Capítulo 4 - Um ômega Sozinho

- Você é muito sério demais - insistiam seus colegas de classe ômegas - eles só estão com medo de se aproximar de você. O que custa você dar pelo menos um sorriso amigável?

Então, Lucas se decepcionou com mais um mito - o mito dos alfas determinados e autoconfiantes. Os alfas precisavam apenas se sentir fortes, não necessariamente serem de fato. Por isso, eles gostavam de ômegas fracos, flertando e indefesos, ou daqueles que fingiam com sucesso. Lucas se sentiu enganado. Afinal, deu certo: se você quer se casar, minta, e se quiser passar a vida inteira feliz no casamento, minta a vida toda.

Depois dessa descoberta desagradável, algo em Lucas se quebrou. De repente, ele não ligava mais. O futuro sozinho pareceu a ele um mal menor do que se humilhar pelo cheiro do alfa na casa.

Falando em cheiro, Lucas não era chegado a isso. Ele sentia o cheiro dos alfas bem claramente, às vezes até mais que outros ômegas, que ficam meio zonzos com o tal cheiro. Mas, mesmo assim, os alfas não pareciam atraentes pra ele por causa do cheiro. Ele julgava eles por outras qualidades.

Então, sem se distrair com romances e outras graças, Lucas facilmente se tornou o melhor aluno da faculdade. Muita gente - alfas, ômegas e até betas - pedia ajuda dele, pra copiar apontamentos ou pedir ajuda com as tarefas. E Lucas nunca negava, nem cobrava nada, já que ele mesmo não tinha nada pra fazer à noite mesmo.

O pai ômega e o pai alfa às vezes brigavam por causa disso, quando achavam que ninguém tava ouvindo.

- Todos os seus colegas já casaram - dizia o pai ômega\, irritado -\, e aqueles que se formaram no ano seguinte também. Até o Sam Mitchell! E ele é vesgo e tem uma perna mais curta que a outra\, mas tá grávido mesmo assim! E o Samuel Longton! Esse tem até o lábio leporino e é míope! Todos já arrumaram seus alfas! Só o nosso nem a tatuagem no dedo tem ainda. Logo vou ter vergonha de olhar pros vizinhos! E o que eu vou dizer pro tio Fred? Toda vez que ele liga\, pergunta se a gente não vai chamar ele pro casamento do Johnny.

- Ah\, para com isso\, o menino tem só vinte anos - rebatia o pai alfa -\, ele ainda tá estudando. Quando acabar\, se formar e começar a trabalhar\, com certeza vai arrumar alguém\, e não vai ser um estudante sem grana\, vai ser um alfa certinho.

- E pra que ele precisa de um alfa certinho? Você não tá vendo? Ele não tem muita beleza\, e com o tempo provavelmente não vai ficar melhor. Nem sente o cheiro direito\, a não ser que enfie o nariz na cabeça dele. E nem tem aquela esperteza e jeito de casa que os ômegas têm! Quem vai querer ele? De onde vem essa frescura toda? E no trabalho\, você acha que tem monte de alfa solto por aí? tem quantos na sua empresa?

- Bem\, não são muitos\, mas com certeza tem uns! - o pai alfa argumentava fraquinho\, acostumado\, depois de anos juntos\, a deixar o marido desabafar\, senão a conversa ia até de manhã.

- Ah\, sim\, um com tanta pensão pra pagar que mal consegue se sustentar\, e outro\, um bêbado sem jeito! Que opção ótima\, hein! E com qual desses você imagina o Lucas? Pode falar\, não tenha vergonha!

Lucas nem quis ouvir mais. Ainda não tava pronto pra admitir a decisão de não se juntar a nenhum alfa. Então, teve que começar a fingir. Superando aquela birra, ele começou a ir mais nas festas com os colegas, pra ficar cheirando a alfas.

O pai ômega, todo sorridente, cheirava aqueles perfumes e aconselhava o filho a ir devagar e escolher com cuidado, porque, mesmo nessa época moderna em que o divórcio é permitido, tirar aquela marca leva anos de terapia hormonal chata. O pai alfa, escondido do marido, aconselhava o filho a esperar até se formar pra casar. Lucas entendeu que o pai via nele a continuação de si mesmo e, como os três filhos eram ômegas, queria que pelo menos um fosse ambicioso e decidido. Lucas nunca foi decidido, ele era só inteligente mesmo.

Mas isso já bastava. Na frente do pai ômega, ele fingia ser um ômega interessado em casar, e na frente do pai alfa, um ômega sensato e de espírito forte, quase um alfa.

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Até amanhã! 😊

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