Três Vidas, Um Destino: Entre Amores & Desafios (Em Revisão)

Três Vidas, Um Destino: Entre Amores & Desafios (Em Revisão)

Capítulo 1: Noite Quente em Luanda

A noite de julho estava pesada, abafada, como tantas outras noites em Luanda. Osvaldo sentava-se na sala, sentindo o calor que parecia vir das próprias paredes. Um livro estava em suas mãos, mas ele folheava as páginas sem interesse. O silêncio dentro de casa era perturbador. Um silêncio que já vinha há algum tempo, alimentado por um mal-estar que ele não sabia explicar.

Lá fora, a cidade não parava. O som dos carros misturava-se ao barulho das pessoas nas ruas, mas ali dentro... o vazio era sufocante.

— Osvaldo, — chamou Celma, sua voz vindo da cozinha.

Ele hesitou. Não foi de imediato. Ficou sentado, encarando a porta por alguns segundos, como se já soubesse que algo estava por vir. Havia uma resistência no seu peito, como se alguma coisa dentro dele dissesse para não ir. Mas, ainda assim, ele se levantou, devagar.

A cada passo que dava em direção à cozinha, seu coração batia mais rápido. Quando entrou, viu Celma de costas, parada junto ao balcão, mexendo em alguma coisa. A luz fraca da cozinha iluminava o rosto dela de um jeito que ele não conseguia ver de imediato as lágrimas.

— O que se passa? — perguntou, cruzando os braços, com um pé de fora da cozinha, como se já quisesse sair dali.

Ela demorou a virar. O silêncio era opressor, como se o ar estivesse preso entre eles. Quando finalmente se virou, ele viu: os olhos dela estavam vermelhos, lacrimejando, e as mãos tremiam enquanto seguravam o pano de prato.

— Eu... — começou Celma, mas a voz dela sumiu. Ela tentou de novo, mas parecia que as palavras pesavam demais na língua. — Osvaldo, eu não tenho sido honesta contigo.

Ele estreitou os olhos, a testa franzida. Algo no tom dela fez seu estômago revirar.

— Honesta como? Fala logo, mulher. O que tá acontecendo?

Ela respirou fundo, como quem vai saltar de uma altura enorme. Celma olhou para ele, mas logo desviou o olhar, mordendo os lábios, segurando as lágrimas. Ela estava prestes a desmoronar.

— Eu falhei contigo... — disse ela, em voz baixa. — Falhei feio...

Osvaldo franziu ainda mais a testa. Algo frio tomou conta dele.

— Tás a falar o quê? Fala direito, Celma.

Ela apertou o pano de prato com mais força, as lágrimas começando a escorrer.

— Eu... Eu traí-te, Osvaldo.

Por um instante, o silêncio engoliu tudo ao redor. Osvaldo sentiu o chão sumir sob os seus pés. As palavras dela pareciam ecoar pela casa.

— Quê?! — A voz dele saiu em um tom entre descrença e fúria, o corpo congelado na porta da cozinha. — Tu tá a brincar comigo, né? Me traíste?! Com quem, Celma?

Ela baixou a cabeça, incapaz de olhar para ele.

— Não foi assim... Não era pra ser assim... Eu tava perdida, sozinha...

Osvaldo sentiu o sangue subir para a cabeça. Sua mão cerrou num punho e ele deu um murro na parede ao lado da porta, com tanta força que o som ecoou pela casa.

— Cacete, mulher! Com quem?! Fala logo! — gritou ele, a voz tremendo de raiva.

Celma chorava, as palavras saindo entrecortadas.

— Foi... foi na academia. O nome dele é Paulo... Paulo Tomás. Eu... me senti sozinha, Osvaldo. Tu nunca tava em casa, sempre no trabalho, nas tuas viagens, — continuou Celma, as lágrimas correndo pelo rosto. — Eu sentia falta de ti. Ele apareceu... começou como uma amizade, mas depois...

Osvaldo sentiu o coração disparar. Sua mente girava, tentando processar tudo. As palavras dela pareciam facadas, uma por uma, cortando a carne e deixando a dor se espalhar. Ele deu alguns passos à frente, com a respiração pesada, mas parou no meio do caminho, os olhos fixos nela.

— Como tu foste capaz, Celma? — perguntou, a voz quase inaudível. — Eu aqui, a dar o meu suor pra essa família, e tu a deitar com outro?

Ele andou pela cozinha como uma fera enjaulada, respirando fundo, tentando controlar a raiva que fervia dentro dele. A ideia de outro homem tocando na sua mulher o consumia.

