Por Teu Amor: Lembranças

Com lágrimas nos olhos escuto ele falar, meu coração doía até a última palavra. Não acredito que ele disse isso mesmo, sei que está num momento difícil, mas porquê me afastar?

Enxugo as lágrimas que caíram a manga sa minha blusa e devio o olhar para outro lugar, me afastando dele.

— Aurora...eu...— Interrompo ele, não quero mais ouvir nada.

— Não, Lorenzo...você tem razão, eu querer continuar onde paramos é demais para você! Eu vou embora.— Pego minha bolsa e vou para a saída da casa sem olhar para trás.

Eu estou tentando entender os motivos que fazem ele querer ficar distante, ele acabou de receber alta, está em sua casa novamente e agora tem que lidar com tudo sem lembrar de nada, eu realmente entendo ele estar se sentindo assim, porém...me machuca.

Vou para meu carro e dou partida logo em seguida, queria sair daqui o mais rápido possível, agora quem precisaria de tempo seria eu.

Quando chego em casa vou direto para meu quarto sem dizer uma palavra, mas isso não impede minhas irmãs de irem para meu quarto, elas andam preocupadas comigo, parece que foi eu que perdi a memória.

— Eu sinto muito,Aurora...nem sei o que eu faria no seu lugar. — Maittê diz com um olhar de pena.

— Mudou tudo tão radicalmente e tão de repente assim. — Valentina aperta minha mão. Tento conter as lágrimas, falar desse assunto era difícil, principalmente agora que o Lorenzo está tão confuso sobre a gente.

— Eu só queria ter tudo de volta outra vez, mesmo tendo o Lorenzo de volta parece que nada é o mesmo. Nosso casamento está arruinado. — Digo choramingando.

— Não diz isso, isso vai passar, o médico disse que vai passar não disse? Então pronto, chega de pensar negativo. — Valentina diz tentando me acalmar. Deito minha cabeça no colo dela e continuamos conversando até eu cair no sono.

.........

Ele estava deslumbrante, nunca tinha visto meu irmão desta forma, vejo em seus olhos o amor que sente por ela, ele a ama e eu fico feliz por vê-lo assim.

— Vejo que realmente está apaixonado, meu irmão. — Digo para meu irmão que se servia um copo com whisky.

— E estou. Ela é linda, uma garota incrível, tem os olhos mais doces que eu já vi e os lábios mais macios que já beijei. — Ele diz se sentando ao meu lado, no rosto tinha uma sorriso enorme que se abria ainda mais quando falava da tal moça.

— Ok, se continuar bebendo assim vai me contar dos detalhes que não quero saber. — Digo tocando em seu ombro e depois dando uma batidinha. Ele ri e balança a cabeça.

— Eu vou casar com ela, irmão.

Um clarão enorme atinge meus olhos e de repente estou na minha cama. Era um sonho? Era meu irmão e eu conversando...ele falava de um garota por quem estava apaixonado, parecia tão real, era como se eu estivesse com ele naquele momento.

Tento continuar com o sonho ou lembrança que seja, mas embora eu deite, force os olhos ou tente continuar aonde parei nada consegue voltar naquele momento, nenhum flash ou luz brilhante outra vez, apenas aquela conversa ecoando em minha mente.

.........

No dia seguinte, após acordar vou tomar um banho, tomo meu café e vou para a universidade, como era segunda feira o trânsito estava terrível e eu acabei de atrasando um pouco.

Depois de algumas aulas decido dar um tempo na cafeteria e terminar algumas tarefas que estavam pendentes pelo tempo que fiquei no hospital com o Lorenzo. Ah Lorenzo, como é difícil pensar nele depois de ontem a noite, não consegui dormir a noite inteira pensando nele, na minha mente veio um monte de coisa, lembranças de nossos momentos que agora é como se não existissem mais. De repente tudo desapareceu, é como se nunca estivéssemos existido.

— Para com isso, Aurora! Você precisa parar de pensar nisso, pelo menos por enquanto. — Digo tentando focar em outra coisa. Ficar pensando no Lorenzo não me ajudava em nada.

