Cheng Yi respirava com dificuldade, os lábios pálidos denunciando o resfriado. Tian Ci, inquieto, aproximou-se, mas ela recuou instintivamente, o olhar desconfiado cravado nele. Ele ergueu as mãos, num gesto calmo, enquanto dizia com a voz grave, mas serena:
— Não quero te machucar. Não vou mais te amarrar. Pode confiar em mim.
Ele deu mais um passo, lento e cuidadoso, estendendo a mão em direção à testa dela. Cheng Yi recuou de novo, seus olhos denunciando o medo, como um pássaro arisco prestes a voar. Tian Ci suspirou, visivelmente abalado.
— Você não está bem. Deixe-me ajudar. Só quero aliviar sua dor.
Mas ela continuava tremendo, os calafrios cada vez mais intensos. Tian Ci, sem muitas opções, tomou uma decisão rápida. Com cuidado, deitou-a sobre a cama simples e a cobriu com o único cobertor que havia ali, ainda que fosse fino demais para protegê-la do frio. Ele observava, desesperado, enquanto o tremor persistia.
— Eu estou quente... quer que eu te abrace? — ele perguntou hesitante, com um tom quase suplicante.
Cheng Yi balançou a cabeça, recusando. Determinado a encontrar outra solução, Tian Ci acendeu velas velhas que encontrou pela casa e as colocou ao redor dela, criando uma barreira de calor improvisada. Ele se sentou ao lado da cama, vigiando-a enquanto a noite avançava. Os olhos dele permaneciam fixos nela, o peito pesado de preocupação. Quando a exaustão o venceu, foi só ao amanhecer.
Cheng Yi despertou com a luz da manhã, os sentidos ainda lentos. Ao virar o rosto, viu Tian Ci. Ele estava sentado no chão, com a cabeça apoiada no colchão, os cabelos desgrenhados pelo cansaço. Por um instante, ela o observou em silêncio, o olhar avaliando cada detalhe. Procurou com os olhos algo que pudesse usar contra ele, algo pontiagudo que pudesse ferir ele, mas o ambiente simples não oferecia nada.
Quando Tian Ci se mexeu, sinal de que estava acordando, Cheng Yi fechou os olhos rapidamente, fingindo dormir. Ele levantou a cabeça e, num gesto inesperado, afastou uma mecha de cabelo do rosto dela, com um toque tão leve quanto uma brisa. Sentindo o movimento, Cheng Yi abriu os olhos, mas ele recuou, tentando disfarçar.
— Não fique brava comigo... não fiz nada — disse ele, quase nervoso.
Ela permaneceu em silêncio, o rosto impassível, como se as palavras dele não significassem nada. Tian Ci sentiu um nó se formar em sua garganta.
— Sei que você não gosta do meu jeito... vou tentar mudar. Vou ser mais cuidadoso com as palavras. Não quero te sufocar.
Ainda assim, Cheng Yi nada disse, o olhar vazio. A frieza dela o corroía por dentro. Ele precisava de uma reação, qualquer uma, alegria, raiva, algo que provasse que ela ainda tinha sentimentos. Ele se inclinou um pouco mais, decidido.
— Eu vou deixar você se encontrar com seu mestre.
Cheng Yi reagiu. Não foi muito, um movimento sutil nos olhos, quase imperceptível. Mas Tian Ci viu, e continuou:
— Só não pode ser agora.
Imediatamente, ela virou o rosto, demonstrando desprezo. Era como uma lâmina invisível atravessando o coração de Tian Ci. Ele fechou os olhos por um momento, escondendo a dor. Quando voltou a falar, sua voz soou mais firme:
— Vou caçar algo para comermos. Ainda temos uma longa jornada pela frente.
Sem esperar por resposta, ele saiu, deixando-a sozinha.
Cheng Yi estava sentada na cama, as mãos cobrindo o rosto. Sua voz saiu baixa, quase um sussurro:
— Será que eu fui cruel demais?
Ela soltou um longo suspiro, os pensamentos lhe pesando no peito.
"Ele é um vilão. Não posso sentir compaixão. Se eu não odiá-lo, nunca terei coragem de feri-lo. Tudo que ele diz, tudo que faz... é só manipulação. Não posso acreditar."
O conflito interno a consumia. Ela pensou em seu mestre Ling An, na sabedoria dele.
"Deveria contar tudo a ele. Ele saberia o que fazer. Mas... será certo usar a bondade dele? Não tenho outra escolha, não consigo enfrentá-lo sozinha. Por que... por que não consigo machucar Tian Ci?"
A brisa fresca da manhã trouxe o cheiro de algo cozinhando. Curiosa, ela abriu a porta. Lá estava Tian Ci, agachado ao lado de uma fogueira improvisada, concentrado em algo que assava. Quando percebeu sua presença, ele levantou o olhar e sorriu de leve.
— Fiz algo para comer. Não sou um grande cozinheiro, mas acho que ficou bom.
Cheng Yi ergueu os olhos para o céu. O dia estava cinzento, as folhas ainda brilhando com as gotas da chuva da noite passada. O vento frio acariciava sua pele, e ela fechou os olhos por um momento, sentindo a calma daquele instante. Ao abri-los, viu Tian Ci mexendo na fogueira, tentando não queimar a comida. Algo na simplicidade daquele gesto a desarmou.
Ela caminhou até ele e sentou-se no banco que ele improvisou, quase como um trono. Ele lhe entregou a comida com cuidado, as mãos marcadas pelo frio e feridas pelos esforços. Cheng Yi notou o nariz vermelho, os dedos ressecados. Algo apertou dentro dela, mas ela afastou o pensamento.
Após comer, Cheng Yi se levantou e percebeu que sua perna estava melhor. Surpresa, encarou Tian Ci.
— Foi você que curou minha perna?
Ele assentiu, sem parecer se importar com o peso da pergunta.
— Sim.
Cheng Yi:
— Como?
Tian Ci:
— Não foi nada demais. Saí à noite, encontrei algumas ervas, fiz o remédio e apliquei no seu ferimento.
Ela o olhou, confusa. "Mas choveu muito ontem. Ele saiu no meio daquela tempestade? Por quê?"
Seus olhos se estreitaram, enquanto a dúvida crescia em seu coração. "O que ele está tramando? Por que alguém como ele faria algo assim por mim?"
Cheng Yi desviou o olhar, lutando para ignorar o turbilhão de emoções que ele despertava.
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Atualizado até capítulo 36
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