A noite em Londres estava particularmente fria, com um vento cortante que parecia atravessar as paredes de tijolos dos antigos edifícios. Alexandra estava sentada em um escritório escuro, a única luz vindo de uma pequena lâmpada de mesa, que lançava sombras inquietas nas estantes cheias de livros empoeirados. O ambiente era silencioso, mas o peso das descobertas recentes pairava sobre ela como uma tempestade iminente.
Ela olhava fixamente para o documento antigo em suas mãos, seus olhos vermelhos analisando cada palavra com uma precisão quase sobrenatural. O papel estava amarelado pelo tempo, mas as revelações que continha eram nítidas e perturbadoras. "Ethan... o que você tem escondido?" sussurrou ela para si mesma, sentindo um nó se formar em seu estômago.
A investigação havia começado como uma mera curiosidade, mas rapidamente se transformara em uma obsessão. Havia algo em Ethan, algo em seu olhar, em sua maneira de evitar certos tópicos, que havia despertado a desconfiança de Alexandra. E agora, com as provas em mãos, ela entendia o porquê.
O silêncio do ambiente foi interrompido pelo som suave da porta se abrindo. Ethan entrou na sala, seus passos quase inaudíveis sobre o carpete grosso. Seus olhos âmbar captaram imediatamente a expressão séria no rosto de Alexandra. “O que você descobriu?” perguntou ele, sua voz baixa e cheia de uma tensão que ele mal conseguia esconder.
Alexandra levantou o olhar, seus olhos encontrando os dele com uma intensidade que fez o ar entre eles parecer mais denso. “Coisas que você não queria que eu soubesse,” respondeu ela, seu tom frio como o vento lá fora.
Ethan suspirou, passando a mão pelo cabelo bagunçado, claramente incomodado. “Você não deveria ter ido tão fundo, Alexandra.”
“Você não deveria ter mentido para mim,” rebateu ela, levantando-se e aproximando-se dele, o documento ainda em suas mãos. “Todos esses anos... e você nunca mencionou isso. Por quê?”
Ele desviou o olhar, incapaz de enfrentar a acusação nos olhos dela. “Não é algo que eu gosto de lembrar,” admitiu, sua voz tingida de uma tristeza que Alexandra raramente ouvira antes. “Há coisas no meu passado que são melhor deixadas enterradas.”
Ela estreitou os olhos, sua raiva momentaneamente substituída por uma curiosidade dolorosa. “Mas por que, Ethan? Eu te conheço como um guerreiro feroz, como um líder leal. Mas isso... isso é algo mais profundo, mais sombrio. Quem é você de verdade?”
Ethan finalmente a encarou, seus olhos revelando um turbilhão de emoções que ele lutava para manter sob controle. “Eu sou um monstro, Alexandra,” ele disse, a voz carregada de amargura. “Um monstro que você nunca deveria ter confiado.”
Ela balançou a cabeça, recusando-se a aceitar suas palavras. “Não, você não é. Eu conheço monstros, Ethan, e você não é um deles. Mas o que quer que tenha acontecido no seu passado, você precisa me contar. Eu preciso entender.”
Ele hesitou, seu corpo rígido como se estivesse se preparando para uma batalha interna. “Foi há muito tempo,” começou ele, sua voz quase um sussurro. “Antes de me tornar o que sou agora. Eu... eu fiz coisas, Alexandra. Coisas que me assombram todas as noites. E não posso mudar o que aconteceu.”
Alexandra permaneceu em silêncio, dando-lhe espaço para continuar. Ela podia ver o conflito em seus olhos, a dor que ele mantinha escondida de todos, até mesmo dela.
“Eu era jovem,” Ethan prosseguiu, sua voz se tornando mais sombria. “Impulsivo. Achava que podia controlar tudo, que era invencível. Mas houve um momento em que falhei. Uma escolha errada, uma aliança traiçoeira... e paguei o preço.”
Ela se aproximou mais, colocando uma mão suave no braço dele. “O que aconteceu?” perguntou, seu tom agora gentil, encorajando-o a se abrir.
Ethan fechou os olhos por um momento, como se estivesse revivendo os eventos que tanto tentara esquecer. “Eu confiei nas pessoas erradas. Eu me juntei a um grupo que prometeu poder e glória, mas tudo o que trouxe foi destruição. Eles... eles usaram meu poder, minha fúria, para seus próprios fins. E eu, cego pela ambição, deixei que isso acontecesse.”
Alexandra apertou suavemente o braço dele, tentando transmitir apoio. “E então?”
Ele abriu os olhos, mas a dor neles era palpável. “Eles traíram a todos nós. Os que sobreviveram foram caçados como animais. E eu... eu fui obrigado a assistir enquanto aqueles que eu amava eram massacrados. Eles me deixaram vivo para que eu sofresse, para que eu carregasse a culpa.”
“E desde então, você carrega esse peso,” disse Alexandra suavemente, começando a entender a profundidade de seu sofrimento. “Você se culpa pelo que aconteceu, mesmo que tenha sido manipulado.”
Ethan balançou a cabeça. “Eu deveria ter visto. Deveria ter parado antes que fosse tarde demais. Mas a verdade é que, no fundo, eu queria aquilo. O poder, a força... e isso me consumiu.”
“E é por isso que você mantém tudo isso escondido,” murmurou Alexandra, mais para si mesma do que para ele. “Você não quer que ninguém veja essa parte de você.”
“Porque é vergonhosa,” Ethan respondeu, seu tom amargo. “Eu não sou o herói que você pensa que sou, Alexandra. Eu sou o monstro que sobreviveu, não o que deveria.”
Ela se aproximou ainda mais, seu rosto agora a poucos centímetros do dele. “Você não é um monstro, Ethan. Você é alguém que sobreviveu a um horror inimaginável. Alguém que carrega o fardo de um passado que não pode mudar. Mas isso não te define.”
Ele a olhou, surpreso pela intensidade e sinceridade nas palavras dela. “Alexandra, você não entende...”
“Eu entendo mais do que você pensa,” ela interrompeu suavemente, seus olhos brilhando com uma determinação inabalável. “Eu também tenho um passado, um que eu não compartilho com ninguém. Mas isso não significa que somos definidos por nossos erros. Significa que somos mais fortes por termos sobrevivido a eles.”
Ethan sentiu um aperto no peito, algo que ele não sentia há muito tempo. A maneira como Alexandra o olhava, como ela via através de todas as camadas de dor e culpa que ele carregava, o desarmava completamente. “Alexandra... eu...”
Ela colocou um dedo nos lábios dele, silenciando-o. “Não precisamos falar mais disso agora. Só saiba que eu estou aqui, Ethan. Estou com você, independentemente do que aconteceu no passado.”
E, pela primeira vez em muito tempo, Ethan sentiu uma fagulha de esperança. Talvez, apenas talvez, ele pudesse começar a deixar o passado para trás. E tudo isso porque, no meio do labirinto de sua mente, ele encontrara alguém que estava disposta a caminhar ao seu lado, não importa o quão escuro fosse o caminho.
A noite continuava fria e sombria lá fora, mas dentro daquela sala, havia um calor que não existia antes. O início de uma nova compreensão, de uma nova aliança que poderia muito bem salvar ambos das sombras que os perseguiam.
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Atualizado até capítulo 26
Comments
Brennda Germany's
aff chega a ficar chato essa curiosidade, deixa o cara, no tempo dele SE ELE QUISER ele vai contar, fica forçando a barra
2024-09-01
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Brennda Germany's
poxa, ela é curiosa de mais
2024-09-01
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