Sabe que eu não vou

Allan narrando

- Fala seu puto. Onde é a festa hoje?

- Oi cara. Foi mal. Mas não vai rolar festa hoje é sei que você vai querer me matar depois dessa mas eu prometi que só te envolveria em último caso. A gente precisa ir na filial 23.

Esse cara tá louco! Eu não vou lá. Ele sabe disso. Só fui na inauguração porque eu já estava lá mas se pudesse voltar naquele dia, nunca teria escolhido abrir aquela unidade.

- Sabe que eu não vou. Não gaste seu tempo com isso. Seja lá o que tiver acontecido é problema seu. Resolva. Se não conseguir, fecha aquela merd@, não me importa o que vou perder. Mas eu não vou lá.

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Henrique narrando

O Allan é cabeça dura. Temos a mesma idade, na real, nascemos inclusive no mesmo dia. Ele me ajudou muito, estava desesperado aquele dia e não consegui segurar o choro. Ele me ouviu e podia ter zombado de mim ou só mesmo ignorado. Ele decidiu me ajudar sem nem mesmo me conhecer de verdade.

Virou muito mais que um amigo, é meu irmão de alma. Quando o tio Flávio e a tia Marta se foram eu pensei que ele iria também. Tive medo de que ele se perdesse. Eu não ia aguentar. No dia que ele me encontrou chorando no banheiro foi o mesmo dia que enterrei minha mãe, ela tinha câncer e lutou até o fim, nunca conheci meu pai mas também nunca me fez falta. Minha mãe foi suficiente em tudo na minha vida.

Ver o desespero do Allan perdendo os pais dele parecia que abria um buraco no meu coração. Eu conheci aquela dor. Sabia o quanto era difícil. E fiquei do lado dele.

A gente sempre tava junto. Era quem sempre fechava 10/10 pra tudo.

Ele queria cancelar a inauguração da nova unidade. Queria fechar antes de abrir. Mas a gente tinha investido muito. E nem só pelo dinheiro, realmente, pra ele não ia fazer falta aqueles poucos milhões. O cara é cheio da grana e tenho certeza que o colchão dele é forrado com dólar.

Mas é que a unidade era a maior mesmo, em tudo, a quantidade de empregos que a gente gerou naquela cidade nem se compara as outras lojas. Tia Marta nunca deixaria toda aquela gente desempregada e eu não podia deixar o Allan fazer uma loucura dessa.

Prometi pra ele que ia assumir tudo, que não levaria nada sobre aquela unidade pra ele, a menos que fosse um caso extremo, ele me deu plenos poderes, eu decidia tudo, desde tabela de preço a contratação, sem precisar que ele se envolvesse.

Mas quando fugiu do meu controle ele ia ter que intervir. Não era mais só problema administrativo. Tinha muito mais envolvido e ele não ia ficar de fora. Não quando soubesse o que aconteceu.

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- Allan eu não te ligaria se não precisasse de você. Você me conhece cara. Eu não ia te fazer passar por isso, mas...

- Sem mas Henrique. Fecha, fecha essa droga e pronto, acaba o problema. Tou me fud##do pro que aconteceu. Já disse que não quero saber é que eu não vou lá.

- Allan! O gerente tá envolvido com pedofilia e a mãe da criança disse que foi dentro do banheiro da unidade. Tem que ser você cara, sabe que não posso resolver sozinho.

- Put@ merd@! Tem certeza disso? Diz que esse cara já tá na prisão servindo de moça pros bandidos porque eu não sou capaz de deixar ele vivo se o vir na minha frente.

- Ele foi detido, e tudo lá tá um caos. Eu tou arrumando minhas coisas e vou pegar a estrada agora, quero amanhecer o dia já por lá pra ver o que posso fazer. Um escândalo nesse nível na véspera da gente divulgar a expansão pra Argentina seria nosso fim.

