Vai parecer loucura, mas eu acho que estou tendo uma quedinha de 384.400 km pelo Aiden.
Talvez até um pouco mais.
— Então você gosta de garotos — dissera Nott quando lhe contei. — Tá tudo bem, não vamos te julgar.
Eu não acho que esteja tudo bem. E nem que eu goste de garotoS. Eu nunca me interessei por um menino. Que merda o Aiden tem de diferente? Tudo bem que ele é simplesmente maravilhoso e perfeito, mas isso não é motivo para fazer eu me apaixonar por ele.
E, tipo assim, minha família não é das melhores. Comensais. Odeiam nascidos trouxas e fariam de tudo para matá-los.
Mas...
Eu posso ser feliz uma vez na vida, né?
Posso deixar o Aiden ter o meu coração. Eu quero que ele o tenha.
— Ele não respondeu. Mas deve ser porque ainda não sabe fazer isso. Ele estará lá.
— Acho que você deve levar um presente. As garotas se amarram — diz Nott.
— Acontece que ele não é uma garota — reclamo.
— Mas deve ser a mesma coisa com vocês, gays — brinca. Sorte que ele esquiva do meu punho.
— Eu não sou gay. Eu gosto de meninAs. O Aiden é um caso especial.
— Tá bom, então.
Nott sorri de um jeito sarcástico e depois começa a me importunar. Com a varinha, ele escreveu "eu amo Aiden McKane" em cima da minha cama. E, em troca, ganhou um lindo par de orelhas de porco. Tudo bem que eu gostei, mas aquilo não pode ficar lá. Malfoy e os rinocerontes iriam importunar o meu garoto por toda a sua existência. Ou até mesmo contar aos meus pais.
Ajax saiu do banheiro com a toalha na cintura e ficou encarando as escritas.
— Malignan, foi só um beijo. E você nem sabe se ele gosta de você.
— Do que você está falando? — começou Nott. — É claro que a gente sabe! O nascido trouxa é gamado pelo Malzinho. Você não viu como ele ficou vermelho e envergonhado quando esse viado pediu outro beijo?
— Eu lembro de ele ter ficado com raiva e empurrado o Malignan para longe — aponta Ajax.
— Isso aí é só um detalhe. E não é importante. O Aiden gosta do Mal, tenho certeza.
Será?
— Podemos perguntar para ele. Podemos usar poção polissuco. Nós nos transformamos na amiga bonita dele e perguntamos.
— Caso você não lembre, leva um mês para ficar pronta. É bem mais fácil só perguntar — digo.
É isso. Hoje, na torre, vou questioná-lo sobre isso. Na cara e na coragem. Se a resposta dele for sim, eu me declaro. Se a resposta for não...
Eu só espero que não fique um clima estranho entre a gente. Não suportaria desfazer a minha amizade com ele. Eu estou totalmente dependente desse menino.
É loucura, mas Aiden é o meu lar. Eu me sinto confortável com ele. Consigo sorrir, gargalhar. Ser eu mesmo, entende?
Odiaria perder isso.
Foi difícil aceitar que gosto dele, claro. Percebi depois do beijo, quando fiquei tentado por mais. Quis beijá-lo de verdade. E eu ia, se ele não tivesse recusado e me afastado. E daí que meia escola estava olhando?
Olho para o relógio do quarto. 23:45. Já está na hora de sair.
Despeço-me dos meninos, que acenam e jogam beijinhos. Marcus Flint e Renna Valpuri estão se beijando, como sempre. Dou uma espiada antes de sair. Ele parece querer engolir o rosto dela. Eu definitivamente não vou fazer isso com o Aiden.
Sou obrigado a parar na curva de um corredor. Ouvi as vozes de Snape e Dumbledore.
— Eu sei o que estou fazendo, Severo. Já disse para não se preocupar — diz Dumbledore, com a voz calma.
— Sabe o que Quirrel está aprontando e mesmo assim o deixa ficar? — Snape questiona, cheio de amargura. Até parece que ele esqueceu com quem está falando.
— Ele não é um perigo para nós.
— Para nós até pode ser que não. Mas você sabe o que o Lord das Trevas fará com o menino!
— Sei. Nada. Ele não fará nada com o menino, Severo. Tenha calma.
Depois, a única coisa que eu ouço são passos apressados, provavelmente do Snape, vindo na minha direção.
Ele passa direto por mim. Se me viu, não demonstrou.
Pelas barbas de Merlim. Eu não aguentaria outra punição, sério. É exaustivo.
— Sem sono?
Minha cabeça vira lentamente em direção à voz. Dumbledore está parado ao meu lado, olhando para onde Snape acabara de sair.
— Ou está indo encontrar alguém? — pergunta. Ele olha para mim, sorrindo.
— Diretor, eu...
— O amor nos faz cometer loucuras, certo? — Meu rosto fica quente
— Como é que o senhor sabe disso? — questiono, franzindo a testa.
— Se ignorar o que aconteceu há pouco, ignoro que você está fora da cama depois do horário. Vá encontrá-lo.
