Assim que o Mestre Ling An deixa o quarto apressadamente, Cheng Yi sussurra, quase inaudível:
— Sist...
Com um lampejo de luz, Sist aparece, cruzando os braços. Cheng Yi o encara, impaciente:
— Por que demorou tanto?
Sist arqueia a sobrancelha, com desdém.
— Não te devo explicações. Não sou seu guarda-costas.
Ela cerra os olhos, irritada, e murmura:
— Ignorante...
Sist se volta para ela, o tom gélido:
— O que foi que você disse?
Cheng Yi, em um sobressalto, tenta se corrigir:
— Eu... eu estava falando de mim! Isso mesmo, de mim! Não quero te irritar. Sei muito bem o que acontece quando você fica bravo. Só tenho uma pergunta.
Sist suspira, impaciente:
— Então faça logo.
Ela hesita, mas enfim questiona:
— O que eu sou?
Um sorriso irônico surge no rosto de Sist enquanto ele analisa Cheng Yi.
— Não consegue perceber? Você é uma coelha. Olhe essas orelhas enormes! É cada pergunta óbvia que me faz...
Cheng Yi cora, tocando as orelhas com nervosismo.
— Como faço para esconder isso?
Sist se aproxima e, com a voz mais suave, diz:
— Calma. Apenas se acalme.
Cheng Yi respira fundo. Lentamente, as orelhas desaparecem. Sist sorri, satisfeito, e avisa:
— Elas só voltarão a aparecer quando você ativar seus poderes.
Antes que Cheng Yi pudesse responder, sons de passos apressados ecoam pelo corredor. Ela se vira na direção da porta, intrigada.
— O que está acontecendo?
Ela abre a porta e aborda uma empregada que passava apressada.
— Espere! O que está acontecendo?
A mulher hesita, desviando o olhar.
— Eu não deveria dizer... O mestre pediu sigilo.
Cheng Yi insiste, o tom autoritário:
— Fale.
A empregada suspira, vencida:
— Alguém entrou na mansão. Um desconhecido. O Mestre Ling An está atrás dele.
Com a revelação, Cheng Yi fecha a porta com pressa e a tranca. Caminha até a cama, ficando de costa para cama, e em pé, sussurra para si mesma:
— Será que é Tian Ci...?
Sentindo o peso da dúvida, ela se senta na cama, mas logo é tomada por um arrepio. Um cheiro familiar invade o quarto, e ela sente algo quente e pesado pairar atrás de si. Antes que possa reagir, uma mão firme repousa sobre seu ombro enquanto outra a envolve pela cintura. A pressão é intensa, quase desesperada.
Uma respiração quente roça seu pescoço, fazendo seu coração disparar. Uma voz profunda e angustiada sussurra em seu ouvido:
— Me perdoe, mas eu não tenho escolha...
Antes que Cheng Yi pudesse reagir, um pano é pressionado contra seu rosto. O cheiro adocicado a faz sucumbir à inconsciência.
Enquanto isso, no escritório da mansão, o Mestre Ling An recebe um de seus subordinados, que traz uma mensagem urgente.
— E então? — questiona Ling An, impaciente.
O homem abaixa a cabeça, receoso:
— Não o encontramos, senhor. Quando chegamos ao local, ele já havia desaparecido. Mas, se fecharmos a mansão agora, talvez possamos capturá-lo.
Furioso, Ling An golpeia a mesa, derrubando livros e objetos no chão.
— Imbecis! — rosna, enquanto o subordinado sai rapidamente, temendo a ira crescente do mestre.
Cheng Yi despertou com uma dor absurda na cabeça e uma sensação de desconforto no corpo. Quando seus olhos finalmente se ajustaram à luz do ambiente, percebeu que estava em um lugar desconhecido. As mãos estavam amarradas, e cada movimento fazia a corda apertar seus pulsos. Com esforço, conseguiu se sentar, o mundo ainda girando ao seu redor.
Tian Ci apareceu à sua frente, carregando um prato de sopa fumegante. O olhar dele era calmo, mas os olhos de Cheng Yi o fuzilaram com ódio.
