Luz e Sombra

As primeiras luzes da manhã lutavam para penetrar as densas cortinas de veludo que adornavam as janelas do apartamento de Alexandra, localizado no alto de um prédio antigo em Londres. O local era um reflexo de sua natureza sombria, com móveis antigos de madeira escura, tapeçarias intricadas e velas espalhadas por toda parte, substituindo a iluminação elétrica. O ar era pesado, impregnado com o aroma de incenso e um toque de algo metálico, quase imperceptível, que Ethan apenas agora começava a reconhecer.

Ele estava sentado em uma poltrona de couro desgastada, observando Alexandra enquanto ela caminhava pela sala com uma inquietação que era incomum para ela. O ambiente era carregado de uma tensão silenciosa, a mesma que pairava desde que Ethan começara a perceber a profundidade do dilema interno que ela carregava.

"Você nunca fala sobre isso," disse Ethan, rompendo o silêncio com uma voz grave, mas suave. "Sobre como é... viver dessa forma." Ele escolheu suas palavras cuidadosamente, sabendo que o assunto era delicado.

Alexandra parou de repente, suas costas rígidas como se as palavras tivessem a atingido fisicamente. Ela permaneceu de costas para ele, as mãos cruzadas na frente do corpo, os dedos brincando nervosamente com o tecido de seu vestido escuro. "Não é algo que eu goste de compartilhar," ela respondeu, sua voz baixa e quase inaudível.

Ethan se inclinou para a frente, seus olhos âmbar fixos nela. "Eu sei que não é fácil, Alexandra. Mas eu quero entender. Quero saber o que você enfrenta todos os dias, porque... se vamos continuar nessa jornada juntos, eu preciso saber quem você realmente é."

Ela se virou lentamente, seus olhos vermelhos brilhando com uma intensidade que refletia sua natureza predatória. "Quem eu sou?" Ela soltou uma risada amarga, um som que ecoou pelas paredes sombrias do apartamento. "Ethan, eu sou uma vampira. Uma criatura da noite. Meu mundo é escuridão, fome e... solidão."

Ethan permaneceu em silêncio, dando-lhe o espaço que ela precisava para continuar. Ele podia ver a dor por trás de suas palavras, uma dor que ela raramente permitia que os outros vissem.

"Você acha que é fácil?" ela continuou, sua voz tremendo ligeiramente. "Conviver com essa sede incessante? Essa necessidade constante de sangue para sobreviver? Saber que cada pessoa que eu vejo, cada humano que passa por mim na rua, é uma tentação, uma possível vítima?"

Ela se aproximou de Ethan, seus movimentos graciosos e fluídos, como uma pantera prestes a atacar. "Eu luto todos os dias contra isso. Contra o desejo de ceder, de me entregar completamente ao que eu sou. Mas isso me consome, Ethan. A cada noite que passa, sinto que estou perdendo um pouco mais de mim mesma."

Ethan sentiu um peso no peito ao ouvir aquelas palavras. Ele sabia o que era lutar contra sua própria natureza, mas a batalha de Alexandra parecia infinitamente mais complexa. "Você nunca está sozinha, Alexandra," ele disse, sua voz firme. "Eu estou aqui. E eu não vou te deixar cair."

Ela riu novamente, mas dessa vez havia uma tristeza profunda em seu tom. "Você não entende, Ethan. Por mais que você queira, por mais que tente, nunca vai entender completamente o que é isso. O que é ser uma vampira."

Ethan se levantou, aproximando-se dela até que seus rostos ficassem a poucos centímetros de distância. "Então me ajude a entender," ele pediu, sua voz cheia de uma determinação que ela não podia ignorar. "Me mostre o que você vê. Me conte como você se sente. Porque, Alexandra, não importa o que aconteça, eu quero estar ao seu lado."

Ela o olhou nos olhos, vendo a sinceridade e a força em seu olhar. Ethan era diferente de qualquer outra pessoa que ela já conhecera. Ele não a via apenas como uma criatura das trevas, mas como alguém que ainda possuía luz, apesar de tudo.

"Eu... nunca tive ninguém que quisesse realmente saber," admitiu ela, sua voz finalmente quebrando. "Sempre fui vista como a predadora, a inimiga. Mas você... você me vê de uma maneira diferente."

Ethan assentiu. "Porque você é diferente. Não é apenas o que você é que importa, Alexandra. É quem você escolhe ser. E você escolhe lutar contra isso todos os dias. Isso faz de você alguém extraordinário."

As palavras dele a atingiram como um golpe, quebrando as barreiras que ela havia construído ao longo de décadas. Uma lágrima escorreu pelo rosto dela, um reflexo de uma vulnerabilidade que ela raramente permitia que alguém visse.

"Não sei se sou tão forte quanto você pensa," ela disse, sua voz agora suave, quase um sussurro.

"Eu sei que é," Ethan respondeu, e sem pensar duas vezes, estendeu a mão, enxugando a lágrima que corria por sua bochecha. "E eu estarei aqui, para lembrá-la disso, sempre que você precisar."

Por um momento, o tempo pareceu parar. A tensão entre eles se dissipou, substituída por uma conexão profunda, algo que transcendia as palavras. Ali, no silêncio daquela sala escura, Ethan começou a entender o verdadeiro peso que Alexandra carregava. E, mais do que nunca, ele estava determinado a ajudá-la a carregar esse fardo.

Finalmente, Alexandra suspirou, recuando um pouco, mas não o suficiente para quebrar o elo que haviam formado. "Obrigada, Ethan. Talvez... talvez haja mais em mim do que eu mesma sou capaz de ver."

"Eu não tenho dúvidas disso," ele disse, um pequeno sorriso curvando seus lábios.

E então, enquanto o primeiro raio de sol começava a atravessar as cortinas, iluminando a penumbra do apartamento, eles permaneceram juntos, lado a lado, cientes de que, embora vivessem entre luz e sombra, juntos, talvez pudessem encontrar um equilíbrio.

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Comments

Brennda Germany's

Brennda Germany's

nessa história os vampiros conseguem andar no sol?

2024-09-02

1

Brennda Germany's

Brennda Germany's

ah eu queria ser vista como uma mocinha indefesa /Facepalm/

2024-09-02

1

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