Segredos Sob a Lua

A noite estava particularmente clara, com uma lua cheia que brilhava intensamente no céu, iluminando cada canto de Londres. As ruas, normalmente envoltas em sombras, agora estavam banhadas por uma luz prateada que tornava a cidade ainda mais misteriosa. Ethan caminhava em silêncio, seu olhar fixo no céu, enquanto a lua cheia refletia em seus olhos âmbar, intensificando a cor deles. Ele estava inquieto, sentindo o peso de uma noite que prometia mais do que simples observações.

Ao seu lado, Alexandra se movia com uma elegância sobrenatural, quase flutuando sobre o chão. O contraste entre a palidez de sua pele e a escuridão do vestido de veludo preto criava uma aura etérea ao seu redor. Seus olhos vermelhos, afiados como rubis, observavam Ethan com uma curiosidade contida. Havia algo diferente nele naquela noite, algo que ela ainda não conseguia decifrar.

“Você está estranhamente silencioso, Ethan,” ela comentou, quebrando o silêncio que os envolvia como uma neblina.

Ethan não respondeu imediatamente. Continuou a caminhar, absorvido em pensamentos, seus passos ecoando suavemente pela rua deserta. Quando finalmente falou, sua voz era baixa, quase como um murmúrio. “A lua cheia sempre me deixa assim. Pensativo.”

Alexandra ergueu uma sobrancelha, intrigada. “Pensativo ou perturbado?”

Ele parou de andar e olhou para ela, seus olhos brilhando sob a luz da lua. Havia algo naquele olhar que fez Alexandra sentir um arrepio correr por sua espinha, algo que ela não costumava experimentar. “As duas coisas, talvez,” ele admitiu, seu tom de voz carregado de uma sinceridade que ela não esperava.

O silêncio caiu novamente entre eles, mas desta vez era pesado com algo não dito, uma tensão que se intensificava a cada segundo. Alexandra, sempre perceptiva, decidiu pressionar um pouco mais. “O que está te incomodando, Ethan? É a lua cheia, ou algo mais?”

Ethan desviou o olhar para a lua, como se estivesse buscando respostas na vastidão do céu. Ele parecia lutar consigo mesmo, como se estivesse ponderando se deveria compartilhar o que estava guardado tão profundamente dentro de si. “A lua cheia... ela tem um efeito sobre mim que eu não consigo controlar. Não como os outros lobisomens. Para mim, é uma lembrança constante de algo que nunca poderei mudar.”

Alexandra se aproximou um pouco mais, sua curiosidade agora totalmente despertada. Ela nunca havia visto Ethan tão vulnerável, tão próximo de revelar algo verdadeiramente pessoal. “Ethan,” ela chamou suavemente, sua voz carregando uma gentileza que raramente usava. “O que aconteceu?”

Ele respirou fundo, como se precisasse reunir coragem para continuar. “Havia alguém... há muito tempo. Alguém que eu amava profundamente. Ela acreditava em mim, mais do que eu acreditava em mim mesmo. Mas... numa noite como esta, eu perdi o controle. A lua cheia tomou conta de mim, e antes que eu percebesse o que estava fazendo, ela estava morta.”

Alexandra ficou em silêncio por um momento, absorvendo o que ele havia acabado de confessar. Ela sabia que lobisomens podiam perder o controle durante a lua cheia, mas nunca tinha imaginado o peso da culpa que Ethan carregava. “Foi um acidente,” ela disse finalmente, sua voz suave, mas firme. “Você não tinha intenção de machucá-la.”

“Mas eu machuquei,” ele respondeu, sua voz carregada de dor. “E nunca consegui me perdoar por isso. Desde então, cada vez que a lua cheia surge, eu sou lembrado do que fiz. Do que sou capaz de fazer.”

Alexandra sentiu uma onda de empatia por ele, algo raro para alguém como ela. Ela deu um passo mais perto, estendendo a mão para tocar levemente o braço dele. “Ethan, todos nós temos segredos, sombras que nos perseguem. Mas isso não significa que você está condenado a repetir o passado.”

Ele olhou para onde a mão dela tocava seu braço, sentindo o calor incomum em sua pele fria. Era um toque inesperado, uma conexão que ele não esperava, mas que de alguma forma o confortava. “Eu não sei se posso confiar em mim mesmo, Alexandra. E isso... isso me assusta.”

“Você não precisa enfrentar isso sozinho,” ela disse, sua voz firme e cheia de uma determinação que Ethan ainda não compreendia completamente. “Talvez seja hora de confiar em alguém. E talvez... esse alguém possa ser eu.”

Ethan encontrou o olhar dela, e por um momento, o mundo ao redor deles desapareceu, deixando apenas a lua cheia como testemunha do que estava acontecendo entre eles. Havia uma sinceridade nos olhos de Alexandra que ele nunca havia visto antes, uma promessa silenciosa de que ela estaria ao seu lado, não importa o que viesse.

“Eu... aprecio isso, Alexandra,” ele disse finalmente, sua voz mais suave agora, mas ainda cheia de incerteza. “Mas não sei se estou pronto para baixar a guarda.”

“Não precisa baixar a guarda completamente,” ela respondeu, um pequeno sorriso curvando seus lábios. “Apenas o suficiente para deixar alguém entrar.”

O silêncio caiu novamente, mas desta vez era diferente. Não era pesado, mas sim confortável, como se ambos tivessem encontrado uma nova compreensão um do outro. Alexandra recuou um pouco, dando-lhe espaço, mas seus olhos nunca deixaram os dele.

“Obrigado,” Ethan disse, quase sussurrando, sua voz carregada de uma gratidão genuína.

“De nada,” ela respondeu com um aceno suave, sua voz cheia de promessas não ditas.

A lua cheia continuava a brilhar acima deles, lançando uma luz prateada que parecia abençoar o momento que compartilhavam. Naquele instante, sob a lua cheia, uma nova conexão foi formada, uma que poderia ser o início de algo inesperado e profundo. Segredos haviam sido revelados, e, com eles, a possibilidade de cura, tanto para Ethan quanto para Alexandra.

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