Último dia no casarão

— Eu pedi para a dona Rosa e a Helen que preparassem as suas comidas favoritas para celebrarmos o seu aniversário. Foi também um gesto de carinho e gratidão por você ser tão especial — explicou Ana, sorrindo com ternura.

Ana estava emocionada, sabendo que aquele seria o último dia de Madson na casa. Ao ver a menina se sentar à enorme mesa de madeira, ladeada pelas janelas que deixavam o sol da manhã entrar, sentiu um aperto no peito. Madson chamou todos para se juntarem a ela, enquanto o aroma de café recém-coado e pães quentinhos preenchia o ambiente.

Assim que todos se acomodaram, Madson pegou uma xícara de chocolate quente, envolveu-a com as duas mãos, buscando o conforto da bebida, e começou a provar um pouco de cada prato, intercalando as mordidas com risos e conversas leves, como sempre fazia nas manhãs mais tranquilas.

A diretora, por sua vez, apenas observava em silêncio, seus olhos atentos registrando cada sorriso, cada gesto, como se quisesse guardar tudo na memória para sempre. Era difícil aceitar que aquele seria o último café da manhã de Madson ali. As lágrimas começaram a brotar em seus olhos, involuntárias, e ela rapidamente tentou secá-las.

— Por que está chorando, tia Ana? O que aconteceu? — perguntou Madson, ao notar o gesto, sua voz suave carregada de preocupação.

— Estou emocionada, lembrando dos tempos que passamos juntas. E também porque logo terei que me despedir de você... Mas sei que é por um bom motivo, que você precisa seguir seu caminho e descobrir o mundo lá fora — respondeu Ana, ainda lutando para controlar as lágrimas, mas sorrindo para tranquilizá-la.

Mônica, que assistia a cena com olhos igualmente marejados, aproximou-se e, sem dizer nada, envolveu Ana num abraço reconfortante. As duas compartilhavam o mesmo sentimento de perda, mas também de orgulho.

— Sentiremos muito a sua falta aqui — disse Mônica, finalmente quebrando o silêncio — mas sabemos que você será muito feliz. Vai conhecer novas pessoas, fazer novos amigos, viver novas aventuras. Só queremos que você prometa duas coisas antes de ir.

Madson, sentindo o peso das emoções à sua volta, sorriu, tentando conter as próprias lágrimas. — Vou sentir saudades de todos vocês. Do jardim, das nossas tardes juntas... Não sei se vou conseguir fazer amigos como os que fiz aqui, mas vou tentar, prometo. O que vocês querem que eu prometa? — perguntou, com uma mistura de emoção e expectativa.

— A primeira coisa que queremos é que você nunca perca esse seu jeito espontâneo e alegre, esse espírito aventureiro que sempre teve. Lembre-se de que você é capaz de conquistar tudo o que deseja, seja na sua vida pessoal ou profissional — disse Mônica, os olhos brilhando com orgulho, enquanto acariciava o ombro da menina.

— E a segunda — continuou Ana, ainda com um tom protetor — é que você tome cuidado com quem vai cruzar o seu caminho. Não confie em qualquer um. E, claro, que nunca se esqueça de nós, mesmo que se torne uma cantora famosa e viaje pelo mundo.

Madson não conteve as lágrimas dessa vez. As palavras delas a tocaram profundamente. — Prometo que vou continuar sendo eu mesma e que ninguém vai me impedir de alcançar meus sonhos. E prometo que nunca vou esquecer de vocês, jamais. Vocês são a minha família. Mesmo que me torne uma cantora famosa, vou sempre lembrar de cada momento que passamos juntas.

Com as promessas feitas, o clima de despedida tomou conta do ambiente. Os outros voltaram às suas rotinas, deixando Madson e as duas mulheres mais velhas à mesa, recordando histórias, rindo e se emocionando ao mesmo tempo.

Depois de um longo tempo de conversa, Madson se levantou, lançando um último olhar carinhoso para as duas, e foi para seu quarto. Lá, com cuidado, começou a colocar seus pertences nas malas, dobrando com carinho cada peça de roupa, e guardando sua velha mochila, aquela que a acompanhara em tantas aventuras, como se fosse uma peça fundamental do seu novo futuro.