Orgulho

Dias depois...

Rebeca

Estou sentada no escritório da grife frente a frente com Ramiro tentando processar o que acabei de ouvir.

O advogado leu o testamento em voz alta e eu assisti o vídeo gravado pelo Enrico Borelli. Não consigo acreditar...

Esse homem me separa do Lorenzo e agora quer bancar o avô arrependido com a minha filha?

Dou um suspiro antes de dizer indignada:

- Seis anos depois, o poderoso Borelli resolve se lembrar que tem uma neta. E justamente em seu leito de morte. E o Lorenzo então? Enquanto eu criei a minha filha sozinha durante todos esses anos, ele ele simplesmente me ignorou e agora acha que é só ela receber essa herança que está tudo bem?

- Rebeca, o Enrico descobriu a existência da Liz pouco antes de falecer - Ramiro diz - Ele errou em interceptar as cartas, mas se arrependeu. Quanto ao Lorenzo, ele foi tão vítima quanto vocês. Ele não sabia que era pai.

- E você acreditou mesmo nessa história, Ramiro? - Digo com desdém - Eu enviei e-mails, cartas... é difícil acreditar que a notícia da minha gravidez não tenha chegado até eles.

- Beca, se você estivesse presente quando eu li o testamento para o Lorenzo, veria a reação de surpresa dele e da irmã. Eu entendo que pra você tenha sido dificil o fato de levar a gravidez e a criação da Liz sozinha, mas peço que reconsidere e assine o documento de posse da herança que o Enrico deixou pra ela - Ele tenta me persuadir.

- Não, Ramiro - Recuso - Nem a minha filha nem eu precisamos de esmolas dessa familia.

- Beca, deixe esse orgulho de lado e pense na sua filha - O meu amigo pondera - Essa herança pode garantir o futuro da Liz.

- O meu trabalho também garante, Ramiro - Retruco - Eu trabalho incansavelmente pra dar à minha filha tudo do bom e do melhor. Você é testemunha disso. Eu nunca precisei deles e nunca vou precisar!

- Eu não duvido disso - Responde pacientemente - Mas a Liz é uma Borelli e precisa ter os seus direitos garantidos.

- Eu não sei... - Reluto - Preciso pensar.

 - Tudo bem mas pense com carinho, Beca... - Ramiro diz me olhando ternamente - Eu sei o quanto você sofreu com tudo isso, mas não deixe que esse ressentimento te impeça de tomar a melhor decisão.

Coloque a sua filha como prioridade.

Assinto e com os olhos marejados abraço o meu amigo. Sei que o Senhor Enrico está morto, mas não consigo perdoa-lo por ter me separado do Lorenzo. Espero um dia arrancar esse sentimento ruim do coração.

Trabalho o restante da manhã isolada e distante tentando colocar a minha cabeça no lugar.

Lorenzo

Preparo o gerente que ficará responsável por cuidar da filial de Milão e começo a cuidar da minha mudança para Cancún. Bella está mais ansiosa do que eu para voltar a morar no México.

Enquanto embalo os meus pertences, pego o meu pequeno baú de recordações e o abro pela primeira vez em seis anos. Encontro um álbum de fotografias com fotos dos meus amigos, da Rebeca...

Encaro sua fotografia e sorrio. Eu daria tudo pra abraça-la novamente. Meu coração se aperta quando penso em tudo o que ela passou sozinha graças a intransigência do meu pai.

De repente o meu telefone toca, olho o nome no visor.

- Oi Marjorie! - Digo ao atender.

- Oi, meu amor. Só estou ligando pra avisar que já cheguei em Cancún. Estou ansiosa pra te ver.

- Eu também. E quero muito rever os meus amigos, mas eu tenho uma coisa importante pra te contar - Digo.

 Ainda não falei com Marjorie sobre Liz. Não conseguimos nos encontrar depois da leitura do testamento, mas preciso contar a ela para que não seja pega de surpresa.

