Noite de Natal

A semana passa rápido e o dia de natal chega, a lanchonete fecha cedo e Saphira aproveita para voltar ao trailer. Rosana está na sala com os netos, um casal de crianças e a filha, uma mulher loira não muito alta e delicada, Draco está no quarto tomando banho.

Saphira entra no trailer e quando está prestes a fechar a porta, o dono do trailer segura a porta dizendo:

— Agora nós vamos conversar.

— Eu já paguei o aluguel. — diz Saphira se afastando da porta.

— Mas eu quero mais, uma mulher como você é rara de se encontrar. — diz o dono se aproximando e a prensando contra o armário.

Ela fica assustada e o empurra, tentando alcançar o celular, ele a empurra na cama e o celular dela cai em baixo, subindo em cima dela, o dono diz:

— Agora você vai saber o que é ter um homem de verdade dentro de você.

Ele deixa uma marca de chupão na clavícula dela e enquanto ela se debate, sua pele clara fica com marcas. O dono do trailer tenta tirar a roupa dela, mas ela não para de se debater, então ele soca seu rosto, a jogando no chão, enquanto está de quatro ela levanta a cabeça e seus olhos estão brilhando, deixando mais evidente a heterocromia, Saphira tenta se acalmar para não transparecer e o empurra com um chute usando os dois pés, apoiando o corpo com as mãos no chão. Ele cai para trás e ela sai correndo para fora, no meio do ataque ela nem percebeu que uma chuva forte havia começado, está difícil andar na lama sem cair e quando ela menos espera, o homem grita a derrubando na lama:

— Volta aqui.

Os dois brigam na lama e ele por estar acima do peso acaba se cansando, o que dá uma brecha para que ela fuja. Sem o celular ela não pode pedir ajuda e o pensamento de não ter para quem ligar vem a sua mente, então ela se lembra  de Rosana e corre até a mansão, o que leva 1 hora de corrida, ao chegar ela bate na porta e quem abre é Camila, filha de Rosana, ela vê Saphira toda cheia de lama e grita:

— Mãe!

Rosana corre até a porta e vê Saphira em lágrimas e coberta por lama, ela tenta a puxar para dentro e Saphira se recusa dizendo:

— Não posso, não quero sujar sua casa, tem uma mangueira aqui fora?

— Não seja boba, entra logo ou vai pegar um resfriado. — diz Camila a abraçando sem cerimônia ao lado da mãe e a levando para dentro.

Quando entram, Draco desce a escada dizendo:

— Ouvi gritos, o que aconteceu?

Quando vê Saphira ele fica surpreso e pergunta:

— Quem fez isso com você?

— Foi só um acidente, eu cai enquanto voltava para casa e perdi a chave, agora não consigo entrar, só preciso de um lugar para passar a noite se não tiver problema, sairei antes das 6 da manhã. — diz Saphira sem os olhar nos olhos.

— Vem comigo querida, você precisa de um banho. — diz Rosana a guiando ao banheiro.

— Vou pegar algumas roupas para ela. — diz Camila correndo ao quarto.

As crianças observam da sala em silêncio e Draco vai fazer companhia a eles. Saphira toma um banho e tira toda a lama do corpo. Camila entra no banheiro dizendo:

— Aqui tem algumas roupas minhas, espero que sirvam.

Ela fica surpresa ao olhar para o corpo cheio de hematomas de Saphira que estava de costas quando ela entrou, então ela a abraça e pede:

— Por favor me diz quem fez isso com você.

— Não conta para a Rosana, eu não quero trazer problemas. — diz Saphira com lágrimas deixando seus olhos.

— Problemas? Querida isso é crime, você é uma vítima e não um problema, me diz onde sua família está que eu aviso eles e…

— Eu não tenho família, estou sozinha. — diz Saphira a interrompendo.

Camila então percebe a situação, uma menina sozinha, sem estudos, vivendo em fuga. Ela sai do banheiro após dizer:

— Vistá-se, sinto muito, mas não posso fechar os olhos após ver seu corpo.

