O casamento

Meu coração dispara, parecia que sairia pela boca. Estou usando um véu vermelho que cobre meu rosto. Estou cheia de joías e adereços que me deixam ainda mais bonita.

O salão está deslumbrantemente decorado com cores vibrantes e detalhes exuberantes que evocam a rica cultura indiana. Guirlandas de flores pendem dos tetos, criando um arco colorido sobre o espaço onde ocorrerá a cerimônia. Tecidos finamente bordados adornam as paredes, acrescentando um toque de elegância e sofisticação.No centro do salão, um altar ornado com flores frescas e velas acesas espera os noivos. Bancos de madeira esculpida são dispostos em fileiras para os convidados, oferecendo-lhes um assento confortável para testemunhar o sagrado ritual.

Estou lado a lado com o meu futuro marido, olho para ele por baixo do véu. Posso sentir a tensão no seu corpo.

Mas uma coisa não posso negar, ele é muito bonito. Percebo pelo seu maxilar e a forma como segura as mãos que Raj está tenso, assim como eu.

As paredes estão adornadas com tecidos bordados à mão, cada ponto contando uma história de tradição e beleza. Velas alinhadas ao longo dos corredores lançam uma luz suave sobre a multidão de convidados, que se acomodam em bancos esculpidos com cuidado, ansiosos para testemunhar o sagrado ritual que está prestes a começar.

O pandit (homem estudioso e respeitado) recita mantras antigos, e o som de suas palavras enche o ar com uma reverência solene. O aroma do incenso flutua ao meu redor, envolvendo-me em uma nuvem de serenidade e devoção. Eu fecho os olhos por um momento, respirando fundo, buscando forças para enfrentar o que está por vir.

Então, chega o momento da troca dos colares de flores, o ápice da cerimônia.

O momento mais esperado por todos, é somente após a troca dos colares que estamos realmente casados. É como a colocação de aliança no mundo ocidental.

Raj está diante de mim, os seus olhos me procurando. Ele levanta o véu que cobria o meu rosto. E finalmente pode me ver.

Ele me olha com certa surpresa, e me dá um sorriso timido. E por outro lado me mantenho neutra.

Raj segura uma guirlanda de jasmim e rosas vermelhas, com as mãos trêmulas com a expectativa do que está por vir.

Eu seguro outra guirlanda feita de crisântemos e lírios brancos, meu coração pulsando em meu peito enquanto me preparo para este momento crucial.

Nossos olhares se encontram em um instante de conexão silenciosa. Com mãos trêmulas, colocamos os colares um no pescoço do outro, nossos dedos se tocando em um gesto de compromisso mútuo. As flores se entrelaçam em um emaranhado de cores e aromas, agora nossa união está selada.

Somos completos desconhecidos destinados a viver uma união sem qualquer amor ou carinho. Agora sim, tudo parecia perdido. Meu coração dispara, meu peito dó, não consigo respirar.

Logo a cerimônia se encerra e a festa começa. As pessoas vem nos cumprimentar.

Os primeiros são nossos pais.

- Parabéns Kali seja bem-vinda a nossa família. Espero que seja uma boa esposa para meu filho. Diz Mamadi me olhando com certo nojo e desprezo.

- Eu não contava com isso. Se eu fosse você. Eu digo a olha por cima, não vou baixar a cabeça a ninguém. Ela me olha séria e abraça Raj.

Em seguida meus Pais nos cumprimentam e depois os demais convidados.

Seguimos para a área da festa.

A música tocava, as pessoas dançavam e havia muita comida. Com fartura e até certo exagero.

Duas poltronas enfeitas com tecidos coloridos e almofadas estava nos aguardando. Raj segura a minha mão para irmos até as poltronas, mas eu afasto a minha mão.

Percebo que duas mulheres me olham com certo rancor. Ambas estavam e lados opostos uma da outra. Mas me olham como se não gostassem do fato de nos ver casados.

- Oi! Podemos falar um pouco? Diz Raj

- Desculpe! Não me sinto bem. Com licença eu digo, me levanto da poltrona e saiu andando em direção a área externa. A festa estava sendo realizada na casa dos meus Pais. O lugar é enorme e tem três andares. Estavamos na área do pátio que foi projetada exatamente para as grandes festas. E a casa fica nos andares superiores.

- Onde ela está indo? Pergunta Mamadi ao seu filho com arrogância. Estou vendo que minha sogra será um desafio.

Eu não consigo ouvir o que Raj responde. Mas continuo andando, em direção a área externa. A casa fica no alto, e temos uma espécie de varanda enorme que nos permiti ter a visão da cidade. Encosto no beiral, me inclino e tento respirar.

"Eu não queria isso. Não devia ter voltado, eu penso"

- Kali? Uma voz suave me chama. Quando olho é Raj.

- Você de novo! Eu respondo.

- Você está bem? Ele pergunta.

Eu me fico ereta e viro para ele, estamos frente a frente.

- Não! Não estou! Eu nem queria estar aqui...eu nem queria me casar. Tudo isso é uma droga. Eu digo e vou andando.

Ele segura em meu braço e me puxa para junto de seu corpo. Nossos corpos se encostam e ele olha fixamente em meus olhos.

- Não se esqueça, que eu estou no mesmo barco que você. Se acha que eu também queria...está enganada. Ele diz.

- Não sabe como me agrada ouvir isso. Eu respondo e puxo meu braço para que me solte.

- Com licença quero ficar sozinha. Eu digo e vou andando.

- Mas e a festa? Os convidados? Ele diz enquanto continuo andando sem olhar para trás.

- Não estou nem ai! Eu não convidei ninguém. Eu grito e subo para casa, vou para meu quarto e me deito na cama.

Minutos depois escuto vozes falando bem alto. E os gritos me chamando:

- Kali? Kali? Kali?

Percebo que é a voz da minha Mamadi e de outra mulher que eu não reconheci.

A porta do quarto é aberta e minha Mamadi entra acompanhada da Mamadi de Raj.

- Ah é você! Eu digo ao olhar para ela.

- O que está fazendo? Ela fala irritada.

- Perdão, não sabia que a Sra tinha dificuldade com a visão. Estou deitada. Eu respondo com irônia.

- Você não vai envergonhar a minha família. Retorne a festa agora mesmo. Ela grita.

- Não estou me sentindo bem. Eu digo.

- Kali Kapadia. Não fale assim com a Sra Mahara.

- Você é muito mal-educada e insolente. Grita a minha querida sogra. Eu continuo com a mesma cara de "não estou nem aí".

- Mamadi! Grita Raj a porta.

- Raj ela é...

- Chega! Saiam e me deixem a sós com a minha esposa. Ele diz e elas saem.

- Precisamos conversar. E precisa ser agora! Ele diz com firmeza.

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