Grávida? (Parte II)

Emílio

Grávida, a minha filha grávida! Onde foi que eu errei? Eu sempre batalhei para criar a Rebeca.

Não foi isso que eu sonhei para a minha menina. Eu queria pra ela um futuro diferente do meu e da mãe.

No leito de morte da Liz, eu prometi que a Rebeca iria estudar e ser alguém na vida. E agora como vai ser? Como ela vai estudar sendo mãe solteira?

Eu sei que a minha filha precisa do meu apoio nesse momento,mas confesso que estou em choque. Não sei o que fazer.

Chorando com o rosto entre as mãos, sinto alguém afagar as minhas costas. Levanto os olhos e vejo a minha patroa me olhando comovida. Envergonhado pela cena que armei na mansão, digo:

 - Dona Mariana, me perdoe pelo escândalo que fiz na sua casa. Mas eu estou desesperado. Desde que a minha esposa se foi, eu batalhei pra nunca faltar nada à Rebeca. Eu sempre tive os melhores planos para a minha filha. Eu estava feliz de vê-la se formando, entrando na faculdade. Agora tudo isso foi por água abaixo por causa dessa gravidez.

- Emílio, por favor - Ela diz - Agora eu vou falar - Assinto e ela continua enquanto se senta ao meu lado - Eu tinha exatamente a mesma idade da Rebeca quando o Mártin nasceu. A minha vida estava uma loucura. Enquanto eu tinha a minha carreira de modelo, fazia faculdade e ainda ajudava o meu marido na produtora. Eu consegui conciliar tudo isso com a maternidade e o meu casamento. A vida de uma mulher não acaba só porque ela virou mãe.

- A senhora fala isso, porque é rica. Quando se tem dinheiro, tudo é mais fácil - Retruco - Agora com a Rebeca grávida, é mais uma boca pra alimentar. Ela vai ter que trabalhar dobrado pra sustentar esse bebê. O sonho da minha filha fazer faculdade já era.

- Não fala assim, Emílio. Eu me propus a pagar a faculdade da Rebeca e não vou voltar atrás. E na questão do trabalho, eu posso ajudar também. Vocês podem contar comigo pra tudo - A mulher diz.

- A senhora tem um coração muito bom - Digo emocionado.

- Emílio, quando eu fiquei viúva, a minha vida deu uma grande reviravolta. Eu me vi sozinha, com dois filhos pequenos, uma empresa, uma mansão e uma herança pra administrar. Você chegou aqui com a Rebeca pequenininha - Rimos emocionados - Vocês trouxeram a alegria de volta pra essa casa. Graças a sua ajuda, consegui seguir em frente. Você sempre foi mais que um simples funcionário, Emílio. Você é meu amigo. E a Rebeca... - Sorri ternamente - A Beca é como uma filha pra mim. Parece que foi ontem que eu a vi com seis aninhos chegando com você nessa casa e fazendo amizade com os meus filhos.

- Eles corriam pela casa deixando a babá louca - Digo e rimos.

- Emílio, esse bebê que a Rebeca espera, não foi planejado, mas vai ser a maior benção nas nossas vidas. Eu não posso dizer que vai ser fácil. A maternidade não é nenhum mar de rosas, mas a Rebeca precisa de apoio, não julgamentos - A mulher diz.

- A senhora tem razão - Digo enxugando as lágrimas.

- Então vamos! - Estende a mão pra mim - Você e a sua filha têm muito o que conversar.

Rebeca

- Beca, toma um pouco. Vai te fazer bem - Mártin insiste para que eu beba o copo de água trazido instantes atrás.

- Não quero, Mártin. Só queria morrer agora - Digo com a voz embargada.

- Pelo amor de Deus! Não fale essas coisas, Beca! - Andrey me repreende.

- Eu decepcionei o meu pai, ele está sofrendo por minha culpa - Respondo chorando,

- Rebeca... Até parece que você não conhece o seu pai - Valentina sorri - Ele ficou em choque assim como todos nós, mas ele te ama, amiga - Ela pousa a mão sobre a minha barriga e sorri - Quando você descobriu?

