Capítulo 14

Passou outro mês ao lado do Cris e já nos conhecíamos melhor. Tinha falado com o médico sobre a condição do jovem mestre e, embora no início não tivesse acreditado em mim, disse-me que estava a investigar sobre pessoas com a mesma condição, mas que, infelizmente, naquela época, as pessoas pensavam que ser "tímido" ou ter mutismo seletivo era por falta de inteligência, por isso geralmente os escondiam. Disse-me ainda que, no reino Gelado, se dizia que havia uma princesa com uma condição semelhante e que por isso iria até lá recolher informações. Fiquei feliz pelos avanços e ele disse-me que eu estava a ir muito bem, que devia escrever tudo o que sabia sobre a condição e até as ideias que não funcionavam, pois assim poderia ajudar mais crianças.

Fiquei realmente feliz. Não me considerava uma especialista em autismo, mas tinha a certeza de que não era uma doença e que, dependendo do grau, as pessoas poderiam ter uma vida completamente autónoma e funcional.

[Maria, a menina que nos ajuda com o Cris e com a roupa, casa-se esta semana com um jovem que também trabalha aqui, nas cavalariças, ou algo relacionado com cavalos, por isso estou a tentar convencê-las a fazermos uma despedida de solteira. O que poderia correr mal?]

6 horas depois...

- Senhor, temos um problema.

- O que foi, Aron? Estamos a ser atacados? É raro ver um dos meus guardas preocupado.

- Não senhor, não é isso, é sobre as meninas...

- O que aconteceu com as criadas? Estão bem? Estão na mansão?

- Sim senhor, estão na mansão, só que... bom...

- Fala homem, o que se passa?

- Estão embriagadas, senhor. A maioria das meninas e mulheres da mansão estão fechadas no celeiro, a cantar e a dançar.

- Mas como? Nunca tinham feito uma coisa dessas, o comportamento delas sempre foi exemplar.

- Bem, é que uma delas se vai casar e a Lady Aurora organiz...

- Claro, como não pensei nisso antes... Aquela menina anda sempre a fazer coisas... [Este lugar perdeu completamente a paz desde que a Aurora chegou... sempre...]

- Senhor?

- Chama os maridos ou irmãos das mulheres que estão na mansão, não importa o que estejam a fazer, que venham já. Traz também as mulheres que não participaram para ajudar e...

- Olá amigo, cheguei em mau momento? Estão todos com caras estranhas lá fora.

- Não é um bom momento, Felipe.

- O que aconteceu? Posso ajudar?

- Parece que as mulheres fizeram algum tipo de festa e estão embriagadas.

- Uau! Amigo, cheguei na melhor hora. Imagino como estarão a Lady Aurora, a Lady Clarissa ou a Lady Rose bêbadas.

- Não comeces, Felipe.

- Vou contigo, para isso é que servem os amigos. Além disso, lembra-te de que falta pouco para o meu aniversário e talvez...

- Se continuares com isso, mando-te sair.

- Está bem, está bem.

Enquanto caminhavam, viram um grupo de guardas a espreitar pela janela do celeiro, enquanto comentavam a cena peculiar.

- Paolo, não devias estar a olhar para a Lady Aurora, aceita que ela não quis sair contigo.

- A Lady Clarissa nem sequer olhou para ti.

- De certeza que ela não me ouviu, estava a ter aulas de piano com o jovem mestre.

- Vocês os dois, se não são parentes das meninas que estão lá dentro, saiam daqui!

- Sim conde, boa noite.

- Imagina, amigo, que descarados, a aproveitar a oportunidade para se aproximarem das meninas... espera, elas estão a cantar? Oh meu Deus! Elas estão a dançar? Estão mesmo a dançar! Amigo, por favor, deixa-me entrar, só um bocadinho, prometo que não te visito durante semanas, fico longe, por favor.

- Guardas! Acompanhem o Conde Felipe até ao escritório.

- Odeio-te, sabias? Nunca me vou esquecer disto, és mau amigo. E vocês, larguem-me, eu sei andar.

- Muito bem, abram a porta. Cada um vai aproximar-se da sua irmã ou esposa e levá-la. Depois entram as mulheres para tirar o resto, e por último nós para verificar se não fica ninguém. Muito bem. Vamos!

Quando conseguiram abrir a porta, era um verdadeiro espetáculo. As senhoras mais velhas estavam abraçadas, aparentemente tinham chorado. Havia duas meninas em cima de uma cadeira a cantar, a Lady Clarissa estava em cima de um pequeno piano, aparentemente a dormir, a Lady Rose estava abraçada a outras jovens e, em cima da mesa, estava a Lady Aurora junto a outra rapariga que tinha um véu na cabeça.

- E chegaram os empregados! Hahaha, sou como a Paty Fernández, hahaha, lá está o Armando, sempre tão rabugento! Hahaha, não, não, a festa ainda não acabou! Que não pare a festa, let's go to the party! Hahaha, lutem, meninas, não se deixem levar.

- Lady Aurora, desça daí agora.

- Não, duque, o senhor vai ter de me desafiar.

- Desça daí, veja, a sua tentativa de rebelião terminou. Já não resta ninguém.

- Oh! Que aproveitador. Não sabia que... hip!

- Lady Aurora! Desça daí, agora! Não, o meu chefe é mau. Se me apanhar, vai repreender-me, ele pensa sempre o pior de mim, olha-me com raiva e ódio e eu nunca lhe fiz nada. Se ele me vir agora e souber que fui eu, vai pôr-me os pés na rua.

- Lady Aurora, não comece a chorar... [Respira, Edward, não podes matá-la]

- Apanhe-me, senhor.

Aurora saltou da mesa para os braços do duque e ele pegou nela ao colo.

- Senhor, já lhe disseram que cheira muito bem?

- Lady Aurora, por favor, faça silêncio, vou levá-la para o seu quarto.

- Uau! Acho que sempre quis que me dissesse isso. Embora o imaginasse um pouco mais romântico, não conhecia esse seu lado bruto.

- Lady Aurora, pode por favor parar de me tocar? É uma ordem.

- O senhor é tão bonito, cheira tão bem, é tão, tão... mmm... homem, mas abre a boca e mata... hip!... toda a magia.

- Lady Aurora, poupe-me os seus comentários. Acabou de me tentar beijar?

- Não senhor, só queria prová-lo, uma lambidela no pescoço. Sabia que nesta vida nunca dei um único beijo?

- Lady Aurora, já estamos quase a chegar ao seu quarto, faça silêncio e pare de se mexer.

- Agora sim consigo ver bem o seu rosto. A sua pele é tão suave, senhor, pergunto-me se...

O duque abriu a porta do quarto com um pontapé e atirou-a para a cama.

- Agora sim... [Finalmente adormeceu]

O duque saiu a correr para o seu quarto para tomar um duche de água fria.

[Maldita mulher, abraçou-me, lambeu-me, tocou-me, disse-me coisas... Agora o meu corpo reagiu, a ela! NÃO! Não reagi a ela, mas sim à situação, há anos que não... Estou sozinho, podia ter sido com ela, ou com qualquer outra mulher solteira.]

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