Por Teu Amor : De volta à Nassau

...~Samuel Monteiro ~...

...[1 ano depois]...

Antes que os meus pais morressem, eles pediu-nos para cuidar da empresa, eu me comprometi com isso, passei dias, anos cuidando dos negócios, já Lorenzo nunca foi muito de querer ajudar na empresa, ele sempre me dizia que esse era meu propósito, já o dele era viajar o mundo e isso ele fez até o seu último momento.

Quando ele se mudou para Nassau eu continuei em Londres, cuidando se tudo e eu gostava, realmente era o meu propósito. Quando acordei naquela cama de hospital e não me lembrava de nada, eu me perguntava diariamente depois de acordava, qual seria o meu propósito e como eu continuaria ele.

Descobrir que meu nome não era Lorenzo e sim Samuel, foi mais difícil acreditar, porém as memórias voltaram e eu precisava fugir dali, precisava fugir da Aurora, pois sei que nunca vou poder dizer o quanto eu a amo. Voltar para Londres foi apenas o primeiro passo, decidi ficar com a identidade do meu irmão morto para evitar mais decepções e sofrimento, mas sei que uma dia a verdade irá aparecer.

...[ Presente]...

Cheguei em Londres com um objetivo, esquecer todos os acontecimentos passados, ter lembranças do passado era atordoante, além do mais eu me sinto outra pessoa, é como se o Samuel antes do acidente apenas...não existisse.

Tenho trabalhado muito para conseguir transferir a empresa para Nassau, por mais que eu soubesse que seria melhor eu ficar longe da Aurora, eu sentia a necessidade de estar perto dela.Nosso beijo ficou na minha mente, não consigo tirar a sensação maravilhosa de estar ao seu lado, o gosto dos seus lábios nos meus, mas sei que não poderá se repetir.

Volto para Nassau em uma semana, antes disso tenho que arrumar algumas coisas no trabalho e no meu apartamento, não sabia que voltar para Londres iria reviver em mim tantas memórias, mas agora não era igual, eu não era mais o mesmo e ter tantas lembranças de uma pessoa que eu não era mais, era horrível.

Após terminar a última mala de roupa ponho ela no canto da porta e caminho até a minha cama. Vejo meu celular em cima da cama e o pego e meu único pensamento é em Aurora.

Busco seu número nos contatos e fico olhando por alguns minutos hesitando em ligar, mas era inevitável para mim.

— Lorenzo? — Aurora diz ao me atender.

— Aurora...desculpa te ligar essa hora, sei que está tarde.

— Não...eu gostei que ligou, estava pensando em você.

— Aurora, eu volto em uma semana. Queria que soubesse.

— Eu fico feliz que tenha pensado em mim e também por estar voltando. Já resolveu tudo por aí?

— Sim, está tudo resolvido, consegui fazer a transferência e a obra já está quase pronta.

— Isso é ótimo, fico feliz em saber que voltará para mim.

Fico em silêncio por alguns minutos, não sabia como reagir com a Aurora, sei que eu não sou quem ema quer e isso me atormenta.

— Aurora...não podemos falar sobre isso ainda, sabe que ainda estou confuso com tudo.

— Eu sei e entendo, não quero te pressionar ainda mais. Volta primeiro e depois veremos como vamos ficar. Olha, tenho que ir, nos falamos depois?

— Sim...eu te ligo. Até mais.

— Até, Lorenzo. Eu te amo...— Ela desliga.

Jogo meu celular na cama e me deito fechando os olhos e tentando relaxar e não pensar o quanto eu queria poder responder que também amava ela e dizer toda a verdade. Porém não podia, pois ela não me pertence e nem o seu amor.

E finalmente chegou o momento de vê-la novamente, mas agora com uma grande confusão em minha mente, devo contar a verdade e esquecer ela? Ver ela sofrendo pela morte do meu irmão iria me doer de mais, mas vê-la sofrer por pensar que sou o Lorenzo e não poder ficar perto dela irá me doer mais ainda.

Desembarco em Nassau e caminho para fora do aeroporto quando vejo gael com uma placa escrita " Bem vindo de volta ", bem a cara dele. Caminho até ele e lhe dou um abraço apertado.

— Bom te ver de novo, amigo. — Diz Gael me dando uns tapas leves nas costas.

— Bom te ver também, Gael.

— Espere, espere, tem outra surpresa para você.

— Surpresa? E o que é agora?

— Oi Lorenzo. — Aurora diz atrás de mim, me viro para olhá-la e logo vem ao encontro do meu abraço. — Senti tanta a sua falta.

Retribuo ao seu abraço, sentindo o seu cheiro e sinto meu coração batendo forte apenas em um único abraço. Olho em seus olhos azuis marejados por lágrimas, queria poder beijá-la, mas me contenho pois sei que não posso cometer esse erro nem com ela, muito menos com a memória do meu irmão.

— Eu também senti sua falta, de todos vocês. — Digo ao me afastar e olhar para Valentina, Maittê e Lucas.

Assim que voltamos para casa me deparo com uma surpresa feita por eles, tivemos um jantar espetacular e podemos falar como foi esse um ano separados, falei como foi tudo em Londres e como a empresa estava indo, eles estavam preocupados como eu estava perante ainda ser recente o acidente e tudo mais. Porém só eu e Gael sabemos como realmente as coisas estão.

— Aurora? Será que podemos conversar? — Falo antes que ela atravesse a porta para ir embora com os outros. Ela se vira para mim e me olha surpresa e então apenas assente com a cabeça.

