O advogado

Separe para o play: Chargie - Preston Pablo

— ... — Por mais pacífico que aquele homem pudesse parecer, Deann tinha um sensor de alerta para todos e qualquer tipo de pessoa desconhecida por mais inofensiva que pudesse parecer. E deparar-se com aquele estranho, acreditou por um breve segundo que talvez fosse o tal Joseph. — Quem é você? — Perguntou rispidamente, sem a menor intenção de parecer simpática.

— Desculpe-me. — Retirou os óculos e estendeu a mão para ela. — Sou Eric Hunt, advogado de assuntos pessoais do Sr. Everett. — Apresentou-se.

— Hm... — Deann olhou para ele e depois para sua mão estendida, ignorando o aperto de mão. — Entendi.

— ... — Eric recolheu sua mão um pouco sem jeito. — Acredito que tenha algumas dúvidas a respeito do casamento, Sarah Deann. — Ele olhou sutilmente para ela que olhava para a janela, espremendo-se o máximo possível próximo a porta. — Posso chama-la dessa forma?

— Não. — Disse Deann o fazendo afrouxar o nó da gravata ao perceber que era uma mulher direta.

— Não para tudo o que eu disse? — Perguntou e ela desviou seus olhos da janela.

— Prefiro que se dirija a mim usando o meu sobrenome, por favor. — Resolveu ser menos seca. — Não me leve a mal, Sr. Hunt! — Ela não o olhava diretamente. — Mas não o conheço.

— Sem problemas! — Compreendeu. — Sobre dúvidas, caso tenha, estou aqui não só para lhe acompanhar ao escritório como também irei poder lhe auxiliar naquilo que deseje saber.

— ... — Deann pensou nas palavras do advogado e vasculhava em sua mente se alguma daquelas milhares de perguntas que tinha seriam de fato necessárias. — O tal Joseph vai estar lá também? Quer dizer... Não que eu tenha algum interesse ou pressa em conhece-lo, pelo contrário!

— Sim. — Respondeu. — Joseph estará no escritório para assinar o contrato ao seu lado, Srta. Morey. — Declarou. — Se me permite acrescentar, acredito que realmente não tenha nenhum interesse no rapaz, mas devo dizer que ele é um homem atraente e...

— E? — Deann finalmente lançou seus olhos para o rapaz que a olhava de volta, surpreso com a interrupção. — Não importa o que ele seja, Sr. Hunt. Não estou entrando nesse casamento para me apaixonar.

— E a senhorita acha que é capaz de não se encantar ao menos um pouco por ele durante o tempo que conviveram juntos?

— Não sei onde quer chegar, Sr. Hunt, mas garanto ao senhor que pelo que imaginei desse rapaz, não haverá encanto e acredito que conviver com ele só me fará ter certeza de que é o último homem da terra a receber o meu afeto.

— Realmente... — Eric contraiu seus lábios um no outro, tentando não soltar o sorriso que vinha. — Thomas tinha razão quando disse que a senhorita era diferente.

— ... — Deann franziu o cenho com certa rigidez em sua feição, mas manteve-se em silêncio diante daquelas palavras a seu respeito.

— Desculpe-me, eu não quis ser inapropriado ou se quer duvidar da senhorita. — Explicou Eric acreditando que possa ter se expressado mal de alguma forma.

— Sr. Hunt, eu não me importo se o senhor duvide de mim ou não, ok? Não estou entrando nisso para provar nada a ninguém. — Disse com rispidez. — Tenho certeza de que sabe que estou me casando apenas para ajudar a minha mãe e agora depois de me conhecer, certamente já constatou que não tenho o menor interesse em ser aquilo que não sou.

— ... — Hunt curvou seus lábios num sorriso admirável quando ela desviou o olhar para a janela. — Compreendo, Srta. Morey. — Disse virando-se para a própria janela. — Compreendo.

Chegando no prédio, por mais firme que Deann pudesse estar ao deixar sua casa, deparar-se com aquele enorme e luxuoso edifício lhe causou um estranho frio na barriga. Era o tipo de lugar que alguém como ela normalmente não entraria pela porta da frente. Ok. Deann era branca, olhos azuis, corpo magro, mas ainda assim não tinha sobrenome e muito menos condição monetária. Então, qualquer tipo de privilégio que pudesse ter, era anulado naquele ambiente quando você simplesmente é apenas uma pobre que não há nada a oferecer.

Entrar ao lado de Hunt que já de cara deixou claro ser um homem respeitado quando todos ali pareciam largar tudo para lhe servir. Poderia não ser o dono daquele lugar, mas era de fato extremamente importante. Por um segundo, Deann quase acreditou que alguém poderia ser capaz de desenrolar um tapete vermelho para aquele homem caminhar.

— É um homem respeitado, Sr. Hunt. — Lançou Deann mantendo-se ereta de frente para a porta no elevador.

— E acha isso bom? — Perguntou tão ereto quanto ela.

— ... — Deann franziu o cenho, mantendo seus olhos fixos ao meio da porta e devolveu uma pergunta. — E, não é?

— Você acredita que seja? — Continuou o bate e volta de perguntas.

— ... — Ela virou-se e o encarou, fazendo-o olhar para baixo de acordo com a diferença de altura. Normalmente Deann não permitiria aquele comportamento – por mais que nada estivesse fora do normal – pois para ela qualquer homem pouco conhecido a lhe encarar há menos de um metro era sinônimo de alerta. Mas naquele momento, ela não se comportou como se estivesse diante de uma ameaça. — Qual a razão de querer saber o que acho ou deixo de achar? — Espremeu os olhos para ele.

— Bom, acho que me importo com a sua opinião afinal. — Declarou estendendo a mão para Deann deixar o elevador primeiro assim que a porta se abriu.

— ... — Ela saiu do elevador engolindo seco e sentindo-se um tanto contraditória após aquele momento.

— Espere um instante, por favor. — Disse Eric tocando o braço de Deann o que quase a fez sentir um choque. — Perdão! — Declarou ao se deparar com os olhos arregalados dela. — Eu... — Engoliu seco, parecendo realmente desconfortável.

— ... — Deann apenas desviou o olhar e assentiu. — Posso ir até aquela janela? — Perguntou.

— Claro! — Respondeu Eric. — Eu volto em um instante. — Saiu em direção as portas enormes e centralizadas do andar.

Pela janela, Deann olhava a cidade que parecia minúscula olhando daquela altura, o que parecia assustador, já que o lugar era gigantesco. Mas o prédio era tão alto que podia ver o terraço dos edifícios ao redor.

— Srta. Morey? — Deann despertou com a voz de Eric, percebendo que havia se distraído tano ao ponto de nem mesmo percebê-lo ali. — Desculpe-me! Não pretendia assustá-la.

— Tudo bem... — Declarou se recompondo sutilmente.

— Thomas está pronto para recebê-la! Vamos?

DÊ O PLAY

Caminhando pelo piso numa cor de creme bem sutil, Deann ia ao lado de Eric para a sala de Thomas, mas antes que pudesse chegar ao destino, o elevador abriu suas portas fazendo aparecer o infame herdeiro da Everett Corporation que logo mudou sua postura inconscientemente no instante em que encarou aqueles arregalados olhos azuis.