Por Teu Amor : Primeiro passo.

Gael me olhava incrédulo com o que acabo de falar.

— Você está brincando não é? Só pode estar brincando comigo.

— Gael, todos acreditam que estou morto, estão felizes pelo Lorenzo estar vivo. Aurora ainda tem o marido.

— Mas você não está morto, Samuel! Você está bem aqui na minha frente! O que você está prestes a fazer é loucura, Samuel!

— Eu sei, mas não vou mudar de ideia. A decisão está tomada, não vou passar pelo luto outra vez! E, além disso não vai ser para sempre, vai ser apenas até eu ter a completa certeza de como contar a verdade.

— Está bem, Samuel, faça o que quiser! Mas espero você pensar muito bem no que vai fazer, pois, essa decisão pode mudar para sempre não só a sua vida, mas a da Aurora também.

— É por ela que estou fazendo isso.

— Eu sou seu amigo e vou te apoiar em tudo, mas nisso, meu amigo, faça por conta própria. — Diz saindo e fechando a porta.

Respiro fundo e decido fazer uma ligação para Londres, vou fazer algo importante para ter um novo recomeço.

 Mais tarde me arrumo para ir ver a Aurora, precisava falar algo importante para ela.

Ao chegar em frente à porta toco a campainha e logo a empregada da casa vem me atender.

— Senhor Lorenzo, que bom vê-lo. No que posso ajudar?

— Oi Filipa, a Aurora está em casa?

— Sim, Senhor. Está no quarto, vou avisá-la. Entre, quer algo para beber?

— Não, obrigada. — Falo ao entrar. Filipa sobe para chamar Aurora e minutos depois vejo ela descer as escadas.

— O que faz aqui? — Diz surpresa em me ver.

— Precisava falar com você.

— Pensei que aquelas seriam suas últimas palavras.

— Aurora, não foi fácil para mim dizer aquilo.

— É, mas falou. Melhor dizer logo o que veio fazer aqui, estou estudando e...— Interrompo ela.

— Vou viajar para Londres por um tempo.

— O quê? Vai embora?

— Não por muito tempo, só vou resolver alguns negócios.

— Vai embora para ficar longe de mim? É isso?

— Aurora, não vamos falar disso, vim aqui como...um amigo que se preocupa com você.

— Se preocupa comigo? Ficou uma semana sem falar comigo, não veio me procurar e agora se preocupa comigo?

— Um dia você vai me entender.

— Me fala, me diz o que nos impede de ficar juntos! É sua memória? Não me ama mais? Me diz, Lorenzo! Fala comigo! Ou me deixa em paz. — seu tom de voz era alto, tinha lágrimas nos seus olhos e tudo o que eu queria era poder abraçá-la.

— Eu amo você, Aurora e minha vontade era poder ficar ao seu lado para sempre, mas— Ela me interrompe.

— Mas o quê? O que te impede de ficar ao meu lado!?

— Eu não posso! Não devo fazer isso.

— O que veio fazer aqui então? Esfregar na minha cara que eu te perdi? Vai embora, por favor. — Ela diz chorando.

— Aurora...

— Vai embora! — Diz com voz embargada. Viro as coisas e caminho até a porta, mas não consigo dar mais nenhum passo. Me viro para ela e ando em sua direção, paro em sua frente e seguro seu rosto, olhando profundamente em seus olhos marejados, meu olhar percorria seus olhos e sua boca, eu sei que preciso ficar longe dela, mas naquele momento não importava.

Meus lábios tocam os lábios de Aurora, sinto o gosto mais suave que já senti minha vida inteira, por alguns momentos esqueço tudo, esqueço o acidente, esqueço todos os problemas que estou enfrentando desde que acordei naquele hospital e somente foco nesse momento.

Nos afastamos e percebo nossa respiração ofegante, nossos olhares ficam fixos um no outro, sinto cada batida dos nossos corações.