- Pode ser depois, Lorenzo? Estou um pouco cansada. Preciso de um banho - A loira diz.

- Ok - Digo vendo Bella entrar no quarto - Beijo - Desligo

Minha irmã faz uma careta me causando risos. Ela nunca gostou de Marjorie.

- Só vim avisar que o almoço está pronto - Diz ainda rindo.

- Tá bom,maninha... - Respondo - Só não sei se vou conseguir comer. Estou ansioso - Respondo.

- Pra ver a Rebeca? - Bella levanta a sobrancelha sugestivamente.

- Eu não quero criar expectativas. Quase seis anos se passaram, eu não sei se a Beca vai me perdoar. Mas sim quero vê-la e ver a minha filha - Sorrio fraco.

- Maninho... - Ela toca o meu braço - Não importa o que acontecer entre você e a Rebeca, promete que vai lutar pela sua felicidade? - Me olha nos olhos.

- Com certeza! E o primeiro passo é convencer a minha irmã querida a morar comigo na mansão - Digo abraçando-a pelo ombro.

- Lorenzo, não se preocupe comigo. Eu posso morar na cobertura que eu herdei do papai - Ela diz.

- Por favor, mana. Eu vou me sentir tão sozinho ali. Deixe a cobertura fechada ou alugue, mas fique comigo, por favor. Pelo que o Toni disse por telefone, o seu quarto lá em casa está intacto, do jeitinho que você deixou. Quando você se casar, você vai para a cobertura.

Bella cai na gargalhada:

- Casar? Só você mesmo, Lorenzo. Bom, eu não queria te incomodar, mas já que você insiste...eu aceito! - Ri - Agora vamos almoçar que ainda temos uma longa viagem pela frente.

- Ok - Nos dirigimos abraçados para a cozinha.

Rebeca

Estou sentada no escritório com Valentina analisando os desenhos das novas coleções quando de repente a porta se abre, mas continuo ali concentrada em meu trabalho. Sinto duas mãos fortes taparem meus olhos. Sorrio e digo:

- Miguel... - Sinto um beijo suave no pescoço e coro enquanto ele descobre os meus olhos - Amor, a Valentina...

- Opa! Façam de conta que eu não estou aqui - Ri levantando as mãos - Bom, amiga. Agora que o seu boy chegou podemos dar uma pausa? O Andrey e eu combinamos de almoçar juntos e eu estou azul de fome.

- Claro, amiga. Vai lá... - Sorrio.

Valentina pega a sua bolsa e se despede jogando beijinhos no ar.

- Bom, eu vim convidar a minha namorada pra almoçar também - Miguel diz me dando um selinho após a saída da minha amiga.

- Oh meu amor. Eu tenho que buscar a Liz em casa para levá-la ao colégio - Digo sem graça já me levantando e organizando a papelada da mesa.

- Sem problemas, a gente busca a pequena e saímos os três para almoçar juntos. Podemos leva-la para tomar sorvete depois. Há tempos venho prometendo isso para ela - Sorri

- Ahhh... Então o Doutor Miguel anda prometendo sorvetes para a minha filha? - Coloco as mãos na cintura com os olhos semicerrados e ele ri.

- Você sabe que eu não consigo negar nada pra ela - Sorri divertido.

- Ok, mas só hoje. Não gosto que a Liz fique tomando sorvete direto. Você sabe que ela adoece fácil - Digo.

- Sim senhora - Miguel faz continência em tom de brincadeira - Prometo que é só hoje. E se a nossa princesa ficar resfriada, o melhor pediatra aqui cuidará dela - Diz convencido.

Assinto rindo enquanto me aproximo do meu namorado:

- Pare de mimar a minha filha viu? Depois sou eu que sofro quando ela fica mal acostumada - Seguro-o pelo colarinho antes de lhe dar um selinho - Bom, vou só passar no toalete e saimos - Ele sorri assentindo e me beija novamente.

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