Saphira cai de joelhos em lágrimas e Camila chama a mãe no escritório, Draco a escuta e segue elas, entrando quando escuta:

— Acho que alguém tentou abusar dela.

— Como? — pergunta Draco.

— Eu fui deixar algumas roupas no banheiro e ela estava nua de costas para a porta, o que vi… o corpo dela… eu não consigo imaginar como ela consegue viver. — diz Camila chorando.

— Eu já estava desconfiada, mas não imaginava que fosse assim. — diz Rosana se sentindo mal.

Saphira se aproxima usando um vestido de alças de Camila e uma sapatilha, Rosana a abraça chorando ao ver as hematomas, seu rosto vermelho e levemente inchado e as marcas de mãos nos braços dela. Draco fica imóvel e Saphira diz:

— Por favor, não pensem que vim para me aproveitar ou algo assim, eu só não tinha para quem pedir ajuda, fiquei com medo de ir até a lanchonete e perder o emprego, sairei bem cedo.

Draco a segura contra a parede e ela se encolhe como reflexo de proteção, ele percebe e diz:

— Sua reação me diz que não é a primeira vez, me diz quem deixou esse chupão perto do seu pescoço.

— Não posso. — diz Saphira sem o olhar nos olhos.

— Olha para mim. — diz Draco com a voz grave.

— Draco por favor…

Antes que Camila termine, Rosana a segura pelo braço e ela entende que não deve interferir, Draco continua encurralando Saphira, mas sem tocá-la, então ele diz mais uma vez e mais alto, como em um grito:

— Olha para mim!

— Por que se importa?! Antes pensava que eu era apenas uma aproveitadora, por que quer saber?! — pergunta Saphira o encarando.

Ela vê seus olhos brilhando e eles parecem passar uma calma muito grande, o que a faz relaxar os músculos e Draco também parece se acalmar dizendo:

— Por favor, me diz quem foi.

— Se eu fizer isso perderei minha casa. — diz Saphira.

— Isso não é casa, em nossa casa não precisamos ter medo, não somos machucados, um lar é segurança. — diz Draco.

— Então eu nunca tive um lar. — diz Saphira.

Essa frase quebra completamente a família, eles percebem que o problema é muito mais profundo, então Draco diz:

— Minha mãe nunca permitiria que você ficasse sem uma casa e eu não vou permitir que volte para aquele lugar, então me diga onde é e eu buscarei suas coisas.

— Eu…

— Apenas diga querida. — diz Rosana a interrompendo com a mão no ombro dela.

Saphira sente medo deles por um momento, mas não é de se machucar fisicamente e sim de eles apresentarem sentimentos bons e ela os fazer sofrer. Ela se sente cansada e diz:

— Eu moro em um trailer na parte escura da cidade.

— Conheço o lugar e agora já imagino quem é o culpado. — diz Draco.

— Rafael. — diz Camila com nojo.

— Ele vai morrer! — diz Draco socando a parede e abrindo um buraco.

— Por favor não! Não faça nada. — pede Saphira o segurando pelo braço.

Draco a encara e percebe que ela já está cansada de violência e dor, então coloca as mãos em seus ombros e diz:

— Tudo bem, irei respeitar seu desejo.

Camila leva Saphira para prender os cabelos e diz:

— Não se assuste com meu irmão.

— Não estou assustada com isso, mas percebi pela forma que ele me olhou, que esse assunto é um tipo de gatilho para ele. — diz Saphira sentada enquanto Camila prende seu cabelo.

— Nossa mãe depois que nosso pai morreu, conheceu um homem, foram anos depois e ela sentiu que finalmente poderia amar de novo, mas não foi assim, ele fez muito mal a ela, a machucava sem parar e quando Draco descobriu ficou louco, ele a buscou e deu uma surra naquele agressor horrível. — diz Camila.

