Capítulo 8

Senti como se borboletas estivessem agitando no meu estômago. De repente, tudo o que eu queria era a minha mãe e o Cole. Mesmo assim, entrei na fila, atrás de Mal e na frente de Safira. Ulisses estava logo atrás dela. Saímos da sala, voltamos ao saguão e atravessamos as portas que levavam ao barulho de conversas.

Senti como se estivesse no desenho da Cinderela de 1950, mesmo não sendo nada parecido.

É um salão iluminado por milhares de velas flutuando no ar sobre quatro mesas, todas compridas. Em cima das mesas havia banners de cores diferentes; verde, vermelho, amarelo e azul. As mesas já estavam postas com louças douradas. Eu juro que se isso estivesse nas escolas da minha cidade... Bom, não estariam mais. No fundo do salão havia outra mesa comprida, dessa vez na horizontal, onde adultos estavam sentados. A Professora Minerva nos levou até à frente dessa mesa, mas nós deixando de costas para os professores.

Analisei o rosto dos alunos que olhavam pra gente (e alguns fantasmas, mas estou tentando ignorar eles).

— Baixinho — Malignan sussurrou. —, posso te mandar uma carta mais tarde? Por favor?

Fiquei em silêncio por alguns segundos. Continuei olhando para os rostos enquanto pensava numa resposta que a minha mãe não reprovaria. Por fim, suspirei e disse:

— Tanto faz, Dinsmoore.

Vi ele franzindo a testa pela visão periférica.

— Mal — disse, amargurado.

— O quê?

— Para você é Mal.

Usei todas as minhas forças mentais para não sorrir. Olhei para ele e apreciei seu rosto.

— Olhe para cima — Mal disse, apontando com o indicador para o teto. Pendi a cabeça para trás e vi um teto escuro cheio de estrelas. – É enfeitiçado para parecer o céu.

Nem parecia que tinha algo sobre as nossas cabeças. Eu poderia jurar que o teto do castelo estava faltando no salão.

Abri um sorriso, pensando no quanto a minha mãe gostaria de ver aquilo. Mal posso esperar para contar tudo isso pra ela.

A Professora Minerva atrapalhou o meu momento colocando um banquinho de quatro pernas diante dos alunos. Em cima do banquinho ela pôs um chapéu velho, sujo, capenga e todo remendado. Será que os bruxos não têm maquina de lavar?

Considerando que todos no salão pararam de conversar para olhar aquela coisa, deve ser um utensílio muito importante... né?

Fez-se silêncio por alguns segundos. Eu já estava suando frio quando, pro bem do meu coração, o chapéu se mexeu. Um rasgo se abriu como uma boca. E o chapéu começou a cantar.

...Ah, vocês podem me achar pouco atraente,

...

Mas não me julguem só pela aparência

Engulo a mim mesmo se puderem encontrar

Um chapéu mais inteligente do que o papai aqui.

Podem guardar seus chapéus-coco bem pretos,

Suas cartolas altas de cetim brilhoso

Porque sou o Chapéu Seletor de Hogwarts

E dou de dez a zero em qualquer outro chapéu.

Não há nada escondido em sua cabeça

Que o Chapéu Seletor não consiga ver,

Por isso é só me porem na cabeça que vou dizer

Em que casa de Hogwarts deverão ficar.

Quem sabe sua morada é a Grifinória,

Casa onde habitam os corações indômitos.

Ousadia e sangue-frio e nobreza

Destacam os alunos da Grifinória dos demais;

Quem sabe é na Lufa-Lufa que você vai morar,

Onde seus moradores são justos e leais

Pacientes, sinceros, sem medo da dor;

Ou será a velha e sábia Corvinal,

A casa dos que têm a mente sempre alerta,

Onde os homens de grande espírito e saber

Sempre encontrarão companheiros seus iguais;

Ou quem sabe a Sonserina será a sua casa

E ali fará seus verdadeiros amigos,

Homens de astúcia que usam quaisquer meios

Para atingir os fins que antes colimaram.

Vamos, me experimentem! Não devem temer!

Nem se atrapalhar! Estarão em boas mãos!

(Mesmo que os chapéus não tenham pés nem mãos)

Porque sou único, sou um Chapéu Pensador!