- Hoje a tarde. Quando passei mal, fui ao médico com o Mártin e a Jazmin - Digo cabisbaixa.

- Ahhh! Então a Jaz e o meu irmãozinho querido souberam antes de todos nós? - Faz bico fingindo-se de magoada.

- Desculpa... - Sorrio fraco - E desculpa também por estragar o seu aniversário - Digo sem graça.

- Que estragar, amiga? - A loira sorri - Eu vou ser titia! Dá pra acreditar? É o melhor presente que eu poderia receber - Diz orgulhosa - Você já marcou o pré-natal?

- Ainda não - Abaixo os olhos me lembrando das condições em que saí da clinica - Eu ainda estou processando tudo o que aconteceu. Acho que a primeira coisa que vou precisar fazer é trancar a faculdade. Agora tenho que trabalhar em dobro pra sustentar esse bebê.

- Nada disso - Mártin retruca - Você vai para a faculdade. Agora mais do que nunca, você precisa ter uma boa profissão pra conseguir garantir o futuro do seu filhinho que está vindo. E depois, é o seu sonho, Beca. Você não pode abandona-lo assim.

- Mas Mártin...

- Não tem mas nem meio mas - Valentina diz séria - Gravidez não é doença. E a minha mãe já se propôs a pagar a sua faculdade.

- Eu sei, amiga... E eu agradeço de coração, mas a minha preocupação é quando o bebê nascer - Digo.

- Vai dar tudo certo, Beca - Andrey pousa a sua mão sobre a minha - E de uma coisa você pode ter certeza: Esse bebezinho já tem um tio babão - Sorri.

- Dois - Mártin diz divertido.

- Uma titia babona também - Valentina levanta a mão.

Todos rimos e nos juntamos em um abraço coletivo.

De repente o meu pai aparece na porta com cara de choro:

- Vocês podem me deixar a sós com a Rebeca?

- Claro! - Valentina diz e se retira de mãos dadas com Andrey.

- Emílio... - Mártin diz - Pega leve com ela tá?

- Fique tranquilo, Senhor Mártin. Eu só quero conversar com a minha filha - Meu pai diz.

O loiro assente, dá um beijo no meu cabelo e se retira relutante enquanto eu olho para minhas mãos.

- Rebeca - Ele começa - Eu não vou mentir, fiquei enfurecido quando soube da sua gravidez. Mas não com você e sim com aquele playboy...

- Lorenzo, papai. O nome dele é Lorenzo - Interrompo.

- Que seja. Eu fiquei atordoado. Você é muito jovem ainda. Não vai ser nada fácil criar um filho com a sua idade. Mas eu estou disposto a te ajudar. Quero que você termine os estudos, faça faculdade e tenha sua profissão. Como eu disse, não vai ser fácil, mas você tem todo o meu apoio, assim como o da Dona Mariana. Eu vou amar muito o meu netinho - Ele sorri suavemente.

Abraço o meu pai entre lágrimas e ele diz com a voz embargada:

- Minha menininha cresceu...

- Eu te amo, papai - Digo.

- Eu também te amo, filha. A Dona Mariana me fez ver o quanto minha reação foi exagerada e te assustou. Eu confesso que fiquei em choque, mas peço que me perdoe - Se afasta do abraço e pega uma das minhas mãos.

- Não tenho o que perdoar, papai. Eu te entendo - Aliso o seu rosto.

- Agora essa nova mamãe, precisa se cuidar mais. Quando você começa o pré-natal? - Ele pergunta voltando a ser o mesmo Emílio doce de sempre.

- Vou tentar marcar - Respondo.

- Tudo bem. Vamos para a sala então? Hoje é o seu aniversário, precisamos comemorar. Além do mais, tem uma mesa cheia de coisas gostosas e agora a senhorita tem que comer por dois. Ele toca o meu nariz e eu dou uma risadinha. Abraçados, saímos do quarto e nos dirigimos à sala onde Valentina e eu comemoramos a chegada dos nossos 18 anos e agora, a vinda do meu bebê.

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