— Acho que agora começo a entender melhor o comportamento dele. — diz Saphira.

Elas saem para fora e Rosana pede que Saphira os espere na sala, pois eles precisam conversar, então ela desce as escadas e vê aquelas duas crianças loiras, a menina tem os olhos azuis e o menino tem olhos castanhos, os dois a olham e perguntam:

— Quem é você senhorita?

— Me chamo Saphira. — diz ela.

— Nesse reino eu sou o caçador e ela uma donzela em perigo, você também é uma donzela em perigo? — pergunta o menino.

— Eu sou um monstro. — diz Saphira o encarando.

— Aqui monstros morrem. — diz ele se aproximando com uma espada de brinquedo.

— Então veremos quem morrerá. — diz Saphira correndo até eles e fazendo cocegas.

As crianças começam a gritar e rir, então sobem em cima dela retribuindo o ataque de cocegas no chão, eles não param de rir e Camila diz:

— Acho que já conheceu Felipe e Bruna.

Os três se sentam e percebem que estão sendo observados por Draco, Rosana e Camila, então se levantam e arrumam as roupas, Draco diz:

— Estou surpreso, eles não costumam se aproximar assim de alguém.

— Como assim? — pergunta Saphira vendo as crianças voltarem a brincar.

— Desde que o pai deles morreu, eles não deixam ninguém mais entrar, vivem no mundinho deles. — diz Camila os olhando.

— Sinto muito. — diz Saphira com tristeza no olhar.

— Tudo bem, já faz dois anos. — diz Camila.

3 homens e duas mulheres chegam e vão até à sala de jantar, uma das mulheres alta, magra, pele negra e um lindo cabelo cacheado diz:

— Desculpe o atraso Rosana, a chuva atrapalhou um pouco.

— Tudo bem Clarisse. — diz Rosana a abraçando.

Todos olham para Saphira e Rosana diz:

— Essa é uma grande amiga minha, ela se chama Saphira.

— Saphira, o homem alto ali no meio de cabelo arrepiado é Jhoe, braço direito de meu irmão, o loiro da esquerda é Romeu e o mal humorado da direita é Maik. — diz Camila apontando.

— Essa é Clarisse e aquela de cabelos azuis é a Angel. — diz Saphira.

— Somos todos uma grande família. — diz Draco.

Todos a cumprimentam e se sentam a mesa para comer e conversar, em um momento na mesa Draco diz algo em uma língua usada pelos lobos, Saphira olha para ele como se tivesse entendido e todos param na mesa, ela para disfarçar diz:

— Meu colar! Não está comigo.

— Aquele que você está sempre usando? — pergunta Rosana.

— Sim, me deem licença vou olhar no banheiro, ele é importante para mim. — diz Saphira subindo as escadas.

— Draco, qual a possibilidade de essa moça ser uma de nós? — pergunta Angel.

— Não acho que ela seja um lobisomem, as hematomas dela nem se curam, sem contar que ouviram o motivo do pulo dela. — diz Rosana.

— Para falar a verdade, não tiro da cabeça que a conheci antes. — diz Draco se lembrando da cachoeira.

— Chega disso. — diz Camila ouvindo ela voltar.

— Eu o encontrei! — diz Saphira sorrindo e o segurando contra o peito.

— Que colar lindo, é uma acônito? — pergunta Jhoe ao ver o pingente.

— Acho que sim, não tenho certeza, minha mãe morreu antes que eu pudesse ter idade para perguntar. — diz Saphira.

Todos ficam em silêncio e Draco diz:

— Saphira, sabia que temos uma cachoeira linda? Ela fica na mata.

— Sério? Deve ser linda, eu amo cachoeiras. — diz Saphira com um grande sorriso.

Draco não se dá por vencido, ele não consegue tirar da mente que ela pode ser a mulher da cachoeira, então ele diz uma palavra perigosa que faz com que todos os lobos fiquem com os olhos brilhantes como quando estão prestes a se transformar, todos ficam surpresos e tentam disfarçar, quando Saphira olha para ele, ela está normal e pergunta:

— Está tudo bem? Ficaram quietos de repente.