Tento focar nos livros e desviar os meus pensamentos do Lorenzo, até que ouço a voz dele na minha frente, levanto minha cabeça devagar para olhar para ele.

— O que está fazendo aqui? — Pergunto não olhando para ele.

— Passei na sua casa e a Valentina me disse que estaria aqui, te achar foi fácil com a informação. Precisamos conversar. — Ele diz olhando sério para mim.

— Lorenzo...não preciso que me explique o seus motivos para não continuar nosso relacionamento, sei que para você é um momento difícil, eu entendo e estou disposta à esperar você se recuperar.

— Não quero que você se prenda à memórias que podem não voltar. Aurora, naquele acidente algo mudou, tudo o que você me diz não faz sentido para mim agora, é como se eu nunca tivesse vivido isso...Eu não quero te machucar, mas você não pode esperar que volte tudo ao normal por agora.

— Ok. E o que você quer fazer sobre isso? — Cruzo os braços e olho para ele.

— Janta comigo essa noite. Ontem não conseguimos comer, eu estraguei antes que pudéssemos aproveitar a noite.

— Pensei que queria um tempo.

— Preciso da sua companhia, mesmo que não me lembre de muita coisa sobre nós como você, mas eu sinto aqui, que eu tenho uma grande admiração por você. Isso não mudou, Aurora.

Nossos olhos se encontraram, pude sentir meu coração batendo forte, eu sentia falta dele.

— Eu aceito. Mas agora você cozinha. — Digo sorrindo. Mesmo conhecendo ele, algo me fazia pensar que era a primeira vez que eu olhava assim em seus olhos, que eu sentia aquele frio na barriga, era como se eu não o conhecesse tanto assim.

.........

Aurora aceita meu convite de desculpas para jantar novamente, mas como estava em horário de aula ela continua na faculdade e volto para casa.

 Pensei a noite inteira pensando no que disse para Aurora, vi que cometi uma injustiça com ela dizendo aquelas coisas, não posso afastar ela, mas também não posso deixar ela se iludir tanto com minha recuperação.

Quando chega a noite, começo a preparar as coisas para o jantar antes que Aurora chegue, não iria ser grande coisa porém queria que fosse algo confortável para ambos.

Depois de preparar a comida e a arrumar a mesa, subo para meu quarto e me arrumo, quando desço para esperar Aurora chegar, a campainha toca. Esperando ser ela vou até a porta e abro, mas ao abrir a porta me deparo com outra pessoa.

— Posso ajudar? — Pergunto vendo o homem na minha porta.

— Lorenzo, amigo! Que bom te ver. — Diz aproximando do mim e logo me abraçando. Fico sem reação e o homem se afasta, entrando logo em seguida com uma mala nas mãos.

— Desculpe...mas nós nos conhecemos? — Pergunto sem entender do motivo da visita.

— Está brincando? Sou eu, cara! Gael, seu amigo.

—Ah...você não sabe?

— Fiquei sabendo do acidente, eu sinto muito pelo Samuel. — Era difícil ouvir isso ainda " Sinto muito pelo seu irmão ", eu não sabia bem o que sentia, ainda mais depois desses " sonhos " que ando tendo.

— Eu perdi a memória, não me lembro de nada. Nem de você, nem do meu irmão.

— Eu não sabia...Lorenzo, desculpa por não ter vindo antes, eu não estava em casa quando aconteceu, fiquei sabendo depois.

— Está tudo bem, quer dizer, vai ficar tudo bem. Quer tomar alguma coisa? Fique a vontade.

— Sua perca de memória afetou seu gosto por whisky? Se não for incômodo aceito um copo cheio. — Sorrio fraco para ele e vou até a cozinha pegar whisky para servir à ele.

— Aqui está. — Entrego o copo para ele. Ouço a campainha tocar, agora com certeza era a Aurora. — Espere um pouco, vou atender a porta.

Assim que abro a porta para Aurora, ela abre um sorriso lindo do rosto, estava com um vestido preto que ficava colocado em seu corpo, ela segurava uma garrafa de vinho tinto nas mãos.

