Aquela maluca

Allan narrando

Vi que Henrique se assustou e confesso que eu também. Uma maluca no meio da rua na madrugada sozinha. Achei que ela ia tentar nos assaltar, era o que eu precisava para estragar mais ainda minha noite, mas me enganei, não sei dizer, mas a voz dela acalmou meu coração e suas palavras me trouxeram paz. Eu parei de chorar e nem lembrava mais o motivo de ter ficado tão descontrolado.

Olhei pro Henrique e ele tinha um sorriso diferente no rosto. Conheço meu amigo mas não posso decifrar o que ele pensa nesse momento.

- Pode desembuchar logo. Não me diz que quer voltar e ir comer aquela doida? Ela não faz teu tipo, irmão.

- Que? Tá doido Allan! Nem passou na minha cabeça isso, mas que ela é doida isso eu percebi assim que vi ela parando no sinal.

- Então essa cara de abestalhado que você tá fazendo é pelo que?

- Sério Allan? Vai querer negar pra mim que ela mexeu com você? Você parou de chorar na hora que ela abriu a boca, sei que as chances de ver ela novamente são quase nula, mas também sei que você vai desejar que isso aconteça.

- Você bebeu e eu não vi, foi isso? Parei de chorar porque me assustei, até pensei que ela ia tentar assaltar a gente.

- Uhm, finge que me engana e eu vou fingir que acredito.

- Não fode, Henrique! Já tou com problemas demais na cabeça pra te aguentar essa hora. Essa droga de cidade precisava mesmo ser no fim do mundo? Não chega nunca!

- Calma cara, dez minutos e a gente chega no hotel.

Volto a encarar a estrada e a imagem daquela mulher volta na minha mente. Quem era ela? Seu nome? Henrique pode ter razão, eu queria mesmo encontrá-la novamente e quem sabe me perder entre o seu corpo e me emaranhar no seus cabelos. Os poucos segundos que a vi com o vento balançando seus cachos fizeram meu amigo aqui dar sinal. Ela não tem o "perfil" que eu costumo pegar, mas de repente quis tê-la por uma noite.

Isso realmente acontece? Sério que eu posso desejar uma completa estranha e sentir tesão por alguém que eu vi apenas por alguns segundos? Não, não pode. Tem algo errado comigo. Essa maldita cidade só me traz problemas e o pir que não tenho nenhuma puta pra me ajudar por aqui. Vou ter que resolver sozinho quando chegar no hotel e espero que no mínimo tenha uma ducha bem fria porque não vou conseguir dormir assim.

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Henrique narrando

Aquela maluca me deu um baita susto mas confesso que gostei. Allan parou de chorar imediatamente e aquilo me trouxe um alívio. Eu sabia que ia ser difícil pra ele passar pelo local do acidente, mas ele chorou por mais de quarenta minutos e parecia não ter fim. Não falei nada porque eu sabia que ele precisava por pra fora aquela dor.

Vi que ele mudou depois que a mulher falou com ele e não foi só pelo susto ou por achar que ela ia assaltar a gente, depois que ele falou, acho que até eu pensei nisso, mas ela mexeu em algo mais com ele. Será possível que ele tenha se apaixonado por uma estranha que viu por alguns segundos? Hilário. Estranho mas muito bom. Eu já desisti dessa história de amor, mas se meu amigo se apaixonar será uma conquista pra mim.

Chegamos no hotel e vi que Allan tá bem desconfortável, não sei o que aconteceu mas ele parece estar com pressa em ir pro quarto. Assim que a recepcionista entrega as chaves ele pega e some na minha frente subiu pela escada e nem se preocupou com mais nada.

Tou cansado, vou deitar. Amanhã a gente vai cedo na farmácia, preciso verificar as imagens. Ainda não consigo acreditar que Gilberto foi capaz de cometer tal monstruosidade.

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