Por Teu Amor : " Não sou mais o mesmo"

Depois do funeral, Aurora me convidou para ir para sua casa, disse que queria que eu ficasse lá por um tempo, até tudo voltar ao normal, mas recusei.

Eu pedi para me levar para minha casa, ou pelo menos para a casa que eu não me lembro ser a minha, Aurora aceitou me levar até lá, por mais que eu vi em seu rosto a tristeza em ter seu pedido negado.Eu não queria magoar ela, na verdade era a última coisa que eu queria, porém era o melhor, eu não me sinto "eu" mesmo, ela diz que somos casados e eu não conseguir lembrar de nada é uma tortura, prefiro recuperar minha memória primeiro, depois retornarei a ser o Lorenzo de sempre, pelo menos é o que eu espero que aconteça.

— Bom, aqui é sua casa. — Aurora diz ao entrarmos. Observo todo o lugar, sinto algo familiar mas não tenho nenhuma memória. Caminho até a lareira perto da entrada, em cima tem um porta- retrato, é eu e meu irmão.

Olho para aquela foto e sinto uma dor no estômago, a garganta começa a ficar seca, sinto uma sensação ruim, era como se minha cabeça fosse explodir. Acho ver a foto do meu irmão me faz sentir algo, talvez ver essas fotos possa trazer minha memória de novo.

— Eu sei que você quis ficar aqui...mas se quiser ir comigo...vou ficar muito feliz. — Sua voz estava tímida. Coloco a foto novamente onde estava e olha para ela, respiro fundo antes de falar qualquer coisa.

— Aurora...eu não quero te magoar, mas eu preciso ficar sozinho por enquanto, eu não consigo viver assim. Meu irmão morreu e eu não tenho nenhuma memória com ele, eu não me sinto eu mesmo...eu preciso ficar sozinho, organizar tudo e...tentar ter minha vida de antes.— Aurora me olhava com os olhos tristes, vejo uma lágrima cair e ela rapidamente limpa desviando o olhar para outro canto.

— Eu entendo, Lorenzo. Eu só quero te dizer uma coisa antes de ir. — Ela diz se aproximando e então olhando nos meus olhos ela continua. — Eu te amo e eu estou feliz te ver aqui...por mais que não esteja se sentindo bem, é bom te ver, poder te tocar...você cumpriu sua promessa e voltou pra mim. Eu não vou te perder de novo, então me fala quando estiver pronto para retomar sua vida comigo. — Ela diz acariciando meu rosto, suas mãos estavam quentes e tremendo, a voz estava chorosa. Fico olhando seus olhos azuis tao perto de mim e então ela se afasta e vai embora, me deixando sozinho ainda sentindo seu toque em meu rosto.

.........

Volto para casa depois de deixar Lorenzo na casa dele. Eu queria que ele ficasse aqui em casa comigo, porém ele prefere ficar sozinho, acha que é melhor ele recuperar a memória para retomar sua vida. Eu entendo ele, por mais que nesse momento eu esteja um pouco chateada com tudo, eu sei que é difícil para ele, acabou de saber que o irmão morreu e além disso, nem corpo encontraram, ele acabou de acordar depois de dias inconsciente, descobre de está sem memória e depois que o irmão morreu, não posso culpar por estar confuso e querer ficar sozinho.

— E então? — Maittê pergunta assim que entro pela porta.

— Ele prefere ficar sozinho, vou dar o espaço que ele precisa. — Digo me sentando.

— Você está bem com isso? — Minha mãe pergunta ao meu lado.

— Eu não sei...acho que eu preciso de espaço também. Vou tomar um banho e depois desço para almoçar. — Dou um beijo em minha mãe e subo para o meu quarto. Jogo minha bolsa na cama, tiro os sapatos e vou para o banheiro tirar aquela roupa carregada de coisas negativas de cemitério.

Saio do banheiro de roupão, vou até a cama e me sento, respiro fundo e olho para a fotografia no criado mudo.