O salão inteiro prorrompeu em aplausos quando o chapéu acabou de cantar. Ele fez uma reverência para cada uma das quatro mesas e em seguida ficou muito quieto outra vez.

Não é nenhum Michael Jackson, mas até que canta bem. Mentira. O cara nem sabe rimar. Isso foi um desastre completo.

— Ele pode ser inteligente, mas não canta bem — Mal cochichou.

Acenei com a cabeça, concordando.

Então só temos que colocar o chapéu. Tão fácil.

A Profa. Minerva então se adiantou segurando um longo rolo de pergaminho.

– Quando eu chamar seus nomes, vocês porão o chapéu e se sentarão no banquinho para a seleção. Ana Abbott!

Uma garota de rosto corado e marias-chiquinhas loiras saiu nervosa da fila, pôs o chapéu, que lhe afundou direto até os olhos, e se sentou. Uma pausa...

– LUFA-LUFA! – anunciou o chapéu.

A mesa à direita deu vivas e bateu palmas quando Ana foi se sentar à mesa da Lufa-Lufa. Segui ela com o olhar, vendo sua animação.

– Susana Bones!

– LUFA-LUFA! – anunciou o chapéu outra vez, e Susana saiu correndo e foi se sentar ao lado da Ana.

– Terêncio Boot!

– CORVINAL!

Desta vez foi a segunda mesa à esquerda que aplaudiu; vários alunos da Corvinal se levantaram para apertar a mão de Teorêncio quando o menino se reuniu a eles.

Mádi-Não-Sei-O-Quê foi para a Corvinal também. Lilá Brown foi a primeira a ser escolhida para a Grifinória e a mesa na extrema esquerda explodiu em gritos, palmas e assovios.

Mila-Alguma-Coisa se tornou uma Sonserina. Eles aplaudiram pouco e apenas algumas pessoas cumprimentaram ela. Que gente ruim...

O menino Justino F-F também foi para a Lufa-Lufa. Um menino chamado Simas foi para a Grifinória depois de ficar um minuto sentado no banco.

— Hermione Granger!

A menina Mônica do trem caminhou depressa até o banquinho e enfiou o chapéu.

— GRIFINÓRIA!

Quando o menino do sapo — Neville — foi chamado, tropeçou e caiu na hora de ir até o banquinho. As pessoas começaram a rir e ninguém tentou ajudá-lo. Saí correndo do meu lugar na fila, fui até ele e estendi a mão.

— Você está bem? — perguntei, sorrindo.

Neville murmurou um obrigado enquanto levantava e foi até o banquinho. Voltei correndo para o meu lugar. Mal me encarou com olhos inexpressivos.

— O que foi?

— Você é bonzinho demais — disse Mal, sorrindo.

— Isso é algo ruim?

— Não sei.

Fiquei em silêncio e olhei para Neville. O chapéu demorou muito tempo, mas finalmente anunciou:

— GRIFINÓRIA!

Neville saiu correndo com o chapéu na cabeça, e teve de voltar em meio a uma avalanche de risadas para entregá-lo a uma garota que eu nem tentei decorar o nome.

Um menino de cabelo quase branco se adiantou quando o chapéu chamou o nome "Draco Malfoy". O jeito dele andar me deixou desconfortável. Andava com o nariz empinado, como se fosse o dono de tudo. Não estranhei quando o chapéu anunciou "SONSERINA" antes mesmo de tocar sua cabeça.

Eu já estava ficando nervoso, achando que meu nome nunca ia ser chamado quando a Professora Minerva anuncia:

— Malignan Dinsmoore!

Não é o meu nome, mas me interessa tanto quanto.

Olhei sorrindo para Mal, mas ele estava com uma expressão de raiva.

— Boa sorte! — desejei. Ele caminhou tranquilo, com as mãos no bolso, muito mais descolado do que aquele Malfoy, e Mal nem precisou se esforçar para isso.

Malignan sentou-se no banco e a Professora Minerva pôs o chapéu na sua cabeça. O chapéu começou a sussurar coisas baixinho, e Mal empalideceu. Logo depois começou a murmurar coisas, e o chapéu murmurou também antes de anunciar:

— SONSERINA!

