Salvando o ingrato

Audio Indispensável para separar para o play: Chargie - Preston Pablo

Joseph, subiu as escadas do que parecia ser uma pequena loja de departamento. Algo muito simples e que para aquele playboy era no mínimo exótico, mas que surpreendentemente ele se propôs a conhecer.

— O senhor vai... Vai comprar algo aqui? — Mike ergueu uma das sobrancelhas, estranhando aquilo.

— Relaxa, Mike! Relaxa! — Disse dando uma olhada em alguma das prateleiras. — O que será isso? — Perguntou virando o item de cabeça para baixo, tentando analisar.

— Para concertar canos, senhor. — Disse Mike olhando de um lado ao outro sem parar. — Senhor... — O motorista amedrontado, logo avistou um homem forte e de cabelo raspado e escuro, com uma tatuagem no pescoço entrar na loja. — Não acha que já está na hora de irmos?

— Acabamos de chegar... Aliás! A garota precisa de algumas horas, não é!?

— Podemos voltar e pegá-la depois...

— Deixei disso! — Disse Joseph. — Olha! Vai escolher um refrigerante naquela geladeira velha pra esfriar essa sua cabeça!

— ... — Mike respirou fundo sem conseguir tirar os olhos do brutamontes e foi a caminho da geladeira.

Enquanto isso, Joseph ficava rondando as gondolas da loja olhando curiosamente aquilo que era mais do que comum. Não que ele jamais tenha visto uma loja de conveniências em sua vida, mas normalmente elas possuem produtos importados e paredes sem mofo.

No fim de uma das prateleiras, acabou esbarrando em uma moça ao quebrar o corredor, fazendo as coisas dela caírem no chão.

— Deixa comigo! — Joseph disse pegando as coisas dela do chão junto a ela que abriu um sorriso simpático.

— Não precisava se incomodar...

— Ah, é o mínimo! — Ele agia com educação percebendo a beleza da moça. — Prazer, Joseph Everett! — Estendeu a mão.

— Camille! — Apertou a mão dele, soltando um sorriso de volta.

— Hm... — Ele se recostou a uma das prateleiras com aquele sorriso de cafajeste. — Você mora por aqui, Camille?

— Ah... É!

— Desculpe-me, é que não parece ser daqui! — Declarou. — Tem uma beleza e uma energia tão fina e delicada...

— Camille. — Seco e alto, o brutamontes que assustou Mike ao entrar, soltou o nome da moça ao fim do corredor.

— ... — Joseph olhou para trás com o chamado e logo engoliu seco ao perceber o tamanho do homem. — Ele está com você?

— É meu irmão! — A jovem curvou os lábios num sorriso sem graça.

— Foi mal... — Disse Joseph tentando partir a francesa.

— Parado aí, playboy! — O brutamontes se aproximava. — O que você estava querendo conversando com a minha irmã? — Encarou Joseph que mesmo com mais de um e setenta e seis, ainda batia a testa na altura do nariz do homem.

— Nada, nada...

— O que ele queria com você, Camille?

— Nada, apenas disse que eu tenho uma beleza e uma energia tão e delicada que nem pareço daqui.

— É!? — O homem encarou Joseph que espremeu os olhos, passando a mão na testa arrependendo-se de ter falado aquilo para aquela menina linguaruda. — E sabe quem parece estar fora de casa? Esse playboy metido a homem.

— Olha... Relaxa, tá!? — Joseph ousou dizer aquilo. — Não tem nada demais aqui...

— Ela tem dezessete anos, idiota! — Declarou o homem fazendo Joseph arregalar os olhos.

— Dezessete? — Joseph voltou seus olhos para a menina, fazendo careta ao perceber que foi enganado por sua própria certeza. — Com toda essa estrutura? — Disse ironicamente referindo-se ao corpo dela, mas logo que retornou o rosto ao irmão da moça, percebendo a feição emburrada do homem e como se não pudesse ficar pior, o brutamontes andava acompanhado de outros mal-encarados que se mantinham estacionados no fim do corredor.

— Eu não gosto de estranhos na minha área! — O homem estalava os dedos de punho fechado enquanto dizia encarando bem Joseph. — E não gosto de idiotas chegando na minha irmã!

— Deixa eu adivinhar... E você não gosta mais ainda de estranhos idiotas chegando na sua irmã!? — Joseph soltou mantendo o sarcasmo, sem recuar.