— O Lorenzo estava tão nervoso nesse dia, ele iria me pedir em namoro, mas as tentativas de fazer um pedido romântico falharam, então enquanto eu comprava dois picolés para nós, ele escrevia com um graveto na areia da praia " Quer namorar comigo?". Foi o dia mais perfeito da minha vida.— Sorrio com a lembrança. Dou um beijo da fotografia e a deixo no mesmo lugar e vou me trocar.

Desço para almoçar mesmo não estando com fome alguma, até porquê como ter fome nesses momentos? Acabei de voltar de um funeral, meu marido não se lembra de mim e eu não posso fazer nada para mudar isso.

— Que bom que desceu. Mas me fala, como você está? Você sabe...com tudo isso.— Valentina diz me servindo um copo de suco de laranja.

— Obrigada. — Bebo um pouco de suco — Estou bem, quer dizer, acabei de voltar do funeral do meu cunhado e meu marido não faz a mínima ideia de quem sou eu...minha vida é maravilhosa.

— Isso não é para sempre Aurora, vai passar. Só dê tempo ao tempo. — Minha mãe diz.

— Está sendo muito difícil pensar assim. Eu só queria ter o Lorenzo de volta, mas ele prefere ficar sozinho.

— Tenta entender ele Aurora, acabou de perder o irmão, não sabe quem somos, nem quem ele é. — Maittê segura minha mão e me olha com um olhar de conforto. — Sei que você quer ele de volta e ele está ali em algum lugar. Ele não parou de te amar, apenas tem que organizar e saber o que está sentindo primeiro.

— Se mostre presente na vida dele, mostra que ele pode contar com você, mostra que você está aqui para ele. Mostre que o ama. — Minha mãe diz.

Elas têm razão, não posso deixá-lo enfrentar isso tudo sozinho, quando nos casamos nos tornamos um só, eu prometi amá-lo, cuidar, respeitar na alegria, na tristeza, na saúde e na doença...meu lugar é ao lado dele. Vamos passar por isso juntos, demore o tempo que for.

— Com licença, eu tenho que sair. — Digo ao me levantar.

— Mas você nem comeu nada...Aurora? — Nem escuto direito o que minha mãe fala e saio apressada.

.........

Eu já vasculhei tudo nessa casa, mas não acho nada que me dê alguma coisa como gatilho para recuperar minha memória. Já tentei fotos, roupas, objetos...mas nada acontece.

Desisto de procurar por algo que nem sei onde vou achar ou se vai funcionar. Me sento em uma poltrona ao lado da lareira e bebo um gole do whisky que achei, se essa casa é minha o whisky também é.

A campainha então de repente toca, me levanto e coloco o copo em cima da mesa e vou abrir a porta.

— Aurora? — Pergunto ao ver Aurora parada em minha frente com algumas sacolas de supermercado nas mãos. Ela sorri e pega uma garrafa de vinho dentro de uma das sacolas.

— Eu sei que você me disse que queria ficar sozinho...mas eu pensei em comermos algo saboroso, beber um belo vinho e conversar um pouco. Prometo que respondo tudo o que quiser, talvez isso ajude. — Ela sorri ainda me mostrando o vinho. Eu retribuo o sorriso e abro espaço sinalizando que quero que ela entre.

Observo Aurora tirar as compras das sacolas enquanto eu fico sentado do outro lado do balcão saboreando meu whisky.

— E então...o que vamos comer? — Pergunto depois de alguns minutos de silêncio.

— Eu pensei em fazer um espaguete e talvez uma lasanha. O que acha? Podemos fazer também uma sobremesa. — Ela diz se virando para mim. Sua voz era animada, me fazia sorrir.

— Eu acho ótimo. — Digo. Ela assente com a cabeça e volta a fazer o que estava fazendo. — Me diz...devo me preocupar com você na cozinha?

Ela se vira para mim com um sorriso no rosto meio envergonhado, incrível como ela era linda sorrindo.

— Não vou mentir, sou péssima na cozinha. — Ela diz rindo. — Mas você não reclamava não.