Fiquei meio decepcionado. Mal não parecia nem um pouco com aquelas pessoas. Ele é bom.

Malignan caminhou devagar até a mesa das pessoas desagradáveis. Nem ouvi o meu nome ser anunciado, pois fiquei encarando-o enquanto ele também me encarava, como se pedisse desculpas por ter sido escolhido para aquela casa. Só percebi que fui chamado quando Safira cutucou a minha costela com o indicador.

Gelei. Meu coração bateu mais rápido e as minhas pernas pareceram chumbo, ficando mais pesadas a medida de que eu ia me aproximando do banquinho.

Sentei, sentindo as minhas mãos tremerem por ter tanta gente me olhando. A Professora Minerva mal colocou o chapéu na minha cabeça quando ele gritou "LUFA-LUFA!". Soltei um suspiro de alívio e os aplausos começaram. Tentei não correr para a mesa de pessoas de rostos amigáveis. As pessoas mais próximas me deram as boas vindas e apertaram a minha mão.

Mas eu só me senti realmente confortável quando espiei para a mesa mais longe de nós. Malignan me olhava com um sorriso enorme e orgulhoso. Ele estava mais feliz por eu ter sido escolhido para Lufa-Lufa do que por ele próprio ter sido escolhido para mesma casa que toda sua família pertenceu.

Mal está feliz por mim, pensei.

Não pude deixar de sorrir para ele, e seu rosto se iluminou. Malignan indicou o chapéu com a cabeça. Olhei a tempo de ver Ulisses sentar no banquinho. Seus olhos se fecharam, como se estivesse esperando receber um tapa. O chapéu demorou alguns segundos, mas gritou "LUFA-LUFA!"

— Cara! Que bom que estamos juntos — Ulisses disse ao sentar do meu lado.

Dois nomes foram chamados antes da Safira.

— Será que ela vem pra cá também? — pergunto, vendo Safira caminhar até o banco.

— Ela se mataria antes que o chapéu terminasse de pronunciar o primeiro "Lufa". A Safira quer muito ir pra Corvinal. Os inteligentes, sabe.

— Achei ofensivo — reclamei e olhei para Safira no banquinho. O chapéu ficou pelo menos dois minutos pensando antes de anunciar "CORVINAL!".

A Professora Minerva agora anuncia o nome "Harry Potter" e o salão se resume a sussurros de curiosos.

— Por que esse garoto é tão famoso? — perguntei para Ulisses, que estava de joelhos no banco para conseguir ver melhor.

— Você está brincando? — Ulisses me olha de um jeito estranho. Ele volta a olhar para o menino e ignora completamente a minha pergunta.

Foco melhor os meus olhos e percebo que é o garoto da estação, que roubou a atenção da minha mãe. Até Mal está olhando para o menino. Isso me deixa revoltado. Quem é o garoto que conseguiu ter a completa atenção do Malignan, e por quê?

O garoto murmura algumas coisas, igual o Mal. Então o chapéu anuncia "GRIFINÓRIA!", e a mesa vermelha explode em vivas, palmas e "Ganhamos Potter!". Os garotos ruivos eram os que mais gritavam. Até os fantasmas estavam felizes por Harry estar na Grifinória. O que diabos esse garoto tem de tal especial a não ser um óculos redondo e um rostinho bonito?

Para tentar ignorar o fato de que o meu amigo estava tão interessado em outra pessoa, analisei os adultos enquanto os últimos garotos eram escolhidos.

Vi Hagrid na extremidade da mesa, tão contente aplaudindo e acenando para o garoto que chegava a ser idiota. No centro da mesa estava a pessoa que mais se destacava. Um velho de, no mínimo, cento e quinze anos, que reconheci de uma figurinha dos sapos de chocolate. Alvo Dumbledore tem os cabelos compridos e brancos, brilhantes como os fantasmas que circulavam por entre as mesas. Mais ao lado vi um professor de pele pálida que usava um turbante na cabeça, um duende e um professor que me deixou arrepiado. A que parecia mais gentil era uma professora gordinha de cabelo curto. Ela sorria e acenava para os alunos da minha casa.

