Capitulo 11: O tempo de um Ômega

Aos trinta e seis anos, ele quitou o financiamento do apartamento. Isso foi dois anos antes do prazo previsto. Aliás, isso não foi difícil, que gastos poderiam ter um ômega sem filhos e marido? Ele logo vendeu o apartamento e comprou outro, mais perto do trabalho e do centro, em um bairro que ele tinha se afeiçoado, bem próximo ao parque central da cidade. É verdade que teve que pegar outro financiamento, mas isso não assustava Lucas, ele tinha um salário estável.

Mas, por mais que Lucas pensasse, o mundo ao seu redor estava mudando. No trabalho, primeiro contrataram um jovem ômega, depois outro. Aos poucos, a regra não escrita da empresa: "Apenas alfas e betas" foi se dissipando. E então ocorreu um escândalo. Um dos ômegas, após trabalhar na empresa por apenas um ano, moveu uma ação judicial contra ela. Ele os acusou de discriminação e de negar sua promoção com base em seu sexo. A argumentação era sólida: não havia nenhum ômega em cargo de liderança na empresa.

- Que cretino! - Antônio\, o novo chefe do departamento\, sacudiu os ombros - Agimos com toda a simpatia com ele\, dando atenção e conforto e olha o que fez\, nos denunciou para toda a cidade\, senão para o país inteiro.

Lucas não gostava muito de Antônio, ele era muito convencido. Mas mesmo assim eles trabalhavam bem juntos. Ainda assim, Lucas sentia falta de Jô, que havia se mudado junto com seu alfa para outra cidade.

- Enfim\, você teve sorte\, Black - continuou Antônio\, enchendo o peito de ar - você está sendo promovido! Você será o meu vice-chefe de departamento.

- Por que eu? - Lucas perdeu o fio da meada.

- A diretoria achou que você seria melhor do que ele. E assim matam dois coelhos de uma vez só: mostram que na empresa até um ômega pode ter crescimento profissional\, e colocam alguém competente no cargo.

Lucas não se importava, o dinheiro, com seu financiamento, não seria demais. Mas ele ficou incomodado em receber a promoção por falta de opção, ele teria preferido uma formulação diferente.

Aos trinta e oito anos, seus ciclos de cio se tornaram irregulares, em vez dos usuais três, passaram a ocorrer a cada quatro ou cinco meses. Seu período fértil estava chegando ao fim, escorregando por entre os dedos como areia, e Lucas nada podia fazer a respeito. Ele estava envelhecendo. Ou melhor, murchando. Lucas parecia pelo menos cinco anos mais novo que seus colegas, talvez mais. Ele permaneceu magro, em forma e bonito. Mas o que isso importava? Ele viveu sua vida em vão. Mas isso de que adiantava? Ele havia desperdiçado sua vida.

Lucas decorava o apartamento ao seu gosto. Passeava no parque favorito, viajava de férias para o mar e as montanhas, sentindo a cada minuto que a vida passava por ele.

Aos quarenta anos, ele ainda era virgem e solitário, como aos dezesseis. O que ele não podia saber era que o destino tinha outros planos para ele. E esse destino já estava batendo à sua porta.