Nunca imaginei que veria essa cena.
Juro.
Malignan Dinsmoore usando um vestido de empregada e deslizando no sabão é a melhor coisa que eu já vi na vida.
Mesmo com a cara amassada e olheiras enormes, Mal ainda está sorrindo e se divertindo.
Ele e Nott estão esfregando o chão com esfregões, mas ao mesmo tempo estão dançando e caindo de propósito. Simplesmente maravilhoso.
— E aí, Baixinho — Mal diz sorrindo de um jeito tímido e com o rosto vermelho.
— Olá — cumprimento, também sorrindo. — Você não vai comer?
— Claro. Só vou tirar isso aqui e já te encontro lá.
— Tá legal — respondo e entro no salão principal. Sento na frente de Ulisses e ao lado de Gabriel Truman.
Nossos pratos e cálices enchem-se imediatamente.
Enquanto comemos, o correio chega, dessa vez trazendo apenas uma carta para mim. Dou um pedacinho de pão para a Tony e abro a carta. Ela arranha o topo da minha cabeça e voa junto com as outras.
...Bom dia, meu bebê. Como você está?...
Cole e eu fomos ao cinema ontem. Ele não para de falar de você. Sentimos sua falta.
Lembra da Sra. Quiin? Ela faleceu ontem a noite. Infartou logo depois que descobriu que seu gato foi atropelado (sim, o mesmo gato que você fez levitar). Aconteceu o maior barraco no funeral dela. Uma das filhas disse que a Sra. Quinn não estava morta, você acredita? Ela quase foi expulsa do velório da própria mãe.
Você não tem ideia de como eu sinto a sua falta. Às vezes eu me pego pensando se não teria sido melhor ter proibido você de partir, ou ter dito que era tudo uma piada.
Não sei se vamos aguentar até o natal, meu bebê. A casa não é a mesma sem você. A minha sorte é que tenho Cole. Eu já teria pirado sem ele.
Amamos você.
Não preciso dizer o quanto eu estou chorando, né? O meu rosto inteiro está coberto por lágrimas, e as pessoas estão me olhando estranho.
Não estou chorando por causa da Sra. Quinn, obviamente. Porque, tipo, eu não me importo nem um pouco com essa velha bobona. Ela já deu uma vassourada no Cole, foi por isso que o gato feio e espetado dela voou.
Céus. Eu quero a minha mãe. Também quero o Cole, mas não tanto assim. Brincadeira. Eu quero muito ver o meu irmãozinho.
Ulisses e eu já estamos terminando o café quando Malignan, Ajax e Nott sentam com a gente.
— O que rolou? — pergunto encarando Mal.
— Punição por o Nott ser um idiota.
— Já falei que a culpa não foi minha! — Nott se defende.
— Não foi nada importante. Mas, e aí, o que você achou? — Malignan pergunta sorrindo. O meu rosto fica vermelho igual um tomate.
— Você estava bonito — respondo. Os garotos ficam em silêncio, e isso faz os meus batimentos cardíacos triplicarem. Mal faz uma expressão séria e suspira, mas também fica com o rosto vermelho, que, ao contrário de mim, é por estar com raiva.
— Que merda. Isso não é bom — diz. Então ele levanta e segue para fora do salão.
— O que eu fiz? — pergunto para Nott e Ajax. — Ele não gosta de elogios?
— Relaxa. Malignan está em uma fase complicada de autodescoberta — Nott diz. — Ele só não sabe disso ainda. Vai ficar tudo bem.
— Ele ficou com raiva de mim?
— Nããão. Não é isso. Já falei: vai ficar tudo bem. Em breve ele pede desculpas por isso.
Malignan em fase de autodescoberta? O que isso quer dizer?
Será que eles suspeita de algo e está sentindo nojo de mim?
Eu posso explicar que é só um interesse passageiro, talvez ele entenda.
Eu sei que não é. Mas não faria mal mentir um pouco, né?
Estou apaixonado pelo Malignan, já "aceitei" isso. O problema é que ele pode nunca aceitar. Vou viver com Malignan ao meu lado, amando-o em silêncio, sem receber qualquer amor de volta.
Dói. Pensar nisso dói demais.
— Vou atrás dele. — Os meninos me olham com piedade. Mal não deve estar tão longe assim.
Sigo atrás dele, sentindo o coração quase sair pela boca. Meu coração acelerado só me deixa com mais dúvidas.
Saí do salão principal e olhei para os lados, procurando qualquer sinal dele.
Não foi difícil. Mal está há uns dois metros da porta, com Mallory, vulgo SNRF, ao seu lado. Os dois estão conversando, e isso já é o suficiente para me tirar do sério.
Tenho vontade de chorar, esmurrar alguém, sair correndo, chorar mais um pouco.
Pelo menos tenho a certeza de que o sorriso de Malignan é completamente falso. Não há nada verdadeiro ali. Nem mesmo sua simpatia. Ele está tentando, claro, mas eu sei a verdade.
Malignan não consegue ser simpático com quem não gosta. Já perdi a conta de quantas vezes alguém quis bater nele. É uma das coisas que me deixou apaixonado, confesso.
