Capítulo 07

...— Revelações — ...

No dia seguinte, Milla levantou-se após uma noite sem descanso. Seus olhos estavam cansados e seus pensamentos ainda se voltavam para a conversa com Amir. Tomou um banho, fez sua higiene matinal e desceu para a cozinha com o coração pesado. Seus pais ainda estavam ocupados com preparativos e atividades do dia a dia, e apenas seu primo Ali estava na mesa, tomando café tranquilamente.

— Bom dia, Primo — disse Milla, tentando manter um sorriso no rosto apesar do cansaço.

Ali levantou os olhos do café, percebendo a exaustão em seu rosto.

— Bom dia. Parece que você não dormiu bem.

— Estou preocupada, Ali — Milla respondeu, deixando a tensão em sua voz ser clara. Ela se sentou à mesa, olhando para a xícara de café que seu primo Ali havia passado para ela.

Ali franziu a testa.

— Eu percebi. Desde ontem, depois daquela ligação com seu suposto noivo.

— Ele quer casar amanhã — Milla disse, tentando manter a calma, mas sua voz estava cheia de desespero.

Ali se engasgou com o café, e Milla se levantou rapidamente para ajudá-lo, mas ele acenou para que ela permanecesse onde estava.

— Não precisa se preocupar com isso. Estou bem. — Seus pais estavam onde com a cabeça para aceitar tal compromisso? Especialmente com aquele hominídeo? — Ali perguntou, sua frustração evidente.

Milla suspirou profundamente, sentindo o peso das palavras.

— Foi um acordo feito entre meus pais e os pais de Amir há muito tempo. Só sei que eu fui a mais prejudicada nessa história. Minha família tem estabilidade agora, e eu sinto que tudo isso é por causa desse acordo.

Ali balançou a cabeça com um olhar de preocupação.

— Sinto muito, prima. Mas você está em dívida com Amir e a família dele. Olhe para este lugar. Seus pais nunca tiveram tanta estabilidade.

— Cale a boca, seu asno! — Milla exclamou, seu desespero transbordando. — Você acha que esse lugar vale mais do que a minha saúde mental?

Ali arregalou os olhos com a surpresa pela reação dela.

— Não era isso que eu queria dizer. Apenas estou tentando entender a situação.

Milla respirou fundo, tentando recuperar o controle.

— Eu sei, Ali. Mas a verdade é que, mesmo que minha família esteja estável, eu estou perdendo minha liberdade e minha paz de espírito. Não consigo ver como isso vale a pena.

Ali olhou para ela com preocupação genuína.

— Você precisa falar com seus pais. Eles precisam saber como você está se sentindo. Não pode ser assim, como se você fosse apenas uma peça em um jogo deles.

Milla balançou a cabeça lentamente, um sentimento de resignação tomando conta dela.

— Eu sei que preciso. Mas o que eu posso fazer agora? O casamento é amanhã, e tudo parece estar acontecendo tão rápido.

Ali se levantou, movendo-se para ficar mais perto dela.

— Eu sei que é terrível o que está passando, Milla, mas acho que casar com ele não será tão terrível assim — disse Ali, tentando oferecer um pouco de consolo.

Milla engoliu em seco ao lembrar de Amir, vestido em uma roupa sob medida que delineava perfeitamente seu corpo musculoso. O pensamento dela foi abruptamente interrompido por um choque que percorreu sua espinha.

— Você não entende, Ali. Eu não estou apenas preocupada com o casamento em si. É tudo o que isso representa — Milla disse, com um tom de frustração crescente. — Estou sendo empurrada para algo que não escolhi, para uma vida com alguém que mal conheço.

Ali franziu a testa, compreendendo a gravidade da situação.

— Mas você ainda não conheceu Amir de verdade. Talvez ele não seja tão ruim quanto você imagina. E, convenhamos, ele é um homem muito bem-sucedido, o que pode trazer uma vida confortável.

— Você acha que eu me importo com conforto material agora? — Milla perguntou, sua voz carregada de tristeza. — O que adianta ter uma vida confortável se eu vou estar presa a uma pessoa com quem não tenho conexão? Que deixou claro que não compartilha do mesmo sentimento que eu?

Ali olhou para ela com preocupação, tentando encontrar as palavras certas.

— Eu entendo, Milla. Realmente entendo. Mas às vezes, a vida nos coloca em situações em que não temos controle. O que importa agora é como você vai lidar com isso.

Milla respirou fundo.

— Eu sei. Eu só... eu só queria ter uma escolha. Queria poder decidir o que é melhor para mim, sem ser forçada por compromissos familiares e acordos antigos.

Ali tocou levemente no braço de Milla.

— Você ainda pode conversar com seus pais e expressar como se sente. Talvez eles não percebam o quão angustiada você está. Às vezes, as pessoas agem sem pensar no impacto que suas decisões têm sobre os outros.

Milla balançou a cabeça, hesitante.

— Eu já tentei, Ali. Mas tudo o que ouço é sobre como esse casamento vai beneficiar mais ainda a nossa família e estabilizar nossa situação. Ninguém parece se importar com o que eu realmente quero.

Ali suspirou, seus olhos refletindo compreensão.

— Então, talvez seja hora de você ser mais firme. Mostrar a eles que você não é apenas uma peça nesse tabuleiro de xadrez que eles pensam que você é. Seu bem-estar importa, e eles precisam ver isso.

Milla olhou para seu primo, sentindo uma mistura de gratidão e desespero.

— E se eles não ouvirem? E se eles simplesmente seguirem em frente com tudo, independentemente do que eu diga?

Ali olhou para ela com um olhar resoluto.

— Se eles não ouvirem, então você precisa decidir como vai lidar com a situação. Não pode se permitir ser uma vítima das circunstâncias. É difícil, eu sei, mas você tem que lutar pelo que acha certo.

— E quanto a Amir? O que eu faço com ele?

Ali hesitou, pensando cuidadosamente.

— Amir é uma parte dessa equação, claro. Mas a questão principal é como você vai se posicionar agora. O casamento é amanhã, e isso não pode ser mudado da noite para o dia. No entanto, você pode usar o tempo que resta para se preparar para a nova realidade e encontrar uma forma de lidar com isso de maneira que, pelo menos, preserve um pouco de sua dignidade e vontade.

Milla respirou fundo.

— Eu vou tentar. Vou falar com meus pais novamente e ver se posso encontrar alguma forma de ter uma escolha no meio disso tudo. Se não for possível, vou colocar meu plano em ação.

Ali sorriu levemente, um sorriso encorajador.

— Isso é tudo o que você pode fazer, Milla. Apenas não se esqueça de que você tem o direito de ser ouvida e de lutar por si mesma.

Milla assentiu, sentindo um pouco de alívio ao compartilhar seus sentimentos com alguém que realmente se importava. A conversa a deixou um pouco mais decidida e com uma sensação de que, pelo menos, tinha alguém ao seu lado para apoiar sua luta.

— Obrigada, Ali. Eu realmente precisava ouvir isso — disse Milla, sua voz um pouco mais firme.

— De nada, prima. Estamos juntos nisso, e você não está sozinha — respondeu Ali, com um olhar de solidariedade.

Milla e Ali continuaram conversando, falando sobre o plano que ela tinha em mente. A conversa, embora não tenha resolvido todos os problemas, trouxe um pouco de clareza e um sentido de apoio para Milla, ajudando-a a se preparar para o que iria fazer, caso a conversa com seus pais não desse certo.

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