Capítulo 10

...***Malignan***...

Me separar do Aiden foi a parte mais difícil da minha noite. Não queria ter que deixá-lo sozinho, mas eu não tive escolha. Dumbledore já foi muito compreensível me deixando ficar na mesa da Lufa-Lufa, ele não permitiria que eu fosse com Aiden até a comunal.

— Cara, você tem coragem — diz Theodore Nott assim que me junto ao grupo. — Eu não conseguiria sentar junto dos perdedores lufanos.

— Você prefere sentar com os perdedores sonserinos. — Sorrio. Isso não afeta Nott, muito pelo contrário, ele ri.

Theodore Nott é um puro-sangue. Ele é filho de um velho comensal. Conheci Nott há alguns anos, quando meu pai me levou à Borgin & Burkes. Ele estava escolhendo um presente de aniversário e reparou em mim. Somos amigos desde então. Ele ia junto com o pai na minha casa quando os comensais precisavam conversar sobre Você-Sabe-Quem, e jogávamos quadribol amador.

Ajax Powell se enfia entre a gente.

— Os três juntos, não é?

Ajax Powell vem de uma família puro-sangue, onde *todos* são apoiadores de Você-Sabe-Quem. Ele se destaca por onde passa por conta de seus cabelos avermelhados e olhos azuis brilhantes. Ajax tem 100% sangue sonserino, e isso não é discutível. Mas isso não quer dizer que ele seja mau como a família, é claro. Ajax odeia o Lorde das Trevas. Se não fosse por ele, Ajax teria uma família normal, que o amaria e o protegeria. Mas Ajax Powell não precisa de família para ser amado e protegido, ele tem Nott. E talvez a mim.

— Por pouco — digo. — O chapéu queria me mandar para a Grifinória.

— Eu sabia! — Nott grita. — Você nunca foi um sonserino, seu babaca.

— Babaca é você por ser desse lugar imundo cheio de apoiadores de Você-Sabe-Quem — retruco.

— Os nossos pais são apoiadores, não nós. Eu sou mais do velho ali, sabe? — Nott faz o sinal de paz com a mão direita. — Mas, e aí, qual é a do Lufano?

— Ele é meu amigo — respondo, sentindo o meu rosto corar. — Conheci o Aiden no Beco quando fui comprar os materiais.

— Entendi.

— Ele é legal.

— Tá bom.

— É sério.

Nott ri e empurra o ombro contra Ajax, que acaba me empurrando também.

Seguimos a monitora de volta ao hall de entrada. Ela abre uma porta de madeira ao lado da porta principal. Nott, Ajax e eu somos os últimos a descer a escadaria de pedra.

— Só pra vocês saberem, não ousem perturbar aquele menino — digo. Nott soca o meu ombro.

— Cala a boca, Dinsmoore. Até parece que iríamos perturbar um amigo seu.

— O seu amiguinho Malfoy sabe disso também? — Sorrio, embora ele não possa ver o meu rosto por estar atrás de mim.

— Você realmente disse isso? — Consigo sentir o horror na voz de Nott. Ele odeia Draco Malfoy. — Deveria pedir perdão de joelhos por tal ofensa.

— Eu concordo — diz Ajax. — "Meu pai vai ficar sabendo disso". Patético. — Gargalhamos alto com a imitação perfeita.

Descemos mais um pouco, até finalmente chegarmos a um corredor. Passamos por algumas portas, até o grupo de alunos à nossa frente parar.

— Alguém quer começar uma briga com o Malfoy? — Nott pergunta, ficando na ponta dos pés para espiar os outros.

— O Goyle é três vezes maior que você, Theodore — lembra Ajax.

— Exatamente. É por isso que você vai cuidar dele. Mal pode cuidar do Crabbe e eu soco a cara do Malfoy. — Rio, lembrando de Aiden. Isso é algo que ele diria, sem dúvidas. — Fechou?

