19. Harper

Era dia de uma das minhas rotineiras consultas médicas, então minha mãe veio cedo me buscar para irmos ao hospital.

Durante o trajeto, mantive o olhar fixo na janela, contemplando a paisagem urbana com atitude ausente. Uma profunda melancolia sempre me invadia nesses dias, ao ter que confrontar a dura realidade da minha condição por meio de intermináveis estudos e avaliações clínicas.

Ao chegarmos, fomos direto para o laboratório para a extração de sangue e outros exames iniciais. Depois, passamos para a sala de cardiologia, onde a enfermeira nos fez entrar na consulta do Dr. Connors, meu médico.

Troquei um olhar cúmplice com minha mãe enquanto nos sentávamos. O Dr. Connors acompanhava meu caso desde a infância e se tornara quase um membro da família. Sempre me tranquilizava ver seu rosto afável e cabelos grisalhos a cada visita.

Após nos cumprimentar carinhosamente, o médico pegou minha ficha clínica e se atualizou sobre meus antecedentes recentes. Chegara a hora de conhecer suas impressões sobre meu estado nos últimos meses e eventuais ajustes no tratamento.

O Dr. Connors revisou em silêncio cada página do meu histórico, focando especialmente nos últimos resultados de laboratório e testes cardiológicos. Finalmente, colocou a ficha sobre a mesa e me olhou com um semblante sério. Soube imediatamente que más notícias estavam por vir.

—Harper, lamento informar que os exames confirmam uma deterioração significativa em seu estado cardíaco desde a última visita — disse com voz contida. —A doença continuou avançando, e receio que estamos em uma fase terminal —

Senti como se tivessem me dado um soco no estômago. Ao meu lado, minha mãe começou a chorar silenciosamente. Eu apenas baixei o olhar, incapaz de articular uma palavra.

—Considerando o rápido avanço nos últimos meses... receio que você tenha apenas alguns meses até que os efeitos comecem a se manifestar — continuou o Dr. Connors com dolorosa gentileza.

Mas sua voz parecia vir de muito longe. Minha mente estava imersa em uma névoa tumultuada de estupor, negação e também certa resignação. Desde criança, eu vivia agarrado a um prazo existencial que sabia ser escasso e frágil. Inevitavelmente, minha hora havia chegado antes do previsto.

Após me dar alguns minutos para processar a notícia impactante, o Dr. Connors limpou a garganta e adotou uma postura mais esperançosa.

—Harper, sei que isso é muito difícil de assimilar, mas quero que saiba que ainda temos opções — expressou, inclinando-se sobre a mesa em minha direção.

Levantei os olhos, sem ousar sentir otimismo ainda.

—Existe uma nova técnica cirúrgica que pode reverter os danos em seu coração — explicou. —É uma cirurgia delicada, mas com uma alta taxa de sucesso em casos semelhantes ao seu, mas precisamos fazê-la o mais rápido possível antes que sua condição piore —

Minha mãe soltou um suspiro de alívio, como se tivessem devolvido a ela a vida. O Dr. Connors dedicou um sorriso gentil a ela e depois voltou sua atenção para mim.

—Não vou mentir, a operação e a recuperação envolvem muito estresse. Mas se der certo, essa cirurgia pode estender sua expectativa de vida quase à normalidade —

Senti que um raio de esperança atravessava a tempestuosa nuvem no meu peito. Será que realmente ainda havia chance de uma vida longa e plena para mim? Quase parecia bom demais para ser verdade.

Deveria arriscar essa tábua de salvação e seus riscos implícitos para ganhar meu futuro?

Uma total confusão emocional me invadiu. Por anos, eu tinha aceitado com resignação que minha vida seria breve e inevitavelmente fatal. Eu me preparara para um final prematuro inescapável.

Mas agora, diante dessa possibilidade inesperada de uma cura definitiva, senti como se o chão estivesse se desfazendo sob meus pés. De repente, a visão de um futuro extenso, algo que sempre me fora negado, se expandia tentadoramente diante dos meus olhos.

No entanto, essa cirurgia experimental trazia seus próprios riscos, com a remota, mas angustiante, possibilidade de um desfecho ainda mais fatídico sob o bisturi.