— Aurora...entra. — Dou espaço para ela entrar.

— Eu não sabia que tinha visitas...posso voltar depois se quiser. — Diz ao ver Gael na sala. Ele se levanta e cumprimenta ela.

— Esse é o Gael, um amigo. Essa é Aurora, minha...— Gael me interrompe.

— Essa é a famosa Aurora! Muito prazer, ouvi falar muito de você.

— É mesmo?

— Claro! Samuel falava muito de você...— Ele dá uma pausa, parecendo constrangido pelo o que disse, como se tivesse dito algo errado.

— Samuel falava de mim?

—Claro...ele é...era, irmão do Lorenzo e você a namorada e eu estava longe, só queria me pôr a par de tudo.

— Bom...já que estamos todos aqui, vamos jantar? — Pergunto interrompendo a conversa.

— Não vou jantar com vocês, não quero me intrometer entre o casal.

— Não vai se intrometer em nada, agora vamos nos sentar e comer. Pode ser?

— Se insiste tanto.— Nós rimos juntos e nos sentamos à mesa.

Depois do jantar nós ficamos conversando por algumas horas, Gael me conta algumas coisa sobre mim e Samuel, por mais que não me sinta confortável falando sobre o Samuel ou sobre qualquer coisa antes do acidente, mas naquele momento estava sendo um ótimo passa tempo, Gael me parecia um bom migo, pelas coisas que estava me contando ele era bem próximo de Samuel, agora ele só tem a mim.

— Vou pegar mais vinho, vão querer também? — Pergunto ao me levantar.

— Não, obrigado. Se eu beber mais uma taça de vinho acho que vou começar à falar mais e mais. Você pode não se lembrar mas sou um tagarela. — Aurora ri com o comentário de Gael e eu sem dizer nada saio da sala e vou até a cozinha colocar mais vilho e sem querer acabo derrubando vinho no chão. Pego um pano e me abaixo para limpar e de repente aquele flash novamente.

" — Está apaixonado por ela? Você está louco? — Ouço uma voz, não consigo identificar o rosto pois está borrado, porém reconheço a voz de Gael.

— Eu sei, eu sei. Mas o que posso fazer? Aconteceu.

— Não acredito que estou ouvindo isso. Você está louco.— Aquele flash outra vez, mas agora uma dor de cabeça terrível e no fundo a voz da Aurora me chamando. "

— Lorenzo? Está tudo bem? — Aurora dizia atrás do balcão.

— Aurora...Oi. Eu estava...limpando aqui. Desculpe, o que quer? — Digo me levantando.

— Estou indo para casa. Vim agradecer pelo jantar, foi incrível. — Ela diz segurando minha mão. Olho para sua mão sobre a minha e dou um sorriso para ela.

— Eu te acompanho. — Ela sorri e olha sem jeito para baixo.

Nós saímos de casa juntos e eu acompanho ela até em casa no meu carro, o caminho foi um completo silêncio, não conseguia dizer nada a ela. Estaciono o carro em frente da casa dela e tiro meu sinto de segurança.

— Chegamos. — Digo olhando para ela.

— Obrigada. Agradeço o jantar, estava muito bom e a companhia melhor ainda.

— É, não foi tão ruim o Gael ter aparecido de última hora. Espero que não tenha sido desconfortável.

— Com certeza não foi. É sempre bom estar com você.

— Eu digo o mesmo. — Fico olhando ela me olhar, seus olhos desviava dos meus olhos para minha boca e vice-versa, por alguns segundos pensei mesmo em beijá-la, mas por algum motivo eu não conseguia, ao mesmo tempo que todo o meus corpo pedia por um beijo dela, ao mesmo tempo algo dentro de mim gritava para não fazer, para me afastar e assim faço.

— Bom — Ela hesita. — Boa noite, Lorenzo.

— Tenha uma boa noite, Aurora. — Ela sorri e sai do carro. Vejo ela entrar em e dirijo de volta para casa.

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