— Podemos só lançar uma azaração no meio da noite. Ou um pouco antes dele acordar. Feitiço da perna presa, que tal? — dou uma humilde sugestão. Os dois parecem gostar da ideia.

A fila de alunos anda. Estão entrando numa passagem circular na parede de pedra, que com certeza não estava ali antes. Assim que Ajax entra, a passagem se fecha.

Pelas barbas de Merlim. Esse é o pior lugar que eu já estive — além da minha casa, é óbvio.

É um lugar comprido, muito escuro, com paredes de pedra. Do teto pediam correntes com luzes esverdeadas, que não ajudavam em muita coisa na iluminação. Fogo ardia em uma lareira, iluminando uns sofás e poltronas de couro preto e verde envolta dela. A sala possui uma atmosfera bastante grandiosa, no entanto fria. As paredes estão cobertas por tapeçarias que contam histórias, provavelmente de bruxos famosos. Há pequenas janelas redondas, que não mostram absolutamente nada além da escuridão.

— Vocês três, do primeiro ano. Aqui na frente, por favor — a voz da monitora nos chama. Passamos pelos alunos mais velhos até chegar no grupinho novo. — Sou a monitora Gemma Farley e tenho o prazer de recebê-los na Sonserina. Nosso emblema é a serpente, a mais sábia das criaturas; as cores da nossa casas são verde esmeralda e prata. Nossas janelas dão para as profundezas do lago pelo qual atravessaram para chegar no castelo. Muitas vezes vemos lulas gigantes passando – e às vezes criaturas mais interessantes.

Nunca vou trazer Aiden pra cá. Nunca.

— Flint, poderia mostrar o dormitório para os garotos? Meninas, venham comigo.

— Por aqui. — Um cara estranhamente parecido com um lobisomem nos guia até alguns degraus. Ele abre uma porta de madeira, revelando um corredor. — É a última porta, se virem. — Então vai embora.

— Meu pai vai ficar sabendo disso. — Nott, Ajax e eu tentamos ao máximo não rir, mas Malfoy vira o rosto para nós e não conseguimos mais segurar. — Do que estão rindo?

— De algo que definitivamente não é da sua conta — assegurei. Vi Malfoy ranger os dentes e suspirei. — Só anda logo, tá legal?

Malfoy empina o nariz e anda em direção ao dormitório. Vamos logo atrás, fazendo caretas e mostrando o dedo do meio.

O dormitório é um pouco melhor do que a comunal. É mais iluminado. As paredes são pintadas de verde e prata. Nem o dossel das camas foge dessas cores. Encontramos nossas camas rápido e enfiamos os pijamas.

Nott e Ajax não demoram muito pra vir até a minha cama e deitarem por cima da colcha.

— O que acharam de Hogwarts? — Nott pergunta enquanto tira uma caixinha de feijõezinhos de todos os sabores da veste. — Eu amei a comida. Sério, não sei qual foi a última vez que eu comi tão bem.

— Isso é deprimente, Theodore — comentou Ajax. — Eu gostei daqui. Não poderia ser pior que uma casa com comensais, né?

— Depois eu sou deprimente — Nott retruca.

— Você está falando como se a sua casa não fosse assim também — digo.

— A minha casa não é cheia de comensais. Só o meu pai. Então, sim, Ajax é mais deprimente do que eu.

— Você acabou de dizer que passa fome em casa! — Ajax exclama. Ele recebe um dedo do meio como resposta.

— A coisa que eu mais gostei até agora foi do Aiden — revelei num sussurro. — E da comida. Sem dúvida.

O assunto encerrou aí.

Depois disso, ficamos até altas horas provando os feijõezinhos e tentando descobrir o sabor. Quando finalmente terminamos com a caixa, cada um foi para a sua cama. Como Malfoy já estava dormindo, deixamos uma surprezinha nas pernas dele. Não vou revelar quem fez o feitiço, mas começa com Theodore e termina com Nott.

Meu último pensamento antes de apagar foi "espero que Aiden esteja bem"

......*Continua*.......

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