mas não sabia exatamente como ela pretendia afastar os jornalistas. Eu não esperava que houvesse tantos ali, naquela hora da noite. Me escondi perto do carro do presidente, esperando o momento certo. Não sabia por quanto tempo os jornalistas seriam enganados, mas eu precisava agir rápido.
— Alô? Sério? Eu não acredito! Leoni, o filho do presidente? Entendi. Ele foi preso por isso? — Lívia gritou ao celular, de forma exageradamente alta. Como formigas ao perceberem açúcar, os jornalistas correram até ela.
Para minha sorte, no instante em que se distraíram, o motorista do carro desceu. Felizmente, não era o presidente, mas um dos seus funcionários, que aproveitou para entrar discretamente na delegacia, sem que os jornalistas percebessem. Eu segui seu exemplo, entrando no carro pela mesma porta que ele havia usado.
— Já, Raimundo? Esqueceu alguma coisa? — Bernardo, o presidente, perguntou sem tirar os olhos do celular, sequer percebendo que eu não era o motorista.
— Desculpe desapontar, mas não sou o Raimundo. — Respondi, ligando o carro e travando as portas enquanto engatava a ré.
— O quê? O que está fazendo? Quem é você? Pare o carro agora! — Bernardo gritou, tentando agarrar o volante.
— Meu nome é Noemi Matarazzo, e eu preciso sequestrar você por um tempo. Temos algo importante para discutir, algo que ninguém pode saber. — Falei, sentindo a pressão de suas mãos no volante. — Algo que pode impactar diretamente sua reeleição.
— O que o idiota do meu filho fez dessa vez? — Bernardo soltou o volante e se jogou no banco de trás, suspirando profundamente. Não era a primeira vez que Leoni o colocava em apuros.
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Atualizado até capítulo 166
Comments
Adiji Abdallah
Esse sequestro vái ter o que falar 🤔
2025-01-26
1
Jennifer Massignani
Nada como um sequestro pra esquentar as coisas 🤭🤭
2024-09-25
1
Luciana 🥰
E uma chato amar e se decepcionar, o pior é que sempre nos culpamos. Onde foi que eu errei???🤔 . Em alguns casos erramos amando e não olhamos os sinais a nossa volta.🥺
2024-09-20
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