— O que você fez com meu mestre? — sua voz cortou o silêncio, carregada de fúria.
Tian Ci inclinou a cabeça, como se estivesse refletindo sobre as palavras, antes de responder com serenidade:
— Talvez você devesse perguntar o que ele fez comigo.
Cheng Yi estreitou os olhos, desafiadora:
— Meu mestre jamais faria algo errado. Você, por outro lado...
Tian Ci sentou-se ao lado da cama, mantendo o prato equilibrado em uma mão.
— Sei que tem uma visão distorcida sobre mim — disse ele. — Mas me deixe explicar. Só uma chance. Eu posso provar que você está enganada.
Ela ergueu as mãos amarradas, indicando as cordas com um gesto.
— É assim que você prova suas intenções? — rebateu.
Tian Ci olhou para os pulsos dela, seu tom ainda calmo:
— Não apertei muito. Fiz isso por medo de você fugir. Promete que não vai tentar escapar?
Cheng Yi franziu a testa.
— Não.
Um suspiro escapou de Tian Ci enquanto ele oferecia o prato de sopa.
— Coma. Você precisa recuperar suas forças.
Com um movimento brusco, Cheng Yi bateu no prato, que caiu no chão, espatifando-se em pedaços. Tian Ci passou a mão pelo rosto, frustrado, mas não alterou o tom de voz.
— Certo... Vou fazer outro. — E saiu.
Assim que ele deixou o ambiente, Cheng Yi começou a trabalhar nas cordas. Para sua surpresa, as amarras cederam com facilidade. Tian Ci, com medo de machucá-la, havia deixado tudo frouxo. "Ele não está sendo cuidadoso ou está me subestimando?", pensou, confusa. Não tinha tempo para reflexões. Levantou-se e começou a procurar uma saída.
Quando finalmente deixou a casa, deparou-se com uma floresta densa. Mesmo sem saber para onde ir, decidiu correr. A noite caiu rapidamente, trazendo consigo uma chuva pesada. Exausta, com o pé ferido após uma queda, encontrou refúgio em um tronco oco. Sentou-se ali, as roupas encharcadas grudando em sua pele, e deixou a tristeza invadi-la. O som dos trovões a fez encolher-se, desencadeando memórias dolorosas de sua vila destruída. Lágrimas começaram a rolar pelo rosto, mas ela as ignorou.
Uma voz familiar ecoou na escuridão.
— Cheng Yi! — era Tian Ci.
Ela pensou em responder, mas sua garganta travou. Como poderia pedir ajuda ao homem que, segundo acreditava, ser responsável por tanto sofrimento? Preferiu o silêncio, torcendo para que ele não a encontrasse. No entanto, o som de passos se aproximou, e ela viu os pés dele surgirem à sua frente. Ao erguer o rosto, encontrou Tian Ci com uma expressão de alívio.
— Te encontrei — disse ele, a voz baixa, quase como um sussurro.
Sem esperar, ele a segurou pelo braço e a levou de volta à casa. Cheng Yi tremia de frio quando Tian Ci preparou uma banheira com água quente. Antes de ajudá-la a entrar, cobriu os próprios olhos com uma fita, deixando claro que não queria invadir sua privacidade.
— Pode entrar — disse, guiando-a até a banheira.
Ele permaneceu sentado no chão, ao lado dela, ouvindo apenas o som da chuva lá fora.
— Por que é tão difícil acreditar em mim? — murmurou, mais para si mesmo do que para ela.
Quando a água começou a esfriar, ele se levantou, ainda com os olhos cobertos, e trouxe uma muda de roupas secas. Após se vestir, Cheng Yi observou enquanto ele retirava a fita e a conduzia até a cama.
Tian Ci parou à sua frente, os olhos fixos nos dela.
— Por que está tão calada? — perguntou, a voz carregada de algo que ela não conseguiu identificar: dor ou esperança?
Cheng Yi não respondeu. Mas, pela primeira vez, percebeu que talvez houvesse mais em Tian Ci do que sua raiva permitia enxergar.
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Atualizado até capítulo 36
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