— Eu devia ter ouvido! — Osvaldo gritou de repente, a voz ecoando pela cozinha. — Aquela academia! Aquela maldita academia, sempre desconfiei! Mulher minha metida nisso não dá certo. Eu falei, falei mil vezes, e olha só...

— Não era assim, Osvaldo! — interrompeu Celma, as lágrimas agora rolando livremente. — Eu não fui pra te trair... aconteceu! Eu... eu me senti sozinha, entendes? Tu nunca tavas aqui.

— E tu achas que isso justifica?! — retrucou ele, a raiva subindo mais um degrau. — Traição é traição, Celma! Mulher que trai é porque quer, não tem desculpa! Quem trai uma vez trai duas! E agora? Vai dizer que o gajo era só um amigo? Que tava só a ouvir os teus problemas?

— Eu sei que errei, mas... — Celma tentou falar, a voz se quebrando. — Eu sentia-me invisível, Osvaldo. Só te importavas com o trabalho. Eu... eu tava perdida!

Osvaldo a encarou, os olhos cheios de fúria e dor, sem acreditar no que estava ouvindo. Ele passou as mãos pelo cabelo, exasperado, tentando manter o controle, mas cada palavra de Celma era como jogar gasolina no fogo.

— Perdida? Perdida?! — Osvaldo começou a rir, uma risada amarga, cheia de sarcasmo. — E a solução foi dar em cima de outro homem? Ah, claro, essa é a tua desculpa? Tu achas que vou engolir essa merda, Celma?

— Eu não tô a pedir que tu entendas... — disse ela, entre soluços. — Eu tô a ser honesta porque não aguentava mais. Eu amo-te, Osvaldo, mas...

— Não me fales de amor, Celma! — ele gritou, cortando-a. — Tu não tens noção do que fizeste! Tu mataste tudo. Essa casa, essa família... não sei se dá pra consertar.

Osvaldo começou a andar em círculos pela cozinha, passando os olhos pelos móveis, pelo fogão ainda quente do jantar, como se estivesse tentando encontrar um caminho para sair daquele pesadelo. Mas o peso da traição caía sobre ele como uma tonelada. Ele finalmente parou em frente a Celma, olhando-a de cima.

— Tu achas que é só chegar e confessar e tá tudo bem? — perguntou ele, com a voz mais baixa, mas cheia de raiva contida. — Tu foste pra cama com outro homem, Celma. Como é que eu vou confiar em ti de novo?

Celma enxugou as lágrimas, tentando controlar o choro.

— Eu sei que não vai ser fácil, mas... eu tô disposta a lutar por nós, Osvaldo. Eu quero consertar isso.

— Consertar?! — Osvaldo deu uma risada amarga. — Consertar o quê? O que tá quebrado, não se conserta mais.

Celma olhou para o chão, derrotada. Ela sabia que suas palavras não bastariam.

— Tu não vês que já era? — continuou ele, mais calmo agora, mas ainda com a voz fria. — Não há como voltar atrás. Eu confiei em ti, confiei de olhos fechados, e tu... Tu partiste essa confiança ao meio.

— Eu não tô a pedir desculpa só pra te aliviar, — disse ela, olhando nos olhos dele. — Eu tô a dizer que quero mudar. Eu vou lutar pelo que a gente tem.

Osvaldo deu alguns passos para trás, balançando a cabeça em descrença.

— Lutar? E como eu vou saber que tu não vais fazer de novo? Hein, Celma? — Ele passou as mãos pelo rosto, exausto. — Eu vou pensar, eu preciso pensar. Porque agora... agora eu só quero sair daqui.

Ele pegou as chaves do carro em cima da mesa e caminhou em direção à porta.

— Osvaldo, por favor, não vai assim... — implorou Celma, ainda parada na mesma posição.

Mas ele já estava de costas, sem olhar para ela.

— Preciso de ar, Celma. Preciso pensar.

Osvaldo saiu de casa, batendo a porta atrás de si, deixando Celma sozinha na cozinha, envolta em um silêncio que parecia agora ainda mais pesado do que antes. Ela afundou numa cadeira, as lágrimas ainda escorrendo, e ficou ali, sem saber se haveria um "nós" no futuro.

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Comments

Yennefer Ackimichi

Yennefer Ackimichi

UAU! Eu estou apaixonada somente em ler o primeiro capítulo! Que leitura fascinante! As emoções ficam expressas, você sente uma vontade maior de mergulhar na leitura conforme vai avançando a leitura. Parabéns pelo livro!🩷

2024-02-06

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