O portão

Lume sabia exatamente por que sentiu vontade de se cobrir com um manto de seda antes de se jogar no lago hoje. Ou ela ainda estava sendo vigiada um dia depois, ou estava ficando paranóica.

A irritação piorou quando ela deitou de barriga para cima para boiar. Esticando a longa coluna de sua garganta, ela inclinou a cabeça para trás para olhar para trás na floresta.

Ela jurou que viu um lampejo de amarelo entre as árvores, mas quando voltou o olhar para lá, não estava mais presente.

Um humano já teria se dado a conhecer. Ela olhou para o céu azul, o firmamento finalmente havia cessado suas paranóias por um curto período.

E um Demônio teria atacado até agora.

Ela sabia que um Caminhante da morte não era melhor do que um Demônio.

Mas esse sentimento simplesmente não vai embora.

Com um suspiro, ela se levantou e olhou para o balde de metal.

Sua vida havia se tornado um ciclo chato e mundano dos mesmos hábitos.

Era a mesma coisa todas as manhãs, chá, café ou mergulho no lago, depois um enxágue antes de decidir primeiro coletar lenha ou limpar a casa já impecável.

O que ela descobriu em sua viagem para a floresta determinaria se ela montaria uma armadilha para Demônios ou não, muitas vezes deixando a isca vir até ela, e não o contrário.

E pensamentos sempre constantes, incessantes. Sua mente era como uma tagarela sem parar. O que muitas vezes era

irritante, pois ela gostava de silêncio completo e absoluto, apenas para ser

frustrada por ela mesma.

Olha, Lume. Você está sendo vigiada ou não, mas precisa ir para a cidade hoje mesmo assim. Com uma insinuação agressiva em seus movimentos dissonantes, ela pegou o balde. Não há mais desculpas.

Houve muitas outras desculpas que ela inventou, mas menos de uma hora depois, Lume estava equipada e bem no meio da floresta.

Ela não ouviu nenhum vestígio de vida enquanto viajava para Posto Avançado da aldeia mais próxima, na verdade uma das maiores aldeias ao norte da fronteira do

Véu do purgatório.

Era relativamente perto da maior base, a base principal do setor de caçadores de demônios.

Ela tinha que andar com cuidado, pois não era permitida dentro de dezesseis quilômetros do Espinheiro como um membro da guarda dispensado à força, e o Posto Avançado ficava fora dessa distância.

Ela usava uma roupa de caçadora, a mesma que usava nos últimos dias, embora a tivesse lavado. Ela agarrou o punho de sua espada com força enquanto caminhava pela campina vazia que se estendia na frente dela.

Em frente à ponte levadiça de madeira, dois soldados montavam guarda.

Seus braços e pernas estavam cobertos por armaduras de couro, mas seus torsos eram de aço polido. Ela estreitou os olhos para eles, sabendo exatamente quem eles eram e que provavelmente iriam irritá-la.

— Abram o portão.

Ela exigiu uma vez que ela estava de pé diante deles.

— Sinto muito.

Um deles disse antes de olhar para o outro através de seu capacete de metal.

— Mas não permitimos que trolls da floresta entrem em nossa aldeia.

— Adam.

Lume resmungou enquanto esfregava as têmporas.

— Eu juro que se você me der trabalho hoje, eu vou escalar a parede da torre e jogar esterco de vaca em você de novo.

Sete, o soldado de pele escura ao lado de Adam, jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada em seu capacete.

— Eu disse para você não fazer isso. Eu poderia dizer que ela estava de mau humor hoje pela forma como ela atravessou a campina!

Sete começou a bater as pernas com movimentos exagerados, fazendo com que a

armadura que ele usava estalasse e repicasse.

— Você anda como se fosse um urso raivoso quando algo está te protegendo.

Adam, que tinha características asiáticas semelhantes a ela, mas de origem diferente, estreitou seus olhos castanhos claros para ela.

— Você não faria isso.

— Eu sabia que vocês dois iam me dar problemas só de ver vocês do outro lado da campina.

Ela apontou o caminho que ela acabou de vir.

— Posso dizer que são vocês dois idiotas porque estão sempre encostados na parede, em vez de ficarem atentos ao perigo como deveriam.

— É dia.

Adam argumentou rapidamente.

— Nunca houve um ataque de Demônio no meio do dia.

— Aposto que vocês bagunçaram alguma coisa para conseguir esse turno novamente.

Ser designado para guardar o portão durante o dia era considerado uma punição. Não importa se eles estavam assando no calor do sol de verão ou congelando no meio de uma tempestade de neve, eles não podiam deixar seu posto. Era sempre chato e monótono, exceto para o estranho viajante como ela.

— Oh, apenas entre.

Adam suspirou, batendo com o punho na ponte levadiça para que os soldados do outro lado iria abaixar.

— Eu só queria me divertir um pouco e você tinha que estar de péssimo humor. Tornar-se uma Caçadora de Demônios de alto escalão fez de você uma idiota durona.

Tanto Sete quanto Adam se moveram para o lado quando ouviram o zumbido de engrenagens e o tilintar de correntes.

— Nós não somos mais crianças.

Lume respondeu severamente.

— Não importa o seu cargo; cada posição tem sua importância. Só porque não há

Demônios ao longo do dia não significa que não haja bandidos.

Sete ergueu a manopla para enfiar um dedo sob o capacete e coçar a orelha.

— Estamos recebendo outro puxão de orelha, e já recebemos um ontem.

Você nunca teve jurisdição para nos dizer o que fazer desde que somos soldados, e você perdeu qualquer autoridade que tinha quando foi expurgada da guarda.

— Eu daria ouvidos a um Aprendiz de Caçador de Demônios em vez de você.

Adam entrou na conversa.

— Não que eu fosse ouvir um deles de

qualquer maneira.

— Qualquer um que seja exilado da guarda é considerado um traidor.

Ela baixou as pálpebras para retratar a falta de cuidado.

— Fui dispensada com honra.

Afirmou Lume com um tom descuidado, inclinando o nariz na direção deles.

— E as fileiras dos Anciões informaram todas as aldeias próximas disso.

Sete acenou com a mão para cima e para baixo com desdém.

— Sim, sim, foi o que nos disseram.

Felizmente, salvando-a dessa conversa sombria, o portão acabou baixando entre os dois soldados. Os sons altos de engrenagens girando e correntes finalmente pararam quando o portão bateu contra o chão.

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