— Você é bem engraçadinho... — O homem avançava de forma ameaçadora, mas Joseph se manteve firme no mesmo lugar. — Sabe o que eu faço com caras metidos a comediante como você? — Encarou Joseph nos olhos cara a cara.

— Flerta? — Joseph curvou os lábios em um sorriso debochado. — Pois está tão perto do meu rosto que posso acreditar que está quase a beijar a minha boca e já aviso logo que eu não curto homens... Se é isso que você é! — Quando disse aquilo, o homem foi com a mão rapidamente para o rosto dele, mas Joseph foi ligeiro o suficiente para se abaixar, deixando o soco para os sacos de batata chips. — Precisa ser mais rápido que isso... — Joseph debochava enquanto corria pela loja, mas a graça diminuiu quando foi cercado pelos outros caras.

Foi quando a porta se abriu de uma vez fazendo o sino bater forte, o que fez todos ali olharem direto para a pessoa responsável pela abrupta chegada.

— Oi Chris — Deann engoliu seco, percebendo que tinha a atenção de todos.

— Oi Sarah Deann! — O brutamontes notou a presença da moça.

— Eu não sei exatamente o que está rolando aqui, mas... Mas se possível, poderia liberar o meu colega? — Deann soltou.

— Esse cara está com você? — Christian soltou intrigado. — Desde quando passou a andar com idiotas engomadinhos?

— Eu... Eu tenho trabalhado para a família dele, então por favor! Por mais idiota que ele possa ter sido, o deixem ir comigo, pois não posso retornar para a casa dele sem ele. — Pediu.

— Só não o deixe mais solto por aqui... — Soltou o brutamontes. — Pois ele mexeu com a minha irmã e sabe que eu não tolero isso.

— Ela não estava reclamando... — Joseph murmurou olhando para as próprias unhas em um deboche.

— O que você falou?

— Claro, Chris! — Disse. — Eu prometo! — Disse puxando Joseph pela mão e o levando para fora o mais rápido possível. — Obrigada! — Disse saindo as pressas. — Você enlouqueceu?

— Eu estava me virando muito bem sozinho... — Joseph disse enquanto Deann caminhava na frente alisando a testa ao ponto de explodir.

— Estava por um fio! — Disse respirando fundo e sem paciência.

— Ah, como ela salvou a minha vida! — Ele soltou em implicância e deboche, desdenhando da ajuda dela. — Eu sei me virar sozinho, gangster!

— ... — Deann virou-se com um olhar totalmente impaciente para aquele homem bobo a se recostar na árvore como um garoto pirracento. — Está bem! — Puxou forte o ar para dentro de suas narinas. — Eu vou ter isso como lição de que se em algum momento você “parecer” estar em algum apuro, deixarei que se vire sozinho. Vai que em uma dessas eu tenho a sorte grande de me tornar viúva! — Voltou a andar.

— O que você quer? — Perguntou correndo para a frente dela. — Algum tipo de agradecimento? Um “obrigado”? — Olhava nos olhos impacientes dela e então ergueu os braços num tom irônico. — Obrigado, esposa! — Soltou em deboche.

— Já fez sua graça? — Ela estava quase rosnando. — Agora me dá licença... — Ele começou a impedir a passagem dela como se fossem adolescentes.

— E quem era aquele “Chris”? — Joseph continuava a importuná-la. — Parecia muito intima dele... O que ele ganhará de você depois de ter me libertado? — Aquilo foi o limite, fazendo Deann partir para cima de Joseph em uma chuva de tapas. — Para Deann! Para... — Joseph recebia o que pediu. — Para! PARAAA... — Ele apenas tentava se defender, até que segurou os punhos dela no alto e a colocou contra a árvore.

DÊ O PLAY

Foi tudo tão repentino que Deann apenas arregalou seus olhos para Joseph que a encarava de volta. Tão próximos, frente a frente, sem palavras e apenas com o olhar fixo nos olhos um do outro, naquele momento alguma coisa muito estranha acontecia entre eles. Em meio ao alto da discussão e da tensão dos tapas, uma outra sensação se fez presente ao se encararem após um momento de explosão.

O peito de Deann mostrava sua respiração ofegante enquanto os olhos de Joseph eram reféns da beleza dela. Seus lábios estavam descolados e por algum motivo inexplicável, sedentos pelo que via a sua frente.