Ciúmes

Allan narrando

Quando Laura me pediu para não a fazer sofrer, percebi que ali havia ganho a chance de ser feliz. Ela estava me permitindo entrar na sua vida e mesmo que eu não soubesse antes, ali seria para sempre! Me vi apaixonado por Laura sem nem ao menos tê-la beijado, era estranho, mas um estranho muito bom, a forma como tudo era intenso ao lado dela. Ela trazia calma para o meu coração, ao mesmo tempo em que parecia uma própria tempestade prestes a virar minha alma pelo avesso.

- Eu te amo, Laura.

Precisei repetir mais uma vez, mesmo que nos olhos dela fosse possível ver que ela sabia a verdade das minhas palavras.

Fastei uma mecha de seu cabelo para trás e em câmera lenta me aproximei para beijá-la. Seria o primeiro beijo no amor da minha vida e mesmo sendo em um quarto de hospital eu precisava daquilo.

- Boa noite! ops, me desculpe.

O médico entrou na sala e precisei disfarçar minha raiva .

- Tudo bem, doutor André. Já estou me sentindo melhor, posso ir pra casa? Passei o dia sem meu filho estou aflita de saudades dele.

- Eita eita mocinha. Quem diria né, que hoje estaria aqui se acabando de saudades do filho.

O médico examinar ela e parecem bem íntimos e aquilo me deixou bem desconfortável. Depois de um tempo ele fala.

- Olha, Laura! Vou te liberar agora, mas precisa me prometer que vai se cuidar. Sei que ama seu trabalho, mas precisa amar você também. Respeite seu corpo, seus limites, o seu tempo. Você tem um filho lindo em casa, faça por ele o que já te pedi. Volte o tratamento e descanse. Pode me ligar a qualquer hora. Estarei sempre aqui para te ajudar. Não esqueça.

- Eu sei...

- Não se preocupe, doutor. Se já terminou a avaliação e liberou, agora vou levar Laura pra casa, e eu mesmo vou cuidar dela, não será preciso que ela ligue lhe pedindo ajuda. Passar bem!

Laura já estava de pé, peguei em seu braço para apoiar e sai o mais rápido que pude daquele hospital.

- Para, Allan, para.

- O que foi, amor? você tá sentindo alguma coisa?

- Allan eu não vou aceitar isso. Você não me conhece, não sabe a minha vida, não sabe o que vivi e menos ainda quem me ajudou. Você me disse que pediu uma investigação sobre mim mas pelo visto faltaram muitos detalhes. Deveria pedir seu dinheiro de volta.

- Do que tá falando Laura? Não tou entendendo!

- Dessa cena que você acabou de fazer. Eu só te pedi para não me deixar viver tudo outra vez e você prometeu que me faria feliz. Mas você viu o que fez a pouco? como agiu com o dr. André? Ele é importante pra mim, muito mais que um amigo, ele foi um anjo na minha vida e na vida do meu filho. Acha que não percebi seu ciúmes? A forma que olhava como se pudesse matá-lo tranquilamente? Não vou permitir Allan, não vou mais aceitar viver uma relação baseada no medo, na ameaça e principalmente na dor. Eu não preciso passar por isso de novo, e não vou aceitar que trate mal as pessoas que sempre cuidaram de mim apenas por seu ciúme infantil. Eu vivi em um relacionamento abusivo e meu filho foi gerado em um ato de estupro, eu sei o que eu sofri nas mãos daquele canalha e hoje sou capaz de enxergar onde não devo estar. Se quiser realmente tentar e estiver disposto a me ter na sua vida, precisa aceitar que não vai poder me controlar e nem tem direito a exigir que eu me afaste dos meus amigos. Porque eles sempre estiveram presentes ao meu lado, quando eu estava vivendo a escuridão da dor.

Merda! Depois de ler tudo o que o investigador me enviou, não me dei conta de que por instinto, acabei agindo como o ex da Laura. Ele a privou de ter contato com todos porque era mais fácil manipular alguém que não tinha a quem recorrer. Ele a afastou da família e dos amigos para que ela se sentisse sozinha e escolhesse sempre ficar com ele, independente do que ele tivesse feito, porque só ele estava perto dela.

- Desculpa Laura. Não foi minha intenção.

- Sem tantos pedidos de desculpa Allan, já pedi, estou cansada disso.

- Tudo bem, é só que.. que.. Bom...

- É só o que, Allan?

- Ah, que eu sou homem né? E aquele médico não estava te olhando como um amigo olha? Eu sei reconhecer, porque eu te olho da mesma forma, minha pequena!

- Sério Allan? Sério que vai agir feito um idiota e continuar com isso? Se for assim, pra mim já chega tá! Nem começou e já está sendo pior do que eu poderia imaginar.

Ela saiu com tudo da minha frente, atravessou o estacionamento do hospital e seguiu pela rua furiosa e eu saí correndo atrás dela, quando vi o Henrique parando o carro do lado dela e ela entrou.

- Parabéns meu amigo! Você merece o prêmio de otário do ano. Laura, pode indicar o caminho da sua casa, vamos te deixar lá. A Cláudia, que trabalha com você trouxe suas coisas e ligou para seu chefe, ele pediu para você descansar por hoje e que amanhã terá sua folga. Ligue mais tarde, ele parecia preocupado.

- Ah, obrigada Henrique. Nem vi a Cláudia lá no hospital.

- Não se preocupe, ela foi embora logo após o médico ir falar com a gente. Disse que precisava voltar pro restaurante e que você precisava de cuidados e repouso. Chegamos!

- Obrigada, Henrique! Acabei estragando sua noite, não foi minha intenção.

- Não se preocupe cunhada. Allan faz isso há mais de 10 anos e nunca deixei de amá-lo, mesmo assim! Acabei acostumando. rsrsrs

- Já te disse que você é um idiota, hoje, Henrique?

- Também te amo! Vem me dar um beijo vem!

- Eca! Sai daí, para de viadagem!

Laura deu uma gargalhada e conseguiu ficar ainda mais linda, como isso era possível?

Desci e abri a porta do carro pra ela, que usou minha mão como apoio e mal me olhava nos olhos.

- Ei, por favor, me deixa consertar tudo, principalmente o que fiz hoje? Só quero seu bem, Laura. Cuidar de você. Te fazer feliz. Me deixe te amar, Laura.

A puxei para um abraço e fiquei cheirando seu cabelo. Senti quando algumas lágrimas molharam o meu peito e a apertei mais forte.

- Tudo bem , Allan. Estou bem. Só estou cansada e confusa. Me deixe entrar. Prometo que falo com você pela manhã. Só preciso do meu filho agora e um pouco de tempo para me organizar, tudo está uma bagunça aqui dentro.

Ela fala e leva a minha mão até seu peito, me fazendo sentir as batidas rápidas do seu coração.

- Tá certo, meu amor! Me liga se sentir alguma coisa, não importa a hora. Você é minha prioridade Laura. Não esqueça disso!

Ela me abraça outra vez e beija minha bochecha. Fiquei encarando o portão da sua casa por um tempo e Henrique me chamou de volta.

- Que merda, hein Allan! Palhaçada isso! Tá de parabéns, uma briga antes do primeiro beijo? Você realmente atingiu o nível Master!

- Me erra, Henrique! Vai, volta logo pro hotel.

Mesmo que eu quisesse ficar a noite inteira com Laura, eu poderia facilmente ficar ali em pé até ela sair pela manhã, mas eu não podia. Tinha que voltar e tentar descansar um pouco, porque tínhamos problemas gigantescos para enfrentar na farmácia nos próximos dias.

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