Levo ela para o meu escritório na casa e tomo coragem para fazer o que tenho que fazer.

— O que quer falar? — Ela diz me olhando fechar a porta.

— Andei pensando muito sobre tudo, sobre eu, você, o acidente e nossas vidas. — Dou uma breve pausa — Sei que estou mudado e sei que isso te frusta, porém eu sei e você também sabe que não voltarei à ser o mesmo, sabe que não posso ser o mesmo de antes.

— Eu sei e a verdade é que eu não me importo. Meu amor, eu te amo. Eu amo você Lorenzo, não me importo se está confuso ou desorientado sobre sua própria vida, sei que o acidente foi trágico para todos nós. Eu estou disposta à lutar por nós. — Sempre que eu ouvia " Lorenzo " sendo pronunciado e direcionado à mim meu coração doía profundamente, principalmente quando era a Aurora que estava dizendo.

— Aurora, não podemos continuar. Não posso fingir que está tudo bem, pois não está, não posso continuar te iludindo com algo que não está mais ao meu alcance. Eu não posso mais sentir o mesmo por você.

— Por quê? Me diz o motivo?

— É difícil explicar.

— Então o que devo fazer? Devo desistir de você para sempre?

— Aurora, eu vejo você como uma boa memória do passado, mas esse passado não me pertence mais. E você também não me pertence mais.

— Então está acabado?

— Seria o melhor.

Aurora me olhava com os olhos cheios de lágrimas, dava para sentir a dor que estava carregando, seus lábios estavam trêmulos e seu olhar não conseguia ficar fixos nos meus.

Ela se aproxima de mim e sem hesitar bate no meu peito diversas vezes, eu não empurro ela ou tento impedir de descontar sua raiva e sua dor, sei que estava em seu direito.

— Eu te odeio por isso...te odeio! — Sem mais ela apenas pega sua bolsa e caminha para fora do escritório. Meu coração doía profundamente ao vê-la daquela forma, não gostava de machucá-la, mas enquanto eu não conseguir contar a verdade eu não posso ficar perto dela.

— Você está bem? — Gael pergunta ao entrar no escritório.

— Não e acho que nunca mais vou poder ficar bem.— Me levanto e caminho para fora do escritório, subindo as escadas e indo para meu quarto. Precisava tirar esse peso das costas.

.........

...~Aurora Constancio~...

Eu não podia acreditar em suas palavras, esperei um ano para tê-lo novamente comigo e com esperanças de recomeçar nossas vidas como um casal que se amam, mas na verdade ele terminou tudo comigo. Eu podia sentir a dor perfurando cada parte do meu coração, era como agulhas sendo coladas em cada parte do meu corpo, eu tinha perdido o amor da minha vida.

— Filha? — Ouço a voz da minha mãe atrás de mim, ao me virar e vê-la em pé na minha frente eu não pude me conter, apenas corri para seu abraço e desabei em desespero. — Ô meu amor...o que aconteceu?

— Dói mãe. Dói muito. — Digo entre soluços. Ela me leva para o quarto e me senta da cama para me acalmar.

Eu não consegui dizer nada o que tinha acontecido, apenas queria ficar em seus braços aconchegantes e chorar, apenas chorar.

No dia seguinte acordo com uma sensação de inchaço no rosto, eu tinha chorado a noite inteira e minha mãe estava ao meu lado até eu adormecer completamente.

Tomo um banho bastante demorado e depois que saio me arrumo para ir à universidade, eu não estava com ânimo algum para assistir aula, porém eu precisava me distrair, ficar em casa e pensar no Lorenzo não iria me ajudar em nada.

Desço às escadas e vou até a mesa de café da manhã, onde se encontram Lucas, minhas irmãs e minha mãe que me olhavam com umas caras de pena.

— Aurora..eu sinto muito. — Lucas diz.

— Então já soube?

— Gael me contou, eu não esperava por isso, sinto muito mesmo, sei que você ama muito ele.

— É, mas ele não sente mais o mesmo. — Pego uma maçã e balanço a cabeça em forma de despedida e caminho até a porta.

— Filha, tem certeza que quer ir à aula? — Minha mãe diz.

— Preciso me distrair com algo, as aulas irão me ajudar. Estou bem, não se preocupe. — Faço um sorriso fraco e fecho a porta indo em direção ao meu carro.

Por mais que eu o ame e não saiba muito bem o motivo que o levou à terminar tudo, não posso deixar isso me abalar totalmente, não é algo que posso simplesmente esquecer da noite para o dia, mas não irei insistir mais, se era isso que ele queria, não podia dizer ao contrário.

Precisava me distrair e tirar ele na minha mente, saio sa universidade e vou para a confeitaria da Maittê, com certeza lá eu poderia me distrair com ela e poderia até ajudá-la com as coisas.

— Tentando fugir dos problemas? — Maittê diz aprontando uma massa para o bolo.

— Eu preciso pensar em outras coisas, pensar nele é a última coisa que preciso nesse momento.

— E para isso acha que me ajudar na cozinha vai ajudar?

— Eu acho que fazer bolo ou doces ou o que seja que faça aqui vai ajudar tirar ele do meu pensamento por enquanto. — Pelo menos era o que eu queria, parar de pensar nele, parar de pensar no quão boba eu fui em achar que nós poderíamos ser como antes. — Vai me ajudar ou não?

— Claro que sim, irmãzinha. Vem, coloque essa massa nessas forminhas pequenas. — Ela diz ao me entregar uma bandeja com algumas formas.

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