O velho deve ter feito alguma coisa, pois não encontrei Filch e nem a Gata Fedida. Na real, nada me impediu de chegar na torre de Astronomia. Nem o degrau falso da escadaria.
O céu está maravilhoso. Arroxeado, cheio de estrelas e com as constelações bem visíveis.
Isso me faz pensar que eu nunca observei o céu antes. Lá em casa o céu é completamente cinza, sem estrelas. É um lugar triste e sem vida. Fico feliz de ter algo tão belo — além do meu solzinho — para contemplar.
Estendo a minha capa no chão e sento. Trouxe o meu telescópio e livro de Astronomia para tentar impressionar o Aiden com algumas informações inúteis.
Murmuro lumus e a ponta da varinha emite uma luz branca. Estudo um pouco sobre as constelações e curiosidades sobre os planetas até o meu cérebro parar de processar as palavras.
Já estou aqui há quase uma hora e nada do Aiden.
Fecho o livro, pronto para ir embora, mas o meu bolso fica pesado e meio quente.
Pego a moeda.
"estou chegando."
Aiden finalizou o feitiço sem mim. Que orgulho.
Levam mais 15 minutos até ele chegar. Aiden sentou ofegante ao meu lado.
— Desculpe, eu me perdi — diz sem olhar pra mim. — Ainda não tive aula de Astronomia.
— Uma hora para encontrar a torre?— questiono, ríspido.
Aiden suspira e diz:
— Eu não queria vir, tá legal? Fiquei chateado com você.
— O que eu fiz, Baixinho?
— Você estava brincando comigo, Malignan! Usando-me como uma atração para os seus amigos! "Você quer fazer de novo?" por que infernos eu iria querer te beijar na frente dos seus amigos?
— O quê? Você acha que eu estava brincando com você?
Mas era só o que faltava. Eu passar por toda uma porra de autodescoberta e aceitação para no fim ele pensar que eu estava apenas brincando e fazendo-o de atração. Juro por Merlim que se ele não fosse tão fofo eu o jogaria daqui de cima e riria no seu enterro.
Aiden fica em silêncio, olhando para o seu. Suspiro, irritado, e subo em cima dele. Fico um pouco mais alto do que ele, impedindo-o de olhar para outra coisa e tomando toda a sua atenção.
— O que você acha que eu sou, McKane? Acha que eu te beijei só pra brincar com você?
— Qual foi o motivo, então? — pergunta com a voz chorosa. Seus olhos estão brilhando por conta das lágrimas. Vejo o céu neles.
— Eu te beijei porque eu quis! Fiquei tentado a isso! Porra, seu... Lerdo! Eu te beijei porque eu gosto de você, Aiden! É tão difícil perceber?
Aiden abraça o meu tronco e fica em silêncio. Depois de alguns segundos consigo ouvir soluços.
Me senti despedaçado por dentro. O som do seu choro era, com certeza, o som do meu bicho-papão.
Ele ficou assim por trinta minutos. Já não estava chorando, mas continuava me abraçando. A primeira palavra foi minha. Contei a ele sobre os planetas, sobre constelações e também contei um mito grego, que falava sobre Zeus e Ganimedes (a maior lua de Júpiter, Zeus, na mitologia romana). Aiden me abraçou mais forte quando falei que Zeus era apaixonado por Ganimedes, um homem.
O Rei do Olimpo sequestrou Ganimedes, por achá-lo muito bonito. O fez de copeiro e atração do Olimpo. Porém, vendo sua infelicidade, resolveu "libertá-lo". Ganimedes foi honrado pelos gregos como sendo a constelação de Aquário e pelos astrônomos modernos como a maior das luas de Júpiter.
— Essa história é um pouco errada, não acha? — indagou Aiden. — Zeus sequestrou o cara e nem ao menos o devolveu para a família.
— Posso contar um segredo? — Aproximo minha boca do ouvido dele. — Zeus era um cuzão.
Aiden soltou uma risada genuína enquanto apertava a minha cintura.
— Boca de bueiro — disse e levantou a cabeça para mim.
— Que música está tocando agora?— perguntei, num sussurro.
— And I love her, dos Beatles.
Nos encaramos por alguns segundos, então, não aguentei mais.
O beijei pela segunda vez. Suas mãos me puxaram para mais perto. Apenas me deixei levar pelo momento.
Sinto o calor se espalhar das minhas bochechas para as orelhas, e, então, para o meu peito.
Isso é a felicidade, senhoras e senhores. Aiden McKane retribuindo o meu beijo. Sou o garoto mais feliz do mundo.
Quando nos encaramos de novo, seu rosto é suave, sem medo ou vergonha. Ele parece tranquilo e feliz. Esse garoto é o meu sonho. Um pequeno sorriso se abre, e temo ter babulciado algo idiota, mas ele apenas me olha, com os olhinhos pesados por conta do sono. Passo meu dedo por sua testa, retirando uma mecha se cabelo rebelde. Ele fecha os olhos e abre um sorriso maior.