- Eu vou com você Henrique, vou ligar lá em casa pra Maria adiantar minha mala e passo pra te buscar na sua casa. Que droga cara! Porr@! Aquele bost@ do Gilberto quer ferrar com minha vida. Sempre essa unidade. Tudo nela me faz sofrer. Me desculpa cara, mas quando isso passar a gente vai fechar, não vou mais deixar essa loja criar problemas na minha vida, ela já me tirou felicidade demais.

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Allan narrando

Não acreditei no que Henrique falou. De tudo de ruim que eu podia imaginar, nunca me passou pela cabeça um funcionário meu cometer um crime dentro da minha empresa. Falei sério quando disse que não deixaria ele vivo se o visse na minha frente. Eu não quero ter filho mas eu sou humano e mesmo negando tenho um coração dentro de mim. Criança é dom divino. De todas as atrocidades que eu já vi, sem dúvida pedofilia é algo que eu abomino com toda minha força.

Não tinha o que fazer. Henrique tava certo. Eu não iria ficar de fora dessa vez. Eu precisava estar presente. Droga. Queria nunca mais pisar naquele lugar. Cada maldita lembrança dolorosa estava de volta. Eu apertava o volante e gritava dentro do carro para tirar aquele ódio e aquela dor de dentro do meu peito.

Quando cheguei Maria estava finalizando minha mala, fui tomar banho e coloquei alguns itens pessoais. Maria cuida da minha casa desde que meus pais casaram, ela é tipo minha avó/mãe.

- Meu filho, você não tinha avisado que ia viajar, o que aconteceu?

-Mãe Maria, senta aqui, pra senhora não passar mal...

- Você tá me assustando. Fala logo menino!

- Vou com Henrique na unidade 23. O maldito gerente tá sendo acusado de pedofilia e segundo a mãe da criança aconteceu dentro da loja. Henrique não pode assumir, tem que ser eu pessoalmente e nesse momento eu só quero poder matar aquele infeliz.

- Pelos céus, Allan. Que horror. Meu menino, sei que você está sofrendo não só por esse crime horrível e nojento mas pela dor que aquela cidade te causa. Sei que vai ser difícil para você ir até lá mas me prometa que vai se cuidar, que vai ficar bem e tudo vai se ajustar.

- Aí mãe Maria, parece que essa dor nunca vai diminuir, voltar lá no meio dessa confusão torna tudo bem pior. Eu vou fechar aquela loja. Não vou mais manter algo que só me causa problemas. Eu não posso resolver os problemas do mundo e os funcionários vão ter que perdoar um dia, mas eu não posso mais manter ela funcionando, dói de mais aqui (aponta pro coração) e eu não posso mais suportar.

- Calma meu filho! Tenha calma e me prometa que não vai fazer nenhuma loucura. Deixe a justiça resolver, porque sabemos bem o que acontece com esse tipo de bandido na cadeia, ele vai pagar, mesmo que seja com a alma por ter feito o que fez.

- Tá bom, mãe, obrigado viu. Agora vou cuidar porque não quero passar muito tempo dirigindo a noite. Vou com Henrique e mesmo sabendo que ele vai querer dividir o tempo de volante comigo não quero passar tanto tempo acordado e pretendo chegar lá antes de amanhecer.

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Passei no Henrique e seguimos, foram quase 5h dirigindo e mesmo que tenhamos trocado de lugar no caminho eu não consegui descansar enquanto estava no banco do carona.

Quando passamos pelo lugar do acidente dos meus pais eu pensei que ia sucumbir.

Henrique olhou pra mim e não disse nada. Não havia o que dizer. Tudo o que eu precisava era do silêncio quebrado pelo choro que estava me engasgando.

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Comments

Graciete Barbosa Silva

Graciete Barbosa Silva

na minha opinião essa abominação é uma das piores fazer mal a uma criança só j3sus na causa

2024-04-05

1

Claudia Ribeiro

Claudia Ribeiro

como deve ser difícil mas ele é forte vai fazer o certo sem prejudicar os funcionários

2024-03-28

3

VagaBond

VagaBond

Mergulhei fundo.

2023-10-25

1

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