Capítulo 4

Passava das 22h e Alice ainda estava no apartamento de Tom, comeram os hambúrgueres e assistiram um filme, entretanto, ela acabou adormecendo no meio da película no sofá, acordou algum tempo depois se espreguiçando e bocejando bastante, olhou para os lados e não viu mais o amigo na sala.

Alice - Ué?

Ela mirou na televisão e estava passando a tela preta com os créditos finais do filme.

Alice - Tom?

Ela passa as mãos nos cabelos e faz rabo de cavalo, pega o controle e desliga a televisão.

Alice - Droga, já tá tarde!

Exclamou ao verificar a hora no relógio em seu pulso, rapidamente deu uma arrumada no sofá e juntou as almofadas que estavam no chão.

Alice - Já vou indo, passei da hora!

Mais uma vez nenhuma resposta, ela franze o cenho desconfiada, olha na direção da cozinha e depois para o corredor escuro que dava para os quartos. Pega a bolsa e coloca nos ombros e começa a caminhar adentrando os cômodos em silêncio.

A casa estava tão silenciosa que se ecoava o tic tac do relógio em seu pulso com nitidez. Alice apenas continuou adentrando a caminho da luz que saia pelas frestas da última porta, parou e pegou na maçaneta abrindo devagar.

O visão que ela teve a seguir a chocou, pois seu amigo estava sentada no chão de madeira cheirando um pó branco esquisito em cima de uma capa velha de um livro antigo.

Alice - O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?

Ele se assustou e acabou derrubando o livro, que com o peso fez um barulho oco na madeira.

Tom - ALICE?

Ele estava com os olhos vermelhos e lacrimejando.

Alice - Você enlouqueceu? Está usando essas porcarias desde de quando?

Tom - Eu...eu... é de vez em quando!

Alice - Isso é ridículo! Você sabe que faz mal, isso vicia!

Ele levanta-se do chão todo sem jeito, um pouco tonto mas se segurou na parede para recuperar o equilíbrio.

Alice - Que decepção, eu vou embora!

Ela vira de costas e sai do quarto.

Tom - Espera Alice, eu não uso isso sempre!

Ele foi atrás dela, mas Alice já tinha saído do apartamento e tava descendo as escadas, Tom se aproximou e parou no topo segurando o corrimão.

Tom - Eu uso as vezes só para relaxar, é normal!

Ele gritou, mas ela apenas levantou um braço e continuou a descer, posteriormente saiu do prédio, tirou a jaqueta da bolsa e vestiu porque estava muito frio naquele horário da noite.

Alice - Idiota, vai acabar com a vida dele com esse vício inútil.

Resmungava sozinha, atravessou a rua e continuou a caminhar pelas calçadas na fria noite melancólica. Mais a frente, pegou um ônibus, estava praticamente vazio, Alice sentou perto da janela e ficou olhando as ruas um tanto quanto chorosa, logo o professor Brandon veio na sua cabeça ocupando boa parte de seus pensamentos e sonhos.

Mas como sempre, logo se dava conta que era um amor impossível, amassa os lábios e tira o seu telefone celular do bolso, abre a galeria de fotos e fica observando as imagens de sua família, está longe de casa às vezes lhe trazia a sensação de estar sozinha no mundo.

Alice - Saudades de vocês!

Ela começou a escrever uma mensagem de texto.

Alice ✉️ - Boa noite, mãe! Eu te amo! ❤️

Depois de um tempo, Alice desceu na sua parada e foi caminhando até o prédio onde morava, subiu direto para o seu andar e entrou no seu apartamento, ela encostou a porta e escorou as costas, olhou tudo em volta e se sentiu bem melhor por está no seu cantinho, no seu lar, tudo era melhor e tinha um cheiro agradável de oxigênio, e o verde das plantas que tinha espalhadas pela casa.

Abriu um sorriso e tirou o tênis para ficar mais confortável de pés no chão, colocou a bolsa em cima do sofá e foi para o seu quarto, se despiu e entrou no banheiro para um banho relaxante embaixo do chuveiro.

Depois do banho, vestiu um roupão branco e pegou seu notebook que estava dentro da bolsa, entrou em um minúsculo escritório que só cabia uma mesinha e uma cadeira confortável.

Alice - Vamos trabalhar!

Ela puxou a cadeira e sentou, em cima da mesa havia vários jornais empilhados um em cima do outro, Alice abre um e sorri ao ver a tirinha de história em quadrinhos que tinha no finalzinho da última página.

O que ninguém não sabia era que Alice era uma artista, desenhava tirinhas em quadrinhos para o principal jornal da cidade. Ela basicamente criou uma super heroína que salvava o dia de algum modo, sempre deixando uma mensagem positiva para seus leitores fiéis.

"Solyne", a personagem criada por Alice, não usava capa, mas tinha em seu poder, uma poderosa espada especial, que a levava para qualquer lugar do universo, e também podia voltar no tempo.

Ela começa a desenhar as tirinhas e escrever a história em cima dos balõezinhos, e assim, Alice vai adentrando a madrugada trabalhando e criando vários capítulos para os outros dias da semana, assim poderia ficar de boa e recuperar o seu sono nos próximos dias.

Quando terminou, já passava das 04:00 da manhã, ela alonga os braços e levanta-se da cadeira com as costas um pouco doloridas por passar horas na mesma posição, apaga a luz do escritório e vai para o seu quarto, nem se deu o trabalho de tirar o roupão e vestir uma camisola, deitou assim mesmo e dormiu quase que instantemente.

...

Em outro bairro distante, Brandon estava sentado numa cadeira na varanda, olhando atentamente para o céu dando indícios que o dia estava prestes a amanhecer. Mas os pensamentos dele já não estavam ali presentes, se passava um filme na sua cabeça, recordando vários momentos que viveu ao lado do pai. Em algum momento, Nina entra no quarto e se aproxima, o abraça por trás e lhe beija docemente no pescoço.

Nina - Ele parou de sofrer, descansou!

Brandon continuou calado, mas se manifestou em gestos, segurou a mão dela e a trouxe para frente, lhe posicionando sentada de lado em seu colo.

Nina - Tudo vai ficar bem!

Ela passou os braços em volta do pescoço dele o abraçando forte, ele retribuiu o carinho, mesmo calado naquele momento, Brandon pôde sentir o apoio de Nina, sua noiva sabia exatamente como acalmá-lo de um jeito não invasivo, e isso era um ponto positivo.

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