— Hum...vai me dizer que eu tenho dotes culinários?

— Você é bom na cozinha...quer me ajudar? — Diz me entregando um avental. Visto o avental e ela me entrega uma faca e uma cebola.

— Posso te fazer uma pergunta? — Pergunto cortando a cebola. Ela não diz nada, apenas assente.— Foi seus dotes culinários que fizeram eu me apaixonar por você? — Pergunto quebrando o clima estranho que se instalava no ambiente. Ela para de cortar o tomate e olha para mim, me fazendo olhá-la também.

— Nos conhecemos na praia, você pediu meu número e depois de algumas conversas nós tivemos alguns encontros e você me pediu em namoro. — Ela diz ainda olhando para mim.

— Foi tão fácil assim? — Digo sorrindo voltando a cortar as cebolas. Vejo ela sorrindo e fazendo o mesmo pelo canto do olho.

— Na verdade você demorou bastante para me pedir em namoro. Oficializamos 1 mês depois do nosso primeiro beijo.

Por alguns segundos eu paro o que estava fazendo e fico olhando para ela, tudo o que ela estava me falando me parecia tão incrível, mas eu não conseguia me lembrar de nada e mais uma vez eu me frustrava.

— Me conta como foi. Tudo.

Ela me conta detalhe por detalhe de tudo, como nos conhecemos, nossos encontros, nosso primeiro beijo no avião onde eu pilotava, o pedido de namoro na praia...era falava e era como se eu nunca tu esse lá. Aurora me parecia uma garota tão incrível, seus olhos transmite uma paz inexplicável para mim, entendo como me apaixonei por ela. Posso não me lembrar de nada do que aconteceu antes do acidente, nem do beijo, nem de nenhum dos nossos super momentos incríveis, mas apenas vendo ela contar, vejo o motivo da minha paixão por ela, ela é linda, meiga, doce, descontraída e sabe tirar um sorriso com muita facilidade. Afinal, quem não se apaixonaria?

— Porque está me olhando assim? — A pergunta faz com que eu saia do mundo dos meus pensamentos.

Chego perto de seu rosto e encosto minha mão em seu rosto, olhando cada detalhe de seu rosto, seus olhos azuis, a boca que continha o sorriso mais espontânea, a pele macia...eu sabia o que eu queria, e naquele momento eu só queria poder beijá-la, mas algo me fazia recuar, algo dentro de mim pedia para não fazer isso...

— Eu não quero te machucar. Por mais que eu não consiga me lembrar de nada, quando eu olho para você é como se seu olhar me trouxesse de volta para superfície, é como se perante todo esse caos que está minha mente...você fosse a minha única salvação.

— Lorenzo...

— Não...eu preciso dizer. Eu queria poder voltar a ser o cara por quem você se apaixonou, eu queria poder lembrar dos nossos momentos e poder olhar para você e ver nossa história...poder retomar ela. Mas eu não posso Aurora...eu não sou mais o mesmo. Algo mudou em mim, não só a falha na memória, mas algo aqui dentro...está diferente.

— O que está dizendo?

— Eu não posso te encher de esperança achando que um dia a memória vai voltar, porquê talvez ela não volte. Eu sinto que você é especial para mim aqui dentro, por mais que eu não me lembre o porquê...mas sei que o amor ainda permanece aqui, mas por enquanto a gente não pode continuar. Não até tudo voltar como antes...me desculpe Aurora.

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Comments

ANA ROSA Silva

ANA ROSA Silva

Muito bem pra não se arrepender depois

2024-10-19

1

Chris Oliveira

Chris Oliveira

Ele é um homem íntegro, está sentindo que algo o impede por mais que ele seja apaixonado por ela também. Tomara que ele lembre logo que não é o Lorenzo, aí as coisas vão se encaixar e ele vai entender, depois a treta é outra

2024-01-21

1

Louca por magia

Louca por magia

mais!!!!!/Drool/

2024-01-07

1

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