— Eu também gosto de você, Mal.
Nossa noite passou sem mais beijos — infelizmente. Deitamos no chão da torre e ficamos encontrando formas nas estrelas. Aiden encontrou um pato onde eu vi o rosto de um trasgo. Ele pediu para eu contar mais algumas coisas sobre Astronomia. Dormiu enquanto eu falava.
Não quis acordá-lo, então o deixei dormir, com os nossos corpos juntos. E, pela primeira vez depois de muito tempo, eu sonhei.
Eu estava em pé, ao lado da cama de madeira preta, feita especialmente para Dark. A única fonte de luz vinha de uma tocha na parede de pedra, perigosamente perto da cortina.
Minha mãe estava sentada em uma cadeira ao lado da cama, com um livro mas mãos. Ela usava uma blusa de manga curta, deixando à mostra a Marca Negra. Dark não prestava atenção mas palavras da mãe. Ela olhava atentamente para seu braço esquerdo. A tatuagem da cobra, mesmo parada, ainda me causava calafrios. Nunca a vi em movimento, claro, mas já ouvi meu pai falando sobre. A Marca Negra aparece como um crânio verde cintilante com uma serpente saindo de sua boca. Mas isso só acontecia quando Você-Sabe-Quem ainda estava por aqui.
— Mamãe, quando eu vou poder ter uma? — Dark interrompeu da leitura da minha mãe.
— Você precisa crescer mais um pouco, querida — minha mãe respondeu.
— O Mal vai ter a marca dele?
— Vai. Em alguns anos.
O sonho mudou. Me vi parado diante do lago negro. Lá no meio, dentro de um barco, estavam Aiden e Quirrell. Mesmo de longe, consegui ver que o professor sufocava Aiden com as mãos. Tentei gritar, inutilmente. O menino já estava desfalencendo. Suas pernas fraquejaram e ele ficou suspenso pelas mãos de Quirrell. Continuei tentando gritar. Tentei me mover, mas minhas pernas viraram chumbo. Meus braços não se moviam. Entrei em desespero, vendo Aiden morrer lentamente e não poder fazer nada.
A cabeça de Quirrell virou algo semelhante à uma cobra. Uma língua comprida saiu da boca escancarada e deslizou pelo rosto do Aiden.
Uma névoa densa começava a nos cercar. Ia chegando cada vez mais perto. Uma voz repitiliana sussurrou:
Matem os sangues-ruins. Matem todos.
Então, Quirrell abriu a boca o suficiente para engolir um elefante e preparou o bote. Engoliu Aiden em um segundo. O desespero aumentou. Senti meu rosto ficar molhado, mas não senti as lágrimas saírem. A névoa engoliu os dois e veio na minha direção, em alta velocidade. O som que vinha lá de dentro era igual um ninho com centenas de cobras.
A névoa se aproximou e eu acordei.
Sentado, com um cobertor até a cintura, olhei desesperado para o meu lado. Aiden ainda dormia tranquilamente. Meus olhos estavam ardendo devido as lágrimas.
O sol estava alto, e uma brisa fresca soprava no meu rosto. Os raios de sol iluminavam Aiden de um jeito gracioso.
Olhei para o cobertor e para os travesseiros, tentando lembrar se eu os trouxera na noite anterior. Cheguei à conclusão de que não. Essas coisas não pertencem a mim. Alguma boa alma subiu até aqui e nos impediu de congelar. Pelo horário, as aulas já começaram.
Deito ao lado de Aiden e seguro sua mão por baixo da coberta. Fico tentado a lhe dar mais um beijo, mas não faço. Quero que ele esteja acordado.
Mais alguns minutos se passam até que Aiden acorde. Ele olha para mim, confuso.
— Hã... Bom d...
Segurei seu rosto e o beijei antes que pudesse terminar a frase. Aiden soltou uma risadinha, mas não me afastou.
— Bom dia, Baixinho.
— Isso vai virar costume? — pergunta sorrindo.
— Por mim, sim. — Sorrio e me aproximo de novo. Dou um beijo suave.
— Isso é um pouquinho errado, não acha?
— É?
— Temos onze anos e somos meninos.
— Acho que a única parte que importa é que temos onze anos. Eu já aceitei que você tem o mesmo que eu no meio das pernas. E, posso te dizer?, não ligo nem um pouco.
Ele fica um pouco vermelho, mas confirma com a cabeça. Aproximo-me para outro beijo, mas Aiden vira o rosto na direção das escadas. Nott e Ajax surgem na passagem.
— Caras, vocês pegaram detenção com o Quirrell — Nott diz. Meu corpo fica imóvel. Imediatamente sinto náuseas e uma vontade enorme de pular dessa torre.
...Continua...
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Atualizado até capítulo 26
Comments
Thomas Matias
AI QUE LINDO😭😭😭
2024-05-10
1
CB👾
🚶♀️🪣🧹
2024-03-28
1
CB👾
não vai não, eu não deixei😡
2024-03-28
1