Possuído pela confusão, eu pesava internamente as duas alternativas, nenhuma isenta de resultados terríveis possíveis. Qual era o melhor caminho a seguir?

Foi então que a imagem sorridente de Ethan cruzou minha mente. Pensar em nossa crescente amizade e nas mil aventuras que ainda não vivíamos juntos acendeu em mim uma emotiva centelha de vitalidade.

A cirurgia experimental representava uma esperança real de cura total, de poder levar uma vida normal e até mesmo formar minha própria família um dia. Mas, por outro lado, o procedimento era invasivo, com chances de complicações graves e até morte prematura na sala de operações.

Diante da confusão, eu avaliava internamente ambas as alternativas, nenhuma delas livre de resultados terríveis eventuais. Qual era o melhor caminho a seguir?

Foi então que a imagem sorridente de Ethan cruzou minha mente. Pensar na nossa amizade em crescimento e nas muitas aventuras que ainda não havíamos vivido juntos acendeu em mim uma emotiva centelha de vitalidade.

A cirurgia experimental representava uma esperança real de cura total, de poder levar uma vida normal e até mesmo formar minha própria família um dia. Mas, por outro lado, o procedimento era invasivo, com chances de complicações graves e até mesmo morte prematura na sala de operações.

Se optasse por não me submeter à cirurgia, minha vida chegaria ao fim em apenas alguns meses, mas pelo menos passaria esse tempo em relativa tranquilidade com meus entes queridos.

Era uma decisão verdadeiramente angustiante, envolvendo a consideração do verdadeiro significado da minha existência e das prioridades vitais neste momento crucial.

Após longos minutos de dolorosa deliberação interna, concluí que ainda não me sentia preparado para tomar uma decisão definitiva. Precisava processar melhor ambas as opções.

—Dr. Connors... peço por favor um pouco mais de tempo para ponderar minha decisão com calma — murmurei finalmente.

Ele assentiu com uma expressão compreensiva. Sabia que, seja qual fosse o caminho que escolhesse, significaria uma transformação profunda e irreversível na minha realidade atual.

E eu precisava ter certeza absoluta de como desejava que fosse o último capítulo da minha história pessoal.

Após concordar com meu pedido de tempo para decidir, o Dr. Connors prosseguiu, fornecendo novas receitas e orientações para cuidar da minha saúde.

Minha mãe as recebeu em silêncio, ainda sobrecarregada pela montanha-russa emocional de notícias que acabávamos de receber.

Ao sairmos, notei que ela parecia abatida e com olheiras, como se de repente tivesse envelhecido dez anos. Sabia que ela estava reunindo forças por mim, depois que meu pai praticamente fugira de nossas vidas ao saber do meu diagnóstico anos atrás.

Senti uma pontada no peito que nada tinha a ver com a minha condição cardíaca. Minha mãe havia se dedicado a me levar adiante, até o ponto da exaustão. Não era justo que agora tivesse que passar por esse tormento sozinha.

Com delicadeza, segurei sua mão enquanto saíamos pelos corredores do hospital a passo lento. Ela me olhou, segurando as lágrimas.

—Mamãe, vamos superar isso juntos, como sempre fizemos — assegurei, tentando imprimir convicção à minha própria voz incerta.

Ela assentiu e beijou minha testa. Sabia que meu apoio agora era sua maior fortaleza diante da adversidade. Tinha que ser forte por ambos.

Enquanto voltávamos para casa, não conseguia tirar Ethan da minha cabeça. Lembrei-me então por que sempre evitava laços profundos de amizade desde o meu diagnóstico.

Não queria me apegar a ninguém para evitar o sofrimento de uma despedida inevitável. E agora o destino fez com que eu construísse esse forte vínculo com a pessoa menos esperada.

Como Ethan reagiria à notícia da minha dramática contagem regressiva vital? Certamente o destruiria emocionalmente, incapaz de conceber sequer a possibilidade de me perder em poucos meses.

Observei minha mãe, devastada e segurando-se para não desmoronar diante do volante. Não podia permitir que mais alguém passasse por essa antecipada agonia da minha partida.

Talvez devesse começar a me distanciar de Ethan, pelo bem dele. Talvez mentir, até que um dia eu desaparecesse do seu dia, fosse melhor do que ele descobrir que eu estava morto.

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