O último garoto foi selecionado para a Sonserina. Ele sentou na frente de Mal e tapou a minha visão dele. Maldito, deixa eu te encontrar na saída (não vou fazer nada, apenas vou te xingar na minha mente e torcer pra você cair da escada). A Professora Minerva enrolou o pergaminho e recolheu o Chapéu Seletor.

Alvo Dumbledore se levantou. Sorria radiante para os estudantes, os braços bem abertos como se quisesse abraçar todo mundo. Parecia que nada no mundo o agradava mais do que ver todos reunidos ali.

– Sejam bem-vindos! – disse. – Sejam bem-vindos para um novo ano em Hogwarts! Antes de começarmos nosso banquete, eu gostaria de dizer umas palavrinhas: Pateta! Chorão! Destabocado! Beliscão! Obrigado.

E sentou-se. Todos bateram palmas e deram vivas.

— Esse é o cara que é diretor de tudo isso? — Perguntei a um garoto mais velho, que usava um broche escrito "Monitor" na veste.

— "Esse cara" é o maior bruxo do mundo. É um gênio. Talvez seja um pouco doido, mas ele é incrível — O garoto sorriu pra mim. — Me chamo Gabriel Truman. Sou o monitor da Lufa-Lufa. — Ele me dá um tapinha no braço.

— Aiden McKane.

Senti cheiro de batata assada. Meu queixo caiu quando olhei para a mesa. Os pratos agora estavam cheios de comida. Nunca tinha visto tanta coisa numa mesma mesa: rosbife, galinha assada, costeletas de porco e de carneiro, pudim de carne, ervilhas, cenouras, molho, ketchup e, por alguma estranha razão, docinhos de hortelã.

Não é que a minha mãe deixa faltar comida em casa, de jeito nenhum, mas ela é a única pessoa que trabalha lá em casa, e ainda precisa pagar as contas e cuidar de duas crianças, então eu sempre me contentei com pouco. Às vezes eu recebia chocolates de vizinhos depois de ajudá-los com alguma coisa, mas tinha que dividir com Cole. Eu não fico irritado com isso, ele é meu irmão mais novo e eu faria qualquer coisa por ele — até mesmo dividir o meu chocolate.

Dou a primeira garfada e estou prestes a levar o garfo à boca quando a cabeça de um fantasma aparece no meu prato. Nem preciso dizer o quão alto foi o meu grito, né? Foi alto o suficiente para a conversa no salão diminuir consideravelmente. E o choro começou tão rápido quanto da última vez.

— Olá, olá! — disse o fantasma, sem se importar se tem um garotinho chorando. — Muito bem-vindos à Lufa-Lufa, jovens! Podem me chamar de Frei.

Eu estava quase xingando o maldito fantasma gordo quando outra coisa me assustou. Mãos seguraram os meus ombros.

— Não se assuste. — A voz de Mal soou calorosa. Tudo o que eu queria era estar a sós com ele, sem esse monte de conversas. — Eu estou aqui, tá legal? Passa pro lado, Abbott. — Ulisses dá espaço pro Mal sentar ao meu lado. Frei Gorducho sai completamente da mesa. Parece estranho, mas eu poderia jurar que ele está vermelho.

— Isso é um absurdo! Um sonserino na nossa mesa! Que escândalo!

— Cai fora daqui, Frei — Malignan diz. O fantasma flutua para longe. — Babaca.

— Mal, você não pode ficar aqui...

— Tá me expulsando, Baixinho?

— Não, não. É que...

— Fique quieto e coma.

— Mas e você? — pergunto. Malignan deu de ombros, mas enquanto fazia isso um prato e talheres dourados apareciam à sua frente.

— Aí está a sua resposta. Agora, coma.

...Continua...

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Comments

~•𝕄𝕠𝕞𝕞𝕪•~

~•𝕄𝕠𝕞𝕞𝕪•~

lufanos são incríveissssss

2024-02-14

1

~•𝕄𝕠𝕞𝕞𝕪•~

~•𝕄𝕠𝕞𝕞𝕪•~

my man...

2024-02-14

1

~•𝕄𝕠𝕞𝕞𝕪•~

~•𝕄𝕠𝕞𝕞𝕪•~

desgraçados, vem cá e casa cmg Nev 😭

2024-02-14

1

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