Ulisses, Mal e os amigos e eu saímos antes do sino bater. Fui com os meninos até a porta que vai para as masmorras. Mal afagou o meu cabelo e desceu as escadas com os amigos, sorrindo feito um idiota, corri para me juntar a Ulisses rumo aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, no terceiro andar. Não é tão chata essa aula. Poderia ser pior. Poderíamos estar no lugar do sonserinos ou grifinórios, nas masmorras, tendo aula com o Snape.
Snape é diretor da Sonserina. Dizem que sempre protege eles, então Mal, Ajax e Theo estão a salvo, mas o Professor Snape briga comigo e com o Ulisses por qualquer coisinha. Nós, lufanos, não somos tão diferentes. A Professora Sprout nos trata bem melhor do que os outros, mas ela não tira ponto da outra casa por errarem uma pergunta. Ela tirou ponto de um menino apenas uma vez, porque ele meio que fez uma plantinha explodir.
Ulisses e eu chegamos na sala de D.C.A.T primeiro do que os outros alunos. O Professor Quirrell está no fundo da sala, de costas para a porta, conversando sozinho. Ele não bate bem da cabeça. Mal já mandou eu ficar bem longe dele e não fazer contato visual e nem aborrecê-lo, então entro quietinho e sento no meu lugar. Quirrell só nota a gente quando Ulisses tropeça em absolutamente nada e gruda a testa no banco.
Luto contra a minha vontade imensa de rir e ajudo ele a levantar.
— Se machucou? — pergunto.
— Não, tô tranquilo. — Ulisses senta ao meu lado. Agora Quirrell está olhando para a gente, com o mesmo olhar idiota de sempre. Os alunos começam a entrar e ocupar os lugares vagos.
Aula em conjunto com os corvinos. Finalmente. Safira senta na nossa frente, ao lado de uma menina mimada e extremamente irritante e interessada pelo Malignan. Fedelha. Eu até já sei o que eu vou fazer com ela, só preciso por o meu plano em ação.
— O que aconteceu com a sua testa? Parece que você virou um unicórnio. — Safira diz.
— Um vampiro me acertou uma pedrada — Ulisses responde olhando para a SNRF (sebosa, nojenta, ridícula e feia) de um jeito apaixonado. — E, não, não foi o Malignan. — A menina vira para trás ao ouvir o nome do Mal. — Foi um vampiro de verdade, sabia? Eu e ele caímos na porrada.
— Você falou com o Mal hoje? — Meu corpo inteiro treme ao ouvir ela chamar o Mal de Mal. Fecho os punhos e cerro os dentes, imaginando mil e uma formas de mandar essa garota conhecer o capeta. Meus olhos já estão entrando em desfoque quando ouço um grito que me faz voltar ao normal. A SNRF está segurando o próprio cabelo nas mãos, enquanto o resto continua caindo no chão até ela ficar com uma careca tão lisa quanto o meu saco.
Ela continua gritando e logo as lágrimas aparecem.
Eu fiz isso.
Fiz o cabelo dela cair.
Estou orgulhoso.
O Professor Quirrell a levou para a ala médica para tentar restaurar o cabelo. O cabelo da SNRF simplesmente some do chão alguns minutos depois.
— Cara — Ulisses choraminga. — Quem diabos fez aquilo? A minha boneca ficou parecendo um ovo.
— Quem será... — Safira me olha com aquele olhar esperto, de quem sabe exatamente o que aconteceu.
— Quero falar com o Mal — mudo de assunto.
— Faz menos de 10 minutos que vocês se viram — Ulisses retruca.
— E daí? — murmuro.
...☆☆☆☆...
Horas depois, finalmente estávamos livres. Não temos aula à tarde, então Malignan e eu vamos ficar juntos.
Combinamos de nos encontrarmos na biblioteca para estudar. O que significa que vamos conversar e rir e nem encostar nos materiais.
Há poucas pessoas por aqui. A menina Mônica está sentada sozinha num canto, lendo um livro mais grosso do que o meu braço. Uns três corvinos estão do outro lado da biblioteca e dois sonserinos mais velhos estão se beijando atrás de uma prateleira.
Se eu gostasse de ler, esse lugar com certeza seria o meu refúgio. Contém dezenas de milhares de livros sobre milhares de prateleiras e é supervisionada por uma velha chamada Irma. Ela foi muito gentil comigo a primeira vez que eu vim aqui. Só mandou eu calar a boca seis vezes e disse que na sétima vez ela ia me expulsar e eu nunca mais poderia entrar aqui. Mas tudo bem, eu não guardo mágoas.
Procuro o lugar mais longe possível da Madame Irma. Pego tinta, pena e um pergaminho na mochila para pelo menos fingir que estou fazendo alguma coisa. Eu nem tento escrever nada, sei que não vou conseguir me concentrar. Ainda mais quando é Malignan que está vindo pra cá. Se fosse Safira ou Ulisses eu não estaria tão nervoso, mas com o Mal é diferente. Sabe, é o Mal.
Sei que Mal vai demorar um pouco para chegar, então também pego o meu fone e o Walkman. Escoro as costas na cadeira e dou play. Eye of the tiger começa a tocar. Uma das minhas favoritas.
Quando Mal finalmente chega, estou na oitava música. Pauso Put Your Head On My Shoulder de Paul Anka e guardo o fone quando ele senta na minha frente, com um sorriso maravilhoso estampado no rosto.
Não, não posso esboçar nenhuma reação. Não posso olhar de um jeito apaixonado.
Droga.
— E aí, Baixinho — cumprimenta.
— Olá. — Eu preciso urgentemente encontrar algum apelido para ele. — Como foram as suas aulas?
— Não mais interessantes do que as suas, não é? — Mal sorri de um jeito sarcástico.
— O quê?
— A Lory.
— Quem é essa?
Malignan sorri novamente, fechando os olhos um pouco.
— A menina que ficou careca. Lembra?
Ah. Mallory. A menina corvina que gosta do Mal. E o Malignan chamou ela por um apelido. Legal. Parece que ele quer ficar careca também.
— O que você está querendo dizer, Malignan? — pergunto com a voz amargurada.
— Eu não estou querendo dizer nada. É que me contaram que ela falou o meu nome, sabe, e logo depois o cabelo dela caiu. Achei estranho — diz. Mal me olha com curiosidade e eu sinto meu rosto esquentar. Não é possível que Malignan saiba de alguma coisa, né? — Eu fiquei sabendo que a Lory gosta de mim.
— Você pode parar de chamar ela assim, por favor? É nojento. — Falo rapidamente e rapidamente eu me arrependo. Malditos pensamentos que vazam da minha cabeça.
Mal dá de ombros sem desfazer o sorriso. Desgraçado. Eu te mataria se você não fosse tão importante pra mim.
— Tenho uma coisa para você. — O garoto tira algo do bolso da calça e coloca sobre a mesa. Duas moedas bruxas. — Aprendi um feitiço. Quero testar com você.
— Você não vai me meter em encrenca, né?
— Olha, não vamos estar encrencados se ninguém descobrir.
— Malignan...
— É Mal. E confie em mim. Nunca vou deixar nada acontecer com você, Nascido Trouxa. — Mal tira um livro grande da mochila, ele folheia por um tempo, e, quando acha a página certa, coloca-o aberto na mesa. — Feitiço de Proteu. Ele liga dois objetos, no nosso caso, as moedas. Podemos nos comunicar por meio delas, Baixinho. É um feitiço complicado, mas se seguirmos as instruções vai dar certo.
Uma forma de se comunicar com o Mal. Posso mandar uma mensagem para ele quando eu quiser. E daí que pode ser proibido?
É realmente complicado. Mal e eu ficamos horas e horas aperfeiçoando o feitiço. Algumas vezes transformamos a moeda em coisas aleatórias ou mudamos o rosto do bruxo. O livro — que era do Mal, não da biblioteca — ficou todo riscado com anotações e borrões causados pela tinta.
Vários rolos de pergaminhos foram sendo jogados no chão a medida que íamos escrevendo e jogando fora. O mais próximo que chegamos foi conseguir trocar uma letra da moeda por um número que escolhemos. O feitiço ficou ainda mais complicado quando vimos que apenas uma moeda poderia transmitir uma mensagem.
Já passava da hora do jantar quando desistimos. Faltava apenas alguns minutos para a biblioteca fechar, e a Madame Irma estava ficando impaciente conosco. Usamos um feitiço chamado Abaffiato, que Mal aprendeu com a irmã dele, esse feitiço nos permite conversar sem que ninguém ouça. Assim não atrapalhamos ninguém.
Quando o sino bateu, indicando a hora de dormir, juntamos nossas coisas e saímos da biblioteca. Malignan me acompanhou até a escadaria que leva para a comunal. Marcamos de nos encontrarmos às 13h na porta principal do castelo para continuar o feitiço. Nos despedimos com um toque de mão e cada um seguiu o seu caminho.
Passei por alguns alunos na comunal. Eles me deram oi e desejaram uma boa noite. Ao chegar no dormitório me deparo com os meninos discutindo sobre quadribol. Mal adoraria participar dessa discussão, pensei.
— Gente, alguém tem algo de comer aí? — perguntei. Os meninos só disseram que não é voltaram a discutir. Deitei na cama e imediatamente a minha barriga roncou. Então, como magia, apareceu um prato com frutas e coisas do jantar em cima da minha cômoda.
Agradeço a quem seja a boa alma que ficou com pena de mim e me enviou isso.
Meu último pensamento antes de dormir foi a minha mãe e que não lhe escrevi hoje. Mal roubou todo o meu tempo. Não estou reclamando. Se eu pudesse passaria o dia todo ao seu lado. Ainda bem que eu não posso, odiaria que Malignan enjoasse de mim.
...Continua...
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Atualizado até capítulo 26
Comments
Thomas Matias
Sabe como é... É O MAL
2024-05-09
1
CB👾
não tem como enjoar de você
2024-03-24
1
CB👾
Possessivo talvez?
2024-03-24
1