— Está sim, querida. — diz Rosana tentando se acalmar.

O resto do jantar passa sem problemas, as crianças chamam Saphira para brincar e eles voltam para a sala, o resto se reúne na cozinha e Camila diz:

— Isso foi perigoso.

— Eu precisava descobrir. — diz Draco.

— Descobrir o quê? Viu as feridas dela, se ela fosse uma de nós a essas horas já estaria curada. — diz Rosana.

— Não tiro da cabeça que a mulher na cachoeira era ela. — diz Draco frustrado.

— Mulher na cachoeira? — pergunta Jhoe.

— No dia da corrida, eu fui na direção da cachoeira e tinha uma mulher nua se banhando, ela estava começando a se transformar… foi lindo… até que ela me viu e correu. — diz Draco.

— Isso significa que tem uma loba por perto. — diz Angel.

— Mas não significa que é ela. — diz Camila.

— Lobo milenar. — diz Saphira se aproximando.

— O quê?! — perguntam todos surpresos.

Saphira para surpresa com a reação deles e diz:

— As crianças estão me pedindo para contar a lenda dos lobos milenares, mas eu não sei que lenda é essa.

Todos respiram fundo e Camila rindo diz:

— É uma lenda que o pai deles contava sempre sobre uma família de lobisomens muito antiga, a lenda diz que eles podiam se passar por humanos sem riscos, pois podiam se transformar na hora que quisessem e mesmo sendo muito mais fortes que um lobisomem normal, conseguiam esconder essa força e inclusive a habilidade de cura rápida.

— Que lenda legal! Tem um final? — pergunta Saphira.

— Tem sim, diz a lenda que todos os clãs desejavam casar seus líderes com um membro da família milenar, uma criança vinda dessa família era considerada rara e poderosa, trazendo nome ao clã. Acontece que não era comum nascerem mulheres e o clã foi diminuído, até que uma nasceu, uma guerra se instalou para saber quem a teria e no fim, nunca a encontraram. — diz Camila.

— Posso adaptar um pouco? Achei triste o final. — diz Saphira.

— Pode sim, eles vão adorar. — diz Camila.

Saphira corre até a sala e percebe Draco pensativo dizendo:

— Desembucha, que minhocas está alimentando na cabeça agora?

— Quais seriam as chances de os lobos milenares terem sobrevivido? — pergunta Draco.

— Agora pronto, não vai me dizer que acha que aquela menina na sala é uma loba milenar. — diz Camila rindo.

Todos começam a rir e Rosana diz:

— Não importa quem ela é, vou cuidar dela da mesma forma.

Quando dá meia-noite todos brindam e a festa continua até as 2h da manhã. As crianças acabam dormindo com Saphira na cabana cheia de travesseiros que está na sala, Jhoe a observa e diz:

— Ela não tem cheiro de lobo.

— Eu sei, mas o cheiro dela é doce. — diz Draco.

Todos o encaram e ele diz:

— É só um comentário.

— Estou curiosa pelo passado dela, mas tenho medo de saber também, quando alguém fica mais a vontade com crianças do que adultos e tem tantos machucados, imagino apenas sombras, dor e sofrimento. — diz Maik.

— Sinto pena dela. — diz Romeu bebendo seu champanhe.

— Bom, melhor irmos dormir, está tarde e hoje temos reunião com alguns membros da alcatéia. — diz Draco.

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Comments

Luiza Marra

Luiza Marra

tô gostando do livro

2024-05-02

4

Ezanira Rodrigues

Ezanira Rodrigues

Se ela for uma loba milenar, eu entendo o fato dela não se revelar. Imagina ela caindo em mãos erradas.

2024-04-07

1

Regiane Pimenta

Regiane Pimenta

Credo QUE HORROR ALGUEM MATA ELE

2024-04-05

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