— E aí, bonitão — digo ao me aproximar dos dois. Até as raízes do cabelo do Mal ficam vermelhas. — Fugiu por quê? Você sabe que eu não mordo.
— Aiden, que merda é essa? — pergunta gaguejando um pouco. Socorro. Eu quero correr e me afogar no lago.
— "Aiden"? Para você é Baixinho. O que vocês estão fazendo juntos? — Franzo a testa.
— Vocês dois são... — SNRF reveza o olhar entre nós dois. — Namorados? — Sua expressão é de um desgosto inacreditável. — Não acredito nisso.
Tomo coragem e faço algo que nunca sonhei em fazer na frente de alguém.
Segurei seu rosto e o olhei nos olhos, envergonhado. Então ele fez algo antes que eu pudesse fazer. Ele me beijou.
— Tudo bem, Baixinho. Nada de te chamar pelo nome, entendi.
Quê.
Quê.
Tipo.
Quê.
Não era isso o que eu esperava. Não queria beijá-lo. E definitivamente não esperava que Mal me beijasse.
— Baixinho? — Mal chama. — Você é dodói da cabeça, não é?
— Eu? Você me beijou! — Meu rosto fica quente ao dizer essas palavras profanas.
— Até parece que você não ia fazer isso.
— Eu ia beijar a sua bochecha, mané.
—Ah. — Malignan fica tão vermelho quanto eu e pigarreia. — Pelo menos nos livramos dela. Menina chata do cacete.
— Boca de bueiro.
Mal ri e passa um braço pelo meu ombro. Consigo sentir seu coração batendo desesperado.
— Pare com isso. As pessoas vão achar estranho — digo, sem querer que ele pare.
— A gente se beijou. Não tem nada mais estranho do que isso — Mal diz sorrindo.
— Correção: você me beijou.
— Você é ridículo.
— E você me beijou.
Você não tem ideia de como eu estou feliz por não ter ficado um clima estranho. Talvez... Mal goste de mim? Sabe, ele me beijou. Ninguém beija uma pessoa que não gosta, né?
Não é totalmente impossível.
Nott disse que Mal está em uma fase de autodescoberta. E então ele me beijou como se fosse a coisa mais normal do mundo. Talvez ele esteja descobrindo que gosta de mim!
Ou eu estou sonhando acordado?
Outro dia eu pergunto.
Agora, nós dois voltamos ao salão. E, não, Malignan não me soltou. Alguns fofoqueirinhos fedidos nos olharam de um jeito estranho, mas só.
Fingimos que não vimos e seguimos até a mesa da Lufa-Lufa, junto dos outros meninos.
— O assunto já chegou aqui? — Mal pergunta.
— Aham — responde Nott. — A corvina amiga do nascido trouxa veio nos contar.
— Que intimidade — observa Ajax. — Vou achar que é verdade.
— O quê? O beijo? Total verdade.
Malignan vira o rosto no mesmo instante em que olho para ele com cara feia. Nossos narizes se tocam, e consigo sentir a respiração dele no meu rosto.
— Quer fazer de novo, Baixinho?
Empurro ele para longe de mim e sento à mesa, sentindo minha cabeça fervilhando. E não de um jeito bom.
— Já chega. Longe demais — resmungo.
— Tá legal, desculpe.
Nott e Ajax continuaram fazendo algumas piadinhas durante o café.
Fiquei em total silêncio porque sabia que se eu abrisse a boca ia ofender alguém.
Minha raiva era tanta ao ponto de me fazer calar a boca. O que é quase impossível.
Malignan estava levando aquilo na brincadeira. É possível que ele tenha me beijado apenas para se livrar da menina, e não porque pensa em mim de um jeito amoroso.
Minha vontade era socar a cara dele.
Não fui encontrá-lo para terminar o feitiço. Ao invés disso, Safira e eu fomos caminhar pelo terreno da escola. Ulisses não quis vir, disse que precisava escrever para sua mãe e que nos encontraria depois.
Safira chegou a perguntar o que tinha acontecido. Falei que foi tudo um engano e que nos beijamos por acidente. Meu coração pesou um pouco mais a cada palavra, e me forcei a fingir indiferença.
Desde que a vi no beco diagonal, sabia que eu poderia sentir alguma coisa por ela. E ela meio que parece me dar bola. Eu posso tentar esquecer que estou apaixonado pelo Malignan com a Safira. Pode ser meio babaca, sim, mas ela é legal. Sei que vou gostar dela de verdade.
Algo no meu bolso faz eu voltar à realidade. Uma realidade onde sei que aquele arrombado nunca vai sair da minha cabeça. Tiro o galeão falso do bolso e ele esquenta a palma da minha mão. Onde havia as informações da moeda agora está escrito: torre à meia-noite.
Malignan conseguiu terminar o feitiço sem mim.
...Continua....
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Atualizado até capítulo 26
Comments
Thomas Matias
AI QUE DELÍCIAAAAAAAAA FINALMENTEEEE
2024-05-10
1
CB👾
Se mata Aiden
2024-03-24
1
CB👾
EU QUERO
2024-03-24
1