— Eu amo você Aurora, um dia espero que entenda isso e me perdoe pelo o que estou fazendo. — Acaricio o seu rosto, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, encosto a minha testa na testa e olho nos seus olhos antes de sair.

.........

...~ Aurora Constancio ~...

O beijo foi doce, delicado, eu senti aquele mesmo frio na barriga que sinto toda vez que olho para ele desde o dia que vi ele no hospital depois do acidente, era como se fosse a primeira vez.

Lorenzo me deixa totalmente confusa, ele diz que me ama, mas depois me diz que é melhor não sentir nada, me beija e diz que vai embora, eu realmente não entendo.

Me sento no sofá ainda sentindo aquele imenso frio na barriga, quando ouço alguns cochichos vindo de atrás de mim, me viro para espiar o que era e me deparo com Valentina e Maittê escondidas atrás das escadas.

— É sério isso? Estavam nos espiando?

— O que? Não...não. Claro que não, irmãzinha! — Valentina diz ficando de pé e se atrapalhando nas palavras.

— O que te faz pensar isso? — Maittê diz fazendo os mesmos gestos de Valentina.

— Vocês têm quantos anos? Cinco? — Pergunto.

— Não estamos espiando nada, ok? Nós estávamos passando inocentemente pela nossa casa. — Diz Valentina, enfatizando o tom da palavra "nossa". — E paramos aqui para...para..

— Para procurar o meu brinco. É, o meu brinco caiu. — Maittê completa a mentira de Valentina.

— Sério? Nossa que estranho, você tem dois pares de brincos nas orelhas. Vocês são péssimas mentirosas.

— Tá bom, tá bom! Mas agora conta como foi beijar o Lorenzo como se fosse a primeira vez? — Maittê diz me fazendo sentir os lábios de Lorenzo nos meus novamente.

— Ahn...não interessa vocês! Vou subir pois tenho que estudar, tchauzinho para vocês, vão arrumar outra pessoa para espiar.— Falo subindo as escadas e correndo para o quarto.

.........

...~ Samuel Monteiro ~...

Volto para casa ainda desejando estar beijando os lábios doces e delicados dela, foi um feito precipitado, mas eu senti que precisava fazer isso e sinceramente não me arrependo, beijar Aurora foi incrível, mas será uma única vez.

— Que bom que chegou. Fui no seu quarto ver se te encontrava e vi uma mala pronta, vai viajar e não estou sabendo? — Gael diz ao descer as escadas.

— Sim, estou indo para Londres.

— E fazer o que em Londres? Pensei que iria continuar sendo o Lorenzo.

— Eu vou como Lorenzo. Preciso ver como está a empresa e retomar aos negócios. Afinal, estou vivo não estou?

— Me parece feliz, e horas atrás não estava assim, onde você foi?

— Você está pior que um pai sabia? Fui ver a Aurora.

— Como não desconfiei. — Ele murmura.

— Fui me despedir dela e...— Dou uma pausa, pois lembro do beijo e sabendo como Gael é não iria gostar de saber.

— Mas?

— Eu beijei ela.

— Você o quê? — Diz alto e em bom som

— Eu beijei ela, Gael. E quer saber? Não me arrependo, foi o melhor beijo da minha vida.

— Imagino, ela deve ter ficado muito feliz em poder beijar o marido! Samuel, você está ficando maluco? Não pode ficar com a Aurora fingindo ser o Lorenzo!

— Eu sei disso e não vou fazer outra vez, foi por impulso.

— Você está brincando com fogo, garoto.

— Eu sei o que estou fazendo, chega de sermões papai. — Falo brincando com ele. Gael revira os olhos.

— Isso, brinca mais, quero ver onde isso vai dar!

Deixo ele resmungando sozinho ( o que deixa ele mais bravo ) e vou para meu quarto ajeitar minhas coisas, amanhã embarcarei para Londres. Meu plano é voltar tudo ao normal, sei que se passar pelo irmão não é algo bom, porém irei fazer isso pela Aurora, sei que quando eu contar a verdade para ela, a dor será a mesma, porém sei que com o tempo ficará mais fácil, já que vou ficar distante dela, preciso fazer isso pela memória do meu irmão, pois sei que não seria o certo ficar com ela se passando por ele.

Vou voltar para " Red" e fazer uma filial em Nassau, para isso precisarei de alguns meses para organizar tudo, até que vai ser bom ocupar a mente com trabalho e ficar longe da Aurora me fará bem, talvez me mostre se é o melhor ou não ficar longe dela.

No dia seguinte pego minhas coisas e coloco no carro, Gael me acompanha até o aeroporto. Faltava apenas 2 horas para meu voo embarcar, colo saímos sem comer nada, passamos na lanchonete do aeroporto e tomamos o nossoso café da manhã.

— Tem certeza que quero fazer isso mesmo? Sabe que não tem volta. — Gael diz num tom sério.

— Não vou ficar em Londres, Gael. Não precisa de tanto drama.

— Não estou falando disso, estou falando sobre se passar pelo seu irmão morto.

— Pensei que não iriamos mais falar sobre isso.

— Eu só não quero que se dê mal depois.

— A verdade vai vir à tona, mas por enquanto prefiro esperar o momento certo. Não estou pronto.

— Só espero que não faça nenhuma bobagem até tudo isso acabar.

— Fica tranquilo, vai acabar logo, logo. — Olho meu relógio no pulso. — Precisamos ir, falta apenas algumas horas.

.........

...~Aurora Constancio ~...

Observo meu celular pela milésima vez, nenhuma notificação.

— Sem celular na mesa, mocinha. — Minha mãe diz.

— Estou esperando uma mensagem importante.

— Não pode esperar depois que comer seu café da manhã?

— Ela está esperando a mensagem do Lorenzo. — Maittê fala.

—Ele vai viajar para Londres por um tempo e ela está com o coração apertado por ficar longe do amado.— Valentina fala.

— Para com isso. Só estou esperando uma mensagem para poder me despedir.

— Eu acho que deveria ir ver como ele está. — Valentina fala, me fazendo pensar ma possibilidade.

— Eu não sei...nós brigamos ontem.

— Não foi o que pareceu. — Maittê fala sorrindo. Claro que sabem o que aconteceu.

— Meninas, deixem a irmã de vocês. Acho que deveria gastar toda essa energia de vocês em algo útil, como algum esporte ou indo passear em algum lugar.

— E eu acho que você, Aurora Constancio " deveria ir ver o Lorenzo, talvez ele tenha vindo ontem aqui para se despedir pois iria hoje viajar. Vai perder essa oportunidade? — Maittê diz.

Penso muito bem antes de fazer qualquer coisa e então decido ir ver o Lorenzo. Pego meu carro e vou até sua casa, mas não tinha ninguém, vou então para o Aeroporto, eu tinha que encontrar ele.

— Oi...eu quero saber quando sai o voo para Londres. — Pergunto para a moça do balcão.

— Decola em alguns minutos. Posso ajudar em alguma coisa?

— Não, obrigada, já me ajudou muito.

Saio da recepção e me apresso para chegar rápido ao portão de embarque, corro o mais rápido que posso até que vejo ele e Lorenzo se despedindo, corro até eles e chamo por Lorenzo.

— Aurora? O que faz aqui? — Diz ao me ver.

— Eu precisava me despedir e fazer isso. — Me aproximo do seu rosto e beijo os lábios de Lorenzo outra vez.

— Meu Deus, que visão. — Gael diz virando de costas.

— Eu vou te esperar o tempo que for. Mesmo que não me ame, eu vou estar aqui. Eu te amo, Lorenzo Monteiro. — Ele me olha com a cara seria e sorri fraco se afastando em seguida.

— Passageiros com destino à Londres, por favor, dirija-se até a porta de embarque, o avião já vai decolar. — a voz diz ecoando pelo aeroporto.

— Adeus Aurora. — Diz olhando em meus olhos e entrando no portão de embarque logo em seguida. E assim ele partiu outra vez.

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