Capítulo 16

...Malignan...

— O que é que você está fazendo aqui?

— Estou indo encontrar a Runa — Nott diz. Ele não está normal, seu rosto está expressivo, corado. Nott está exalando calor. — Cara, eu estou apaixonado. Ela falou que quer namorar comigo.

Tá, definitivamente tem algo estranho. Ouvi boatos sobre Runa Kamari ter pedido ajuda de uma aluna do sexto ano para fazer uma poção do amor para o Nott, mas não achei que isso fosse possível.

— Nott, eu não sabia que você era burro a esse ponto. Que merda você comeu ou bebeu?

— Ela me deu um bombom na aula do Snape. — Nott abre um sorriso todo bobão. Tenho vontade de limpar o chão com a cara dele. — Você acredita? Ela tá tão na minha, cara! Isso significa que eu sou o bombonzinho dela!

Isso esgotou o resto da minha paciência. Antes que eu pudesse controlar os meus impulsos, o meu punho já estava fechado na cara do Nott.

— Seu idiota burro e incompetente!

— Ai! — exclama enquanto coloca a mão no lugar do soco . — Qual é o seu problema?!

— Ah, cara, eu não acredito nisso. — Sento no chão e escoro as costas na parede. — Senta aí. Preciso pensar.

— Não posso. Eu tenho um encontro marcado, e eu juro que vou acabar com você se tentar estragar.

Pensa.

Ok, calma.

Poção, antídoto, Snape. Sala do Snape.

Suspiro fundo e digo:

— Acho que eu vi ela indo lá para baixo, nas masmorras.

Não foi tão difícil convencer Nott a me seguir.

Descemos até as masmorras. Em momento algum Nott parou de falar sobre os olhos, cabelos, corpo e até mesmo os dentes da Runa. Para irritá-lo, comentei que um garoto da Grifinória também está de olho nela e eu quase levei um murro por isso. Nott dissera que iria matar o garoto (mesmo ele nem sabendo quem é).

Obviamente o garoto apaixonado pela Runa não existe. Ela não é do tipo gostável, entende. É uma garota baixa, gordinha, com a cara cheia de espinhas. Até aí tudo bem, porque, né, a aparência não define nada, mas essa maldita é tão maldita que diz em alto e bom som que os nascidos trouxas merecem ir de família Potter. Já vi ela fazer um grifinório de tapete só por ser nascido trouxa.

Runa bate em qualquer um que atravessar seu caminho. Se alguém olhar torto para ela, leva um tapa.

O Nott desgraçado tem o poder de fazer essa ridícula virar gente mas prefere manter distância.

Eu também tenho esse poder. Se ela ousar olhar para o meu garoto com aqueles olhos cheios de maldade... Bom, digamos que ela não vai encontrar o caminho para a comunal com os próprios olhos.

— Já estamos chegando? — Nott pergunta.

— Na verdade, nós já chegamos.

Theodore olha para os lados, procurando a menina. Aponto para a porta de madeira atrás de mim.

— Primeiro vamos fazer algo com esse bafo. Parece que você comeu cocô de Basilísco — digo. Nott franze o nariz e semicerra os olhos. — Ou você quer beijar a sua garota desse jeito? — Ele rapidamente nega com a cabeça. Abro a porta da sala de Poções. — Senta aí, vou pegar o enxaguante bucal.

Nott senta em cima da bancada. Rezo três Aves Marias para que Snape, Filch ou a Gata Fedida não entre aqui antes de abrir o armário de Poções. Os frascos estão separados por cor e a prateleira se divide ao meio, com as poções de um lado e os antídotos do outro.

Obrigado por facilitar a minha vida colocando o antídoto de poção do amor etiquetado como "antídoto para poção do amor", Snape.

Quando me viro para Nott, quase derrubo o frasco no chão. O cérebro de trasgo não está ali. E a porta está aberta.

Não acredito.

Eu nunca vou te deixar esquecer disso, seu filho da puta.

Me apresso para ir atrás dele. Vejo o semblante de Nott virando o corredor que leva às escadas.

Tomara que você escorregue, bata a cabeça e morra de traumatismo craniano.

Fecho a porta sem me importar em fazer silêncio e corro. Seguro o frasco com força. Sorte a minha que Nott sempre foi meio lerdo. Alcanço ele no topo da escada, quase fazendo o meu desejo se realizar. Para fazê-lo parar, tive que me jogar e agarrar o seu calcanhar.

— Me solta! Eu preciso encontrá-la! Ela disse que estaria aqui em cima, seu mentiroso!

Ele tenta me chutar, mas eu puxo o pé dele, fazendo-o perder o equilíbrio e cair de bunda aos meus pés. Sem nenhuma compaixão por esse cabeça de testrálio, forço-o a beber enfiando o líquido na boca dele. Recebi alguns socos como agradecimento, mas tudo bem.

Nott leva as mãos à boca, como se quisesse vomitar.

— Vomite em mim e eu quebro todos os seus dentes — rosno. Theodore encara o chão, ainda com as mãos na boca. — Melhor? — Recebo um aceno de cabeça como resposta. — A Runa é feia, fedida e parece filha de um trasgo.

Nott ri. Sento num degrau e apoio a cabeça na parede. Respiro fundo, aliviado.

Ficamos alguns minutos em silêncio. Já estou quase achando que Nott dormiu quando ele diz:

— Nunca tinha reparado. Runa é idêntica a um trasgo. — Nós dois rimos.

— Tá legal, bombonzinho, vamos para o dormitório antes que nos peguem. — Levo um tapa na cabeça. Levanto do degrau e estendo a mão para ajudá-lo a levantar também.

— Eu te odeio.

— Claro que odeia, bombonzinho.

— Vou te matar.

Mal viramos o corredor para a comunal quando nos deparamos com o Professor Snape parado à nossa frente. Congelamos. Penso em voltar correndo, mas acho que não daria certo.

— Alunos fora da cama — diz, com a voz arrastada.

— Deixa a gente passar e eu não conto para ninguém que o senhor usa um pijama azul — sugiro. Snape me olha como se quisesse me bater.

— Tentando me subornar, Dinsmoore? — pergunta. — Punição para os dois. Por estarem fora da cama e por invadirem a minha sala de aula.

— Invadir é uma palavra muito forte. A porta estava aberta, nós só entramos — Nott diz.

— E por roubarem uma poção — continua. — O que vocês dois estão aprontando?

— Estávamos fazendo algo que definitivamente não é da sua conta — respondo sorrindo, porém cagado de medo.

Snape me encara com os olhos tão negros quanto os meus. Sinto calafrios na espinha.

— Vou acompanhá-los até a sala do Sr. Filch.

Que ódio. Vou fazer picadinho do Nott.

Snape nos faz caminhar à sua frente. Subimos até o quarto andar.

Eu poderia acabar com o Snape. Tenho tantas informações que se fossem descobertas ia dar muita merda. Sorte dele que está fazendo isso comigo e não com o Aiden. Tenta aí, seu comensal nojento de cabelo seboso.

O Professor bate à porta de Filch, que abre em menos de três segundos, ofegante e histérico.

— Alunos fora da cama. Punição — diz Snape. Filch abre um sorriso amarelo e eu só consigo pensar em como odeio a existência do Nott.

— A punição não pode ser amanhã? — pergunta Filch em tom rancoroso. — Estou tentando dormir. — A cara de ódio que Snape faz é impagável. Lembro da música que Aiden mencionou. Você é o diabo disfarçado.

Fomos liberados, mas não sem antes receber uma prévia da nossa punição. Nott e eu teremos que lavar o chão do salão principal no horário do café da manhã, quando todos os alunos estão passando com aquelas patas sujas. Bom, poderia ser pior, né? Poderiam nos obrigar a ir até a Floresta Proibida.

Eles querem que a gente fique constrangido por estar fazendo isso. Não vamos dar esse gostinho a eles. Nott e eu nos divertimos fazendo qualquer coisa. Lavar o chão com sabão escorregadio com certeza não vai ser um problema.

Encontramos Marcus Flint sentado no sofá de dois lugares e Renna Valpuri levantando rápido do chão. Parece que ela estava ajoelhada. Os dois estão com os rostos vermelhos, mas ele além disso parece querer nos matar.

— Sumam daqui — ele esbraveja.

Obedecemos. Corremos para a porta circular que nos leva ao dormitório. Antes de entrar, ouço Renna perguntar:

— Você quer que eu continue?

Não consegui ouvir a resposta dele.

— Boa noite, bombonzinho — digo e deito na cama. Nott atira o sapato dele em mim como resposta.

......Continua......

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