A Bela E A Fera Do Morro
8 anos atrás
Promete pra mim que, se a gente se afastar tanto ao ponto de eu fingir que não conheço você. Me dá um um chocolate branco? – ela me olha seria
Por que isso? – rio pensando nisso
Porque aí eu vou saber que alguém me amou um dia – ela sorri e se levanta – vou nessa ta? – ela toca a ponta do meu nariz como sempre faz e vai embora.
Agora...
Essa lembrança foi um dia antes do meu pai se tornar o Dono do Morro, depois disso, a mãe dela tirou ela do morro, nunca mais deixou voltar.
Disse que o pai dela deixava que ela andasse com filhos de bandidos e ele perdeu totalmente a guarda. Não ouvimos mais falar dela.
Agora eu sou o que sou, não sou dono de nada aqui, mas tenho muitos privilégios. Não vou mentir e dizer que não gosto, mas eu nunca envolvi meu coração nisso.
Sobre o pai dela? Eu e meu pai cuidamos dele, nos últimos anos ele ficou muito doente e não tem como se sustentar ou se cuidar sozinho.
As pessoas tem a mania de categorizar as pessoas de favela, sim, existe gente ruim, existem pessoas más, mas, tentamos ser um meio termo dos dois.
Hoje tem uma festa na praia perto daqui, não é só com o pessoal do morro, é livre pra todo mundo que quiser ir.
Me arrumo e fico cheiroso, vai que eu tenho sorte hoje, coisa que eu sempre tenho na verdade.
Esqueci de falar, meu nome é Rael, tenho vinte anos e de certo modo uma vida cheia de privilégios que nem todos admitiram que iam querer viver, apesar de ter algum custo, eu gosto.
Lucas: vamos logo porr@, parece menininha – ele aparece na minha porta
Rael: mano, perfeição leva tempo – ele revira os olhos e me mostra o dedo, depois sai rindo
Não demoramos muito pra sair de casa e mais ou menos uma hora e meia depois, estamos na tal festa, aqui é cheia de gatas.
Moleque: cara ela tá aqui – ele vem com uma cerveja na mão
Rael: de quem tu tá falando mano? – o Lucas sorri
Lucas: a patricinha gata que nunca dá mole pra ninguém – eu rio
Rael: tem certeza que ela curte homens? – os dois riem
Moleque: ela não curte ninguém mano, tô falando – sorrio
Rael: mostra ela aí cara – vou andando no meio da multidão e quando a vejo, eu não escuto mais nada, vou até ela e ela sorri pra mim.
Luna: oi, como posso ajudar você? – ela me olha de cima a baixo, mas não tem malicia no olhar, ao contrario das amigas
Rael: tá me zoando não tá? Você realmente não sabe que eu sou? – passo a mão no cabelo, ela tá me deixando nervoso
Luna: desculpa, mas, não conheço você – ela morde o lábio e sorri pra mim – curte a festa tá?
Saio dali e vou pro meu carro, porque eu lembrei dela hoje? Por que apareceu do nada? Alguém tá me zoando, se não é esses filho da put@ que eu ando e algum poder maior.
Eu sei o que tenho que fazer, ela pode fingir, mas ela sabe quem eu sou, ela prometeu. Eu sei, eu mudei, mas ela sabe, eu sei que sabe.
Saio com meu carro e vou no primeiro posto de gasolina que eu acho, procuro o chocolate preferido dela e volto pra festa. Ela tá no mesmo lugar e eu paro na frente dela.
Luna: esqueceu alguma coisa? – ela sorri
Rael: nunca – pego o chocolate no meu bolso e estendo a mão pra ela, que se levanta e vem até mim sorrindo, pega o chocolate da minha mão e toca a ponta do meu nariz como ela sempre fez
Luna: não acredito que você lembrou disso – ela ri e abre a embalagem do chocolate, morde um pedaço e pega outro me olhando
Rael: eu não acredito que você fingiu mesmo que não me conhecia – ela me olha seria e coloca o chocolate na minha boca
Luna: isso não fazia mais diferença – ela da de ombros e chega mais perto de mim sussurrando – acho que seus amigos pensam que você vai se dar bem hoje a noite – ela ri e eu olho pra trás
Os dois palhaços tão cantando vitória como sempre.
Rael: são idiotas, relaxa, eu não vou inventar mentiras sobre isso – ela concorda e ia voltando pras amigas, mas eu pego a mão dela – eu preciso falar com você Luna
Luna: por que se importa tanto comigo? – ela me olha novamente e larga minha mão – olha pra você Rael, você não é mais aquele menino
Rael: tá me chamando de bandido igual a tua mãe? – ela sorri
Luna: não, tô te chamando de homem, você não vai encontrar em mim aquela menina que você conheceu – ela suspira – como pode achar que eu iria categorizar você Rael?
Rael: porque é o que todas vêem, é o que suas amigas tão olhando – ela revira os olhos
Luna: elas não conhecem o Rael por trás disso tudo aí e o problema é que eu não conheço mais também – ela parece ficar triste e baixa o olhar
Rael: e o seu pai? Você conhece? Ou esqueceu dele também? – levanto o queixo dela e ela ainda me olha triste
Luna: qual a diferença? Ele morreu faz tempo – ela da um sorrisinho sem graça – já superei isso
Rael: Luna, quem falou isso pra você? – ela olha nos meus olhos – ele não morreu, ele mora com a gente
Luna: mentira – ela tira minha mão do rosto dela
Rael: vem comigo então – estendo a mão pra ela – ou ficou covarde com a nova vida?
Vejo raiva no olhar dela, ela vai até as amigas, pega as coisas dela e pega a minha mão, não sei como eu fico em pé, tento não tremer perto dela, mas tá acontecendo alguma coisa comigo, ela acordou algo em mim que eu achei que já tinha matado a muito tempo.
Entramos no meu carro e eu dirijo de volta ao morro.
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Atualizado até capítulo 25
Comments
Thayna Montezi
